Tratando temas regulatórios, pesquisas na área e a possibilidade de produtos à base de Cannabis para saúde animal, pela primeira vez a Cannabis marcou seu espaço na BIO International Convention deste ano em San Diego, na Califórnia.
“Falar sobre Cannabis na BIO foi um marco importante”, afirmou Carolina Sellani, coordenadora do Grupo de Trabalho de Insumos de Cannabis da Abiquifi, Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos, e coordenadora de Assuntos Estratégicos da associação.
Sendo uma questão extremamente relevante e atual, o tema Cannabis foi abordado principalmente em quatro frentes:
- Trocas com o Ministério da Agricultura brasileiro a possibilidade de produtos à base de Cannabis para saúde animal.
- Relevância e atuação do trabalho da Anvisa,
- Importância de pesquisa na área de Cannabis medicinal
- Diálogos sobre o cenário regulatório de Cannabis no Brasil
Conversamos com exclusividade com Carolina Sellani, coordenadora do Grupo de Trabalho de Insumos de Cannabis da Abiquifi, sobre esta participação no maior evento de biotecnologia do mundo e quais ideias que surgiram na por lá e que podem reverberar em ações aqui no Brasil ainda este ano.
Pauta de produtos de Cannabis para saúde animal
Além do tema Cannabis medicinal para a saúde humana, a questão da saúde animal recebeu atenção junto ao Ministério da Agricultura. O ponto alto deste tema é que atualmente o registro de produtos para saúde animal à base de Cannabis é sim permitido.
No entanto, a regulamentação autoriza importações para produtos à base de Cannabis somente de uso humano, não animal, conforme esclarecimentos da Anvisa.
Mas conforme explicou Carolina existe uma iniciativa de trabalho para que a Anvisa autorize importações de produtos de Cannabis para saúde animal:
“Aproveitamos a semana para falar de biodiversidade, de fitoterápicos e a pauta de insumos de origem vegetal, como a Cannabis. E também conseguimos fazer articulações importantes tanto com a frente de pesquisa como a frente regulatória, e conversas com o Ministério da Agricultura sobre a possibilidade de registro de produtos da saúde animal. Começamos lá este trabalho mais a fundo. E a Abiquifi se colocou à disposição e ficou com a responsabilidade de juntar mais informações, e auxiliar dentro do que nos cabe, esta condução de informações da Anvisa e do Ministério da Agricultura. Para também a possibilidade de ter mais dados e mais informações para que eventualmente a gente consiga registrar produtos e medicamentos para saúde animal também”.
“Então esse assunto foi iniciado na BIO. E agora a gente vai conduzir dentro do nosso grupo de trabalho com uma frente desdobrada mais focada em saúde animal. Então acho que acho que esse ponto também foi super interessante e vai dar bastante desdobramentos positivos: tanto para pauta de saúde humana, quanto para pauta de saúde animal”.
Brasil como um player da Cannabis medicinal
Sabe-se que o desenvolvimento de pesquisas no Brasil em relação à Cannabis medicinal avança diariamente, assim como o número de brasileiros que fazem uso dos produtos à base da planta, médicos prescritores e os investimentos de mercado. Neste sentido, Carolina destaca a oportunidade do país na área:
“Ficamos impressionados com o quanto esse tema avançou de 2019 para cá. A Anvisa fez um trabalho excepcional com a criação da RDC 327, todas as melhorias que eles têm conduzido junto com a RDC 660. Sempre trabalhando para aumentar o acesso a produtos e produtos com qualidade e segurança. Fica claro como o Brasil criou uma normativa com um patamar alto a nível global. E isso é uma possibilidade para o Brasil se desenvolver realmente como um player importante com Cannabis medicinal grau farmacêutico. E tem que se posicionado dessa forma. Principalmente quando a gente fala de América Latina. A Anvisa colocou um patamar importante regulatório. Então fica bem claro quando a gente conversa com outros atores: todos reconhecem o potencial desta possibilidade de desenvolver um produto grau farmacêutico com autorização sanitária aqui no Brasil e com o respaldo da Anvisa que é uma agência de referência. Tem todo este peso de um assunto tão sério e importante como a Cannabis medicinal com o respaldo de uma agência tão séria e respeitada como a Anvisa”.
Cannabis para tratamento do autismo
Já sabemos que a Cannabis é considerada como uma das melhores opções de tratamento para o autismo. Principalmente para aqueles pacientes que têm crises de epilepsia. Pois os canabinoides auxiliam a reduzir o número de episódios. O autismo não tem cura, mas com o auxílio da Cannabis acontece uma melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes com esse transtorno.
Nesta perspectiva Carolina relatou a importante visita da Abiquifi à Universidade da Califórnia em San Diego, onde se conheceu uma pesquisa de doutorado com o canabidiol, o CBD, para o autismo severo.
“Foi uma oportunidade interessante para termos mais contato com a pesquisa e a importância do assunto. No Brasil atualmente existem duas pesquisas sendo conduzidas dentro da Anvisa com assunto de CBD. E isso reforça o quão importante é as empresas conduzirem essas pesquisas para termos mais dados e mais robustez sobre o assunto de Cannabis. E assim podendo também migrar, desta norma que eles chamam de transitória, a 327, de um produto de autorização sanitária para uma categoria de medicamento. As pesquisas são essenciais para termos mais informação sobre as indicações terapêuticas”.
Como a BIO Convention reverbera em solo nacional
“Discutimos pautas importantes com relação ao planejamento da cadeia estratégica da saúde no Brasil, para o futuro. A importância de investimentos, do sistema de inovação brasileiro, da melhoria do ecossistema para as startups brasileiras, do florescimento da ciência brasileira como um todo e falamos de biodiversidade, do potencial brasileiro. Além do desenvolvimento de novas moléculas a partir da nossa riquíssima biodiversidade. E esse ano também foi uma oportunidade de discutir um pouco mais também o cenário regulatório da Cannabis. Tanto pela frente de pesquisa e como está o Brasil atualmente com relação ao posicionamento regulatório”, explica Carolina.
Plataforma de conexão da BIO para o setor de biotecnologia brasileiro
Este ano a Abiquifi, em parceria com a ApexBrasil, através do Projeto Brazilian Pharma & Health, foi a responsável pela participação brasileira com o Pavilhão Brasil, contando com a participação de aproximadamente 50 empresas nacionais.
A edição de 2022, após dois anos de pandemia, funcionou como uma grande sinergia entre parceiros nacionais e internacionais para a retomada de desenvolvimento de estratégias do setor de saúde no Brasil. Agora, em solo nacional, espera-se que as ideias nascidas durante a convenção se concretizem.
Por fim, Carolina destacou também que a revista da Abiquifi realizada para o evento contou com o importante artigo escrito por João Paulo Perfeito, Gerente de Medicamentos Específicos, Fitoterápicos, Dinamizados, Notificados e Gases Medicinais da Anvisa, e com a exposição deste conteúdo sobre o cenário da Cannabis no Brasil.