O portal Cannabis & Saúde conversou com o CEO da Strain Genie, uma empresa que analisa as informações de cada DNA humano e busca na literatura médica informações que sustentem a indicação de cepas personalizadas da planta.
Um dos motivos que fez com que os cientistas deixassem o uso da Cannabis para o tratamento de dor no final, no Século XIX, foi sua imprevisibilidade. Seu efeito chega diferente para cada paciente, e não dava para saber quem realmente iria se beneficiar com a planta.
Somente na segunda metade do Século passado, quando cientistas começaram a desvendar os fitocanabinóides relacionados aos efeitos da planta, como o THC e o CBD, e como eles se relacionam com o sistema endocanabinóide do nosso corpo, que os pesquisadores começaram a entender as diferentes reações diante da Cannabis.
Um exemplo é o gene CYP2C9. Trata-se um pedacinho do nosso DNA que diz para as células produzirem uma enzima desse mesmo nome complexo. Variações nesse gene provocam mudanças na quantidade de enzimas que o corpo produz.
Acontece que essa enzima é justamente a responsável por processar o THC. Isso ajuda a explicar porque o efeito vem rápido e intenso para alguns, e suave e duradouro para outros.
Mas esse é só um exemplo simplista. Cientistas já identificaram cerca de 400 canabinoides e mais de 100 terpenos em diferentes concentrações e combinações, nas diversas variedades de Cannabis. A estimativa é que existam mais de 10 mil cepas diferentes.
Isso sem contar o sistema endocanabinoide e todas as variações genéticas e fisiológicas que tornam cada indivíduo único. Não é à toa que muitos pacientes que começam a se tratar com Cannabis medicinal levam um tempo até descobrirem o óleo e a dose certas.
Desvendar o código da Cannabis requer muito mais informação do que a ciência moderna dispõe. Entretanto, a ciência ainda é a melhor fonte de informação.
Com a popularização de testes genéticos, surgiram também os testes de DNA para Cannabis. Apesar da molécula que compõe nosso DNA ser longuíssima, apenas uma pequena parte, cerca de 0,5%, faz você ser do jeito que é. Nas últimas décadas, pesquisadores passaram a descobrir algumas características nesses pedacinhos de DNA, como o gene CYP2C9, e o que ela representa – a produção da enzima que quebra o THC.
Como esse, existem diversos marcadores genéticos. Assim, testes de paternidade correlacionam marcadores de pais e filhos. Os de ancestralidade, com amostras de diferentes povos. Para os médicos, marcadores conhecidos ligados a doenças, como câncer de pulmão.
É assim no teste de Cannabis.
“Conectamos a pesquisa genética que mostra predisposições para condições médicas à pesquisa sobre canabinoides e terpenos, para que os usuários saibam quais canabinoides e terpenos devem ser focados”, explicou em entrevista por e-mail para o Cannabis & Saúde Nico Reggente, CEO da Strain Genie.
“Um vislumbre do perfil genético de um indivíduo pode fornecer informações significativas que ajudam o consumidor a tomar uma decisão de compra informada”, conta Reggente.
“O objetivo, portanto, é diminuir os resultados negativos e atender mais cirurgicamente possíveis problemas subjacentes que estão fazendo com que os pacientes busquem tratamento baseado em Cannabis.”
Um algoritmo analisa as informações do seu DNA e busca na literatura médica informações que sustentem a indicação de uma cepa de Cannabis.
“De insights sobre a predisposição de alguém a psicose induzida por Cannabis, que informaria um indivíduo a regular seu uso de produtos com alto teor de THC sem contrapartes de CBD, a insights sobre o metabolismo ultra-lento do THC, o que levaria a inebriações cada vez maiores e letargia até 72 horas no futuro”.
Segundo Reggente, o relatório da Strain Genie fornece informações sobre predisposição genética para 17 condições médicas, como Alzheimer, doença de Crohn e Parkinson.
“Somos capazes de estabelecer uma proporção THC: CBD, fornecer informações sobre fatores de forma e destacar os principais canabinoides e terpenos nos quais focar”, afirma o CEO da Strain Genie.
“Por exemplo: aqueles com metabolismo lento do THC devem ficar longe de produtos que passam pelo metabolismo de primeira passagem (ou seja, evitar comestíveis) e escolher sublinguais ou inalantes.”
Assim, com mais de 150 informações coletadas por meio do DNA, formam o que chamam de “coquetel de Cannabis” personalizado e indicam qual a cepa que mais se aproxima disso entre as que estão à venda.
Entretanto, apesar de toda informação ser bem-vinda, sempre é bom ver esse tipo de informação com ressalva e contar sempre com o apoio do médico. A própria empresa deixa claro isso em seu site:
“O Strain Genie se esforça ao máximo para incorporar os procedimentos das publicações revisadas por pares no algoritmo. No entanto, dada a vasta complexidade da ciência do DNA e dos canabinoides, esses insights geralmente podem ser conflitantes.”
“Essas são apenas sugestões baseadas nos dados do usuário e não são de forma alguma representadas ou pretendidas pelo Strain Genie para constituir aconselhamento, diagnóstico ou consulta médica. Todas as sugestões devem ser recebidas ou rejeitadas a critério único e exclusivo do paciente. Strain Genie não faz representações, garantias ou promessas quanto à adequação de qualquer produto específico ou a seus
efeitos sobre você.”
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