Lesões avermelhadas e descamativas na pele, que se formam (na maior parte dos casos) como placas e surgem principalmente em momentos de grande estresse emocional: essa é a principal característica da psoríase, uma doença crônica, cujas causas ainda não são completamente conhecidas.
Normalmente, a psoríase é cíclica e tem origem genética. Porém, como o conjunto de sintomas é bastante variado, o diagnóstico nem sempre é simples, uma vez que ela pode ser confundida com outras doenças. Proporcionar maior esclarecimento às pessoas e eliminar preconceitos são os princípios do Dia Nacional e Mundial da Psoríase (29 de outubro).
O objetivo da data e das campanhas promovidas em todo o mundo é ampliar a conscientização sobre a doença e alertar seus portadores sobre os principais cuidados para evitar e tratar as suas manifestações.
Quer saber mais sobre a psoríase, seus sintomas e tratamento? Continue a leitura de nosso artigo e esclareça todas as suas dúvidas!
O que é psoríase?
Como explicamos, trata-se de uma doença de pele, cujas causas ainda não são totalmente conhecidas. No Brasil, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a psoríase afeta cerca de 1,3% da população, com presença ligeiramente maior nas regiões Sul e Sudeste (com 1,9% dos casos). Nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste a prevalência é de 0,9% a 1,1%.
No mundo, a doença atinge cerca de 2% da população. Em algumas regiões, como na Finlândia, a incidência é maior, com aproximadamente 2,8%. Em outras, a prevalência é muito pequena. Praticamente não se observam casos em populações esquimós, mongóis e habitantes da região Oeste da África. Os dados são do Centro Brasileiro de Psoríase.
A psoríase pode aparecer em qualquer faixa etária, mas é observada com mais frequência em indivíduos entre 30 e 40 anos ou na faixa entre 50 e 70 anos, tanto homens quanto mulheres. Entretanto, cerca de 15% dos casos surgem na infância.
Ela se manifesta por lesões vermelhas, de forma arredondada, com descamação. Os locais mais frequentemente afetados são mãos, pés, cotovelos, joelhos, couro cabeludo e unhas. Em alguns casos, as lesões podem se espalhar por todo o corpo ou afetar articulações.
Também podem surgir manchas vermelhas, com escamas secas esbranquiçadas, que se transformam em manchas brancas após a melhora do quadro.
Tipos de psoríase
Embora o tipo mais comum seja a psoríase em placa (também chamada de vulgar), com 80% dos casos, existem outras formas de manifestação da doença, como a psoríase gutata (10% dos pacientes) e a eritrodérmica e a pustular (menos de 3% cada uma). Além disso, em 8% a 10% dos casos as articulações também são afetadas, causando a psoríase artropática.
Outros sintomas da doença
Além das lesões (que são bastante evidentes), outros sintomas da psoríase são:
- coceira, queimação e dor;
- as unhas atingidas podem ficar grossas, sulcadas ou amareladas;
- a pele fica ressecada e podem surgir rachaduras, inclusive com sangramento;
- nos casos em que a doença atinge as articulações, pode haver rigidez, inchaço ou mesmo deformações.
Qual a importância do Dia Nacional e Mundial da Psoríase?
Com tantos sintomas diferentes, muitos portadores da doença podem confundi-la com outros problemas, como micoses ou mesmo alergias. No caso da psoríase artropática, é possível que o paciente acredite ter artrite. Com o equívoco, a conduta de tratamento acaba sendo diferente e a doença não é adequadamente tratada.
Além disso, a psoríase é cercada de preconceitos, o que afeta a qualidade de vida e a saúde mental de seus portadores. Ela afeta diretamente a aparência do indivíduo, levantando questões relacionadas à autoestima e aceitação.
Por isso, as campanhas de esclarecimento são essenciais. É importante que as pessoas tenham conhecimento de que, apesar de ser uma doença crônica e sem cura, ela não é transmissível e pode ser tratada. Ou seja, o contato com o paciente não precisa (nem deve) ser evitado.
O que causa a psoríase?
As causas da psoríase ainda não estão totalmente esclarecidas, mas existe um consenso de que, para desenvolvê-la, é preciso ter uma predisposição genética. Além disso, outras características, como obesidade, consumo de bebidas alcoólicas e tabagismo, podem favorecer o seu surgimento.
Como se trata de uma doença autoimune, a psoríase costuma ser desencadeada por alguns gatilhos, como estresse emocional, traumas ou irritação da pele e até uma simples dor de garganta. Acredita-se que ela se manifeste quando os linfócitos T, que são células de defesa do organismo, liberam substâncias inflamatórias, as quais chegam ao sistema de defesa da pele.
A resposta do organismo, nesse caso, é o aumento de proliferação de células, causando a descamação. Ou seja, o processo de formação de um tecido novo ocorre de forma tão acelerada que acaba resultando em uma lesão.
Nos indivíduos predispostos geneticamente, alguns fatores podem contribuir para o surgimento ou piora dos sintomas:
- tempo frio ou seco;
- infecções em outros órgãos do corpo;
- hábitos pouco saudáveis e sedentarismo;
- banhos quentes prolongados;
- uso de sabonetes esfoliantes;
- hábito de coçar ou mexer nas lesões;
- uso de determinados medicamentos, como antimaláricos (por exemplo, cloroquina), anti-hipertensivos (como propranolol e outros betabloqueadores) e lítio (usado para o controle de transtorno bipolar).
O coronavírus pode aumentar a predisposição às lesões?
Embora ainda não existam estudos específicos relacionando a Covid-19 à psoríase, é fato que o estresse emocional é um dos principais fatores que desencadeiam a doença. Assim, é possível pressupor que o isolamento social, o medo do contágio ou mesmo a perda de parentes e amigos em decorrência do coronavírus tenham impacto na manifestação da doença.
Porém, é importante esclarecer que os portadores de psoríase não têm maior risco do que a população em geral ao serem contaminados pelo vírus SARS-CoV-2. De acordo com os dermatologistas que participaram do webinar “Coronavírus em pacientes com Psoríase e Doenças Imunomediadas Dermatológicas”, disponível no YouTube, a doença dermatológica não é considerada comorbidade.
Durante o evento, foram apresentados resultados de diversos estudos demonstrando que o uso de imunomoduladores (usados frequentemente para controle dos sintomas) ou a presença da doença não aumentam o risco para a Covid-19. Também é fundamental ressaltar que não há contra-indicação ao uso de qualquer uma das vacinas disponíveis para prevenção do coronavírus.
A psoríase aumenta o risco de desenvolver outras enfermidades?
Sim. O portador de psoríase tem maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), além de comprometimento de sua saúde mental – isso porque, além de questões relacionadas à autoestima, ainda existe um grande estigma relacionado à doença. Em decorrência disso, não é incomum que surjam quadros depressivos.
Quais os principais tratamentos para o controle da psoríase?
Além da hidratação adequada da pele e da adoção de hábitos de vida mais saudáveis, existem várias alternativas de tratamento. Porém, é importante lembrar que a doença não tem cura; assim, os tratamentos disponíveis têm por objetivo controlar os sintomas ou evitar a sua manifestação.
Tratamento tópico
Trata-se do uso de medicamentos aplicados diretamente na pele, na forma de cremes e pomadas, por exemplo. Normalmente, são utilizados em conjunto com outra estratégia de tratamento.
Comprimidos ou injeções
Para os casos de psoríase grave ou artrite psoriásica, o mais indicado é o uso de medicamentos em comprimidos ou injeções. Eles também são indicados para quadros de psoríase leve, mas resistente a outros tratamentos de uso tópico.
Tratamento biológicos
Para quadros graves da doença, já existem medicamentos aplicados via endovenosa ou de forma subcutânea aprovados no Brasil. Eles são produzidos a partir de organismos vivos (tais como células e bactérias). Sua função é aumentar a resposta imune do organismo.
Fototerapia
O tratamento é feito a partir da exposição das partes afetadas da pele à luz ultravioleta. Com isso, a superprodução de células é interrompida, reduzindo as lesões.
Cannabis medicinal
Essa é uma nova abordagem de tratamento, com resultados bastante promissores. De acordo com estudo publicado no Journal of Life and Environmental Science, os canabinóides (compostos encontrados nas plantas do gênero Cannabis) e os seus receptores no sistema endocanabinoide podem ajudar no controle da produção de células cutâneas, o que contribui para evitar as lesões.
Como é o tratamento com cannabis para psoríase?
Os canabinoides (como o CBD e o THC) são considerados imunossupressores. Assim, eles podem reduzir a resposta imune do organismo, reduzindo a formação de lesões. Isso acontece porque a formação de células do sistema imunológico desacelera, dando tempo para que a inflamação seja controlada e as lesões cicatrizem.
No caso da psoríase, o canabinoide mais utilizado é o canabidiol, ou CBD. Ele interage com os receptores canabinoides CB1 e CB2, que existem no sistema endocanabinoide do organismo humano. Essa interação ajuda a regular o sistema imunológico e inibe as alterações epidérmicas, controlando o crescimento das células.
Os medicamentos podem ser de uso tópico (como cremes, pomadas, óleo ou loções) ou comprimidos, para uso oral. A versão em óleo também pode ser administrada via sublingual. Normalmente, o tratamento alia mais de uma forma de administração do CBD.
O uso de cannabis medicinal é autorizado no Brasil?
Sim, não apenas para a psoríase. Várias doenças (como Alzheimer, Parkinson, artrite, artrose, diabetes, epilepsia, fibromialgia, entre outras), além de transtornos alimentares, autismo e várias outras condições de saúde podem ser tratadas com cannabis medicinal. O potencial terapêutico do canabidiol é muito amplo e a substância tem sido utilizada em diversas situações, resultando em maior qualidade de vida aos pacientes.
No entanto, vale destacar, estamos falando da cannabis medicinal, cujo uso deve ser prescrito e acompanhado por um médico. Apesar de preconceitos relacionados à substância, é preciso ficar claro que ela nada tem a ver com a maconha, utilizada para fins recreativos. Trata-se de um medicamento de uso regulamentado no Brasil.
Atualmente, já é possível comprar produtos com canabidiol em sua composição em farmácias nacionais, desde que exista prescrição para o uso. A autorização foi prevista na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) Nº 327/2019 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Entretanto, a agência reguladora limita os itens comercializados em farmácias e drogarias a apenas aqueles para utilização oral ou nasal. A boa notícia é que a importação, hoje, é mais simples.
Existem efeitos colaterais no tratamento da psoríase com canabidiol?
É importante destacar que os medicamentos produzidos à base de canabidiol não causam dependência nem qualquer efeito colateral. Na forma de uso tópico, como pomadas, óleo ou loções, com aplicação apenas nas lesões, os benefícios são evidentes. Além do uso tópico, existem diversas apresentações para o medicamento:
- óleos e tinturas, administrados via sublingual, por meio de dosador;
- cápsulas
- produtos comestíveis, como guloseimas (pirulitos, balas e chocolates, por exemplo) que contêm a substância em sua composição;
- pós solúveis ou chás, para consumo na forma líquida;
- adesivos transdérmicos;
- vaporizadores para inalação;
- supositórios, indicados especialmente para problemas do sistema digestivo;
- cosméticos, como sabonetes, xampus e cremes, formato bastante utilizado para doenças dermatológicas, como no caso da psoríase.
Como usar a cannabis medicinal no tratamento de psoríase?
Como você percebeu, existem várias formas de administração do medicamento, as quais, inclusive, podem ser utilizadas em conjunto. Por exemplo, um portador de psoríase no couro cabeludo pode usar o óleo sublingual aliado a um xampu; já quem tem lesões na pele pode optar por produtos de uso tópico, além da ingestão da substância.
Para decidir qual a melhor via de tratamento, é preciso conversar com um médico prescritor, que saberá analisar a opção mais indicada em cada caso. Aliás, é importante reforçar que só é possível usar a cannabis medicinal com prescrição médica.
No entanto, muitos profissionais não têm conhecimento do uso terapêutico do canabidiol e acabam direcionando o paciente para os tratamentos convencionais, cujos efeitos, posologia e resultados já são conhecidos.
Esse é um dos grandes desafios à popularização do uso da cannabis medicinal no Brasil. Muitos pacientes poderiam se beneficiar dos resultados proporcionados pela substância, mas acabam não conseguindo ter acesso a ela por desconhecimento dos profissionais de saúde.
Assim, se você ou alguém próximo sofre com as manifestações da doença, que tal procurar um médico prescritor de cannabis para a psoríase? Esse profissional conhece o potencial da substância e acredita que ela pode trazer alívio de sintomas e melhorar a qualidade de vida das pessoas atingidas pela enfermidade.