Em busca de uma relação mais afetuosa com seus pacientes, a médica Sílvia Pereira da Silva incluiu a Cannabis medicinal em seu arsenal terapêutico
Antes mesmo de ingressar na medicina, Sílvia Pereira da Silva já se interessava por tratamentos alternativos que privilegiassem o uso de substâncias naturais. “Eu fazia cursos de medicina fitoterápica com 14 anos, adorava aprender sobre as plantas, sobre seus usos”, conta. “E quando fiz medicina, percebi que nós, médicos, não somos formados para enxergar o paciente como um todo.”
Natural do Recife e formada pela Universidade de Pernambuco, a médica lembra que, quando começou na profissão, a chamada “medicina alternativa” não era bem vista. “Não tinha nem especialidade, não se dava atenção à medicina ortomolecular, à homeopatia, nada disso.”
Notando a falta de afeto que existe na relação habitual entre médico e paciente, decidiu partir para a medicina integrativa. “Você não usa só medicamentos como tratamento. Muito pelo contrário, às vezes até tiramos algum medicamento e procuramos usar suplementos — os fitocanabinoides e suplementos em geral.”
“A ficha caiu”
A partir dessa busca por uma visão integrada dos pacientes, a médica passou a estudar alternativas possíveis, até que em 2018 iniciou uma pós-graduação em medicina integrativa com o médico Lair Ribeiro. “Comecei a ver que era exatamente tudo que eu sempre quis fazer, desde a época da faculdade”, ela conta. “Hoje tenho muitos caminhos para melhorar a saúde dos meus pacientes, que antes eu não tinha.”
“Lembro que foi em outubro de 2018 que o doutor Lair Ribeiro falou sobre a cannabis. Eu fiquei encantada. Sabe quando a ficha cai? Era o que eu precisava para agregar a tudo que eu estava aprendendo.” Com a cabeça aberta, ela foi pesquisar mais a fundo o uso de medicinal de cannabis, e em 2020, com o fim da pós-graduação, foi a Lisboa participar da CannX, uma conferência internacional dedicada ao uso medicinal da cannabis.
“Eu fui e achei maravilhoso, tinha gente de todo o mundo. Aquilo foi um reforço para mim mesma. Aqui no Brasil ainda há muito preconceito, mas quando cheguei no congresso percebi que o mundo já avançou muito.” A experiência foi um divisor de águas na sua vida. “Quando eu vi os casos, as resoluções, as diferentes patologias que poderiam ser tratadas, foi uma carga a mais de energia. Aí eu comecei a tratar também.”
De volta ao Brasil, a médica passou a pôr em prática tudo que aprendeu. “A cannabis medicinal tem feito maravilhas. Em pouco tempo você já vê os resultados.”
“Doutora, meu filho está mudando muito”
Entre suas primeiras experiências com o uso de cannabis medicinal, a médica relata uma paciente com Alzheimer. Muito agressiva e inquieta, a idosa não conseguia interagir com a família, relutava em comer e tomar banho e acabava muitas vezes se machucando quando alguém tentava ajudá-la. Sílvia conta que, em pouco tempo de tratamento, a filha da paciente entrou em contato para comemorar a evolução da mãe. “Mamãe está super tranquila”, disse a mulher, “Ela está ‘voltando’ pra gente. Está outra pessoa. Quanto tempo ela não dizia que eu era a ‘menininha’ dela”. Ajustando a dosagem, a idosa foi melhorando ainda mais, passou a dormir melhor, se alimentar com tranquilidade e aceitar ajuda nas tarefas mais difíceis.
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Outro caso que marcou Sílvia foi de um menino autista de 13 anos, que já tinha usado cannabis medicinal, mas sem resultado. Também muito agressivo e hiperativo, o menino teve de ser atendido fora do consultório, pois corria o risco de se machucar e machucar os outros. “Eu entendi a dificuldade da mãe”, conta Sílvia. Ela ajustou a dosagem do óleo de canabidiol e o menino começou a responder ao tratamento muito rapidamente. “Em poucos dias a mãe me ligou, acho que foi uma semana, no máximo 10 dias depois.”
“Doutora, meu filho está mudando muito”, contou a mãe, empolgada com a evolução. “Estou conseguindo ir para a praça com ele, ele brinca com outras crianças, pede as coisas tranquilamente.”
Tratamento para toda a família
Acostumada a enxergar seus pacientes de forma integrada, a médica observa que o tratamento de casos graves como os relatados podem ser uma virada na vida de muitas famílias. “Todos já estão estressados, angustiados. Muitas vezes as pessoas não conseguem dormir direito, estão acima do peso pois comem muito por conta da ansiedade, outros perdem o emprego. Então quando você trata um paciente, acaba afetando positivamente toda a família”, explica Sílvia.
“Como eles dizem: ‘Doutora, a gente veio tratar um e a senhora tratou cinco de uma vez só’. No final toda a família se beneficia”.
“Percam o medo”
Entre os casos mais comuns tratados por Sílvia Pereira da Silva, estão pacientes com Alzheimer, Parkinson, epilepsia, autismo, depressão, insônia, ansiedade, síndrome do pânico, dores crônicas, enxaquecas, além de pacientes com obesidade que buscam emagrecer. “E acredito que no futuro muitas outras doenças poderão ser tratadas com a cannabis medicinal”, prevê a médica.
Com tantas experiências de sucesso no uso de cannabis medicinal, Sílvia Pereira da Silva deixa um recado para pacientes e colegas que ainda relutam em seguir o tratamento. “Eu diria que a cannabis foi deixada por Deus, e o homem por muito tempo usou de forma errada. A forma correta é estudar, pesquisar. Afinal, trata-se de uma substância natural, que pode ser usada para restabelecer a saúde de nossos pacientes. Percam o medo, pesquisem, estudem e entendam que a medicina do canabinoide funciona e que o ser humano pode usá-la para manter sua saúde.”