Envelhecer não deveria ser visto como um fardo ou algo negativo, mas sim como o resultado de uma vida longa e cheia de experiências. Há um ditado uruguaio que diz “Como es lindo el paso del tiempo”. A frase tem sintonia com o fato do país vizinho apresentar uma das mais altas expectativas de vida da América Latina e do Caribe, 77 anos.
Já aqui no Brasil, segundo o IBGE, a nossa expectativa de vida é de 76,4 anos. Nesse sentido, o Distrito Federal apresenta a maior expectativa de vida do Brasil, 79,7 anos.
No entanto, para muitos, envelhecer continua associado a doenças, limitações físicas, dores crônicas e um declínio geral da saúde. Mas esta percepção, que pode ser desencorajadora, está mudando.
Embora o envelhecimento seja um processo inevitável, ele não precisa ser sinônimo de sofrimento ou de uma vida debilitada. A relação entre well-aging, conceito conhecido como o bom envelhecimento, e a Cannabis é um campo promissor, no qual produtos à base da planta podem potencialmente oferecer benefícios significativos para a saúde. Entretanto, é essencial que qualquer tratamento seja feito sob a orientação de profissionais de saúde.
Como contar com a Cannabis para que o passar dos anos seja vivido com saúde, vitalidade e alegria?
Para responder essa pergunta, conversamos com o neurologista Dr. Marcos José de Mello Prandine, diretor médico da TegraPharma, com o ortopedista Dr. Marcos Dias, com a geriatra Dra. Camila Sampaio Santos e com a médica multiespecialista, Dra. Viviane Ferreira de Campos Poinsignon.
“Ouvi uma pessoa falar que queria morrer com saúde. Achei muito verdadeiro. Pois sei que o organismo tem um fim, mas quero estar saudável nesse momento e não cheio de problemas pendurados. E é aqui a ação da Cannabis: evita a inflamação e o estresse oxidativo, que é o que destrói as nossas células. Vale lembrar que toda pessoa que tem dor crônica sofre. E como a Cannabis proporciona o alívio da dor, ela também traz mais alegria, trata a ansiedade e a depressão. Melhora a cognição, o humor e a qualidade de sono”, avalia Dr. Prandine.
Cannabis no alívio da dor e da inflamação
Portanto, muitas condições que afetam as pessoas com idade avançada, como artrite e fibromialgia, causam dor crônica. A Cannabis, especialmente o Canabidiol (CBD), tem propriedades analgésicas e anti-inflamatórias, que podem ajudar a reduzir a dor, sem os efeitos colaterais indesejados de muitos medicamentos tradicionais.
“O Canabidiol é um grande modulador dos nossos sistemas, desde o sistema nervoso central, mas também do sistema nervoso periférico. Além disso, ele também tem receptores nas grandes e pequenas articulações do corpo, assim como em toda a musculatura e na coluna vertebral. Partindo do princípio de que essas regiões do corpo, chamadas de regiões músculo esqueléticas ou articulares, têm receptores endocanabinoides, a terapia com os fitocanabinoides terá ação nessas regiões e vai modular processos inflamatórios contínuos e crônicos. Esse é o principal fator”, explica o médico ortopedista, Dr. Marcos Dias.
Neste sentido, o artigo The role of cannabidiol in aging mostrou que o CBD impacta diretamente no processo de envelhecimento, diminuindo o estresse oxidativo, sendo mais eficiente do que as vitaminas E e C para esse propósito.
A interação do canabinoide com o sistema endocanabinoide desencadeia uma série de processos fisiológicos, que buscam equilibrar a função celular. O Canabidiol ajudaria a regular as funções das mitocôndrias, as vias de sinalização Nrf2 e a via da glioxalase.
Ainda nesta linha de racioncínio, a geriatra Dra. Camila Sampaio pontua que pacientes com dores crônicas, principalmente com fibromialgia, respondem muito bem à terapia canabinoide.
“Particularmente, eu uso em pacientes com dores crônicas óleos. São à base de Cannabis, balanceados, ricos em CBD E THC. Isso porque a associação das duas substâncias causa um efeito mais relaxante e uma analgesia maior”.
Mas e o envelhecimento do cérebro?
Em relação ao envelhecimento do cérebro, a Cannabis também tem recebido atenção crescente, pelo seu potencial de proteção neurológica. O envelhecimento do nosso cérebro envolve uma série de mudanças biológicas, incluindo a diminuição das capacidades cognitivas, a perda de memória e um aumento no risco de desenvolver doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson.
Estudos científicos já mostraram que a Cannabis protege o cérebro e promove formas mais lentas de lesão, como na doença de Alzheimer e na esclerose múltipla. “A resposta é individual, cada pessoa pode reagir de uma maneira”, explica Dra. Camila. Ademais, a médica justifica que para que a ação neuroprotetora dos fitocanabinoides ocorra de forma precisa e assertiva, é fundamental o acompanhamento médico, devido às dosagens dos produtos à base de Cannabis.
Nesse contexto, uma pesquisa feita por cientistas da Universidade do Colorado, nos EUA, sugeriu que o uso de Cannabis pode trazer benefícios para o envelhecimento do cérebro. Pessoas com mais de 60 anos, que relataram usar Cannabis, apresentaram maior conectividade entre regiões do cérebro do que não-usuários.
“Tenho tido bons resultados com pacientes com demência que fazem uso de óleo de Cannabis. Porém, tem que se deixar claro que não existe cura com a Cannabis. Dependendo da fase em que o paciente se encontra, ela pode ajudar a estimular mais, pode melhorar o comportamento de irritabilidade, agressividade ou apatia. E pode melhorar o sono, a agitação motora e às vezes diminuir a progressão da doença”, pontua Dra. Camila.
Potencial antienvelhecimento da Cannabis para a pele
Outro ponto apresentado pela médica Multiespecialista, Dra. Viviane Ferreira de Campos Poinsignon, é sobre o potencial da Cannabis em contribuir neste conceito de well-aging. “A gente já sabia que o CBD era um importante antienvelhecimento, pois realiza a homeostase, faz a célula funcionar como deveria e diminui o processo inflamatório. Então por si só ele já contribui para o well-aging, o que significa que a gente envelhece com qualidade”.
Segundo a Dra. Viviane, que realiza pesquisas na área, a grande novidade está no potencial do THC para contribuir com o well-aging da pele, atuando nos fibroblatos, células vitais para a regeneração e manutenção da pele.
“O principal diferencial para a pele no well-aging são os fibroblastos. Quando a gente tem um processo de inflamação alguns fibroblastos morrem e muitos dos que sobram viram fibroblastos zumbis, que podem aumentar o processo inflamatório e piorar o envelhecimento. Já sabíamos que o CBD era superinteressante nesta diminuição de processo inflamatório e na nossa longevidade.De fato, sozinho, ele atua na diminuição da ação inflamatória. Mas viu-se que a ação do THC também protegia os fibroblastos, pois o THC não deixa o fibroblasto deformar nem diminuir sua função, mantendo bem seu trabalho”.
Cannabis no tratamento da insônia
Entre os profissionais, foi unânime o destaque do potencial dos fitocanabinoides no tratamento da insônia em pessoas com mais idade. Afinal, este é um problema comum entre os idosos, afetando cerca de 50% das pessoas com mais de 65 anos.
“A Cannabis é um ótimo regulador do sono e regularizando o sono vive-se melhor”, pontua Dr. Prandine.
Basicamente, a insônia se relaciona com diferentes patologias, que podem prejudicar o bom envelhecimento do corpo. Além disso, impacta a qualidade de vida, levando a cansaço, irritabilidade, dificuldade de concentração e aumento do risco de quedas e problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade.
“A Cannabis não vai agir apenas em um local, porque praticamente todas as células do corpo têm em sua membrana plasmática receptores para Cannabis. Apesar de o objetivo inicial ser a melhora de uma dor crônica, por exemplo, ela vai agir também no sistema cardiovascular, no sistema nervoso central, no sistema nervoso periférico e assim por diante. Pessoas idosas podem ter melhora da qualidade de vida, do sono, do humor e do apetite. A qualidade do sono melhora através do Canabidiol, devido ao efeito ansiolítico, porque ele não é um sedativo – exceto que esteja em dose muito elevada. Já o poder de melhora do sono do THC é inerente à própria substância. Ele, sim, é um pouco mais sedativo. A estratégia que costuma-se utilizar é: contar com o THC para a indução do sono, ou seja, fazer o paciente dormir. E o Canabidiol na manutenção do sono, ou seja, manter esse sono de qualidade ao longo da noite”, finaliza Dr. Marcos.
Cannabis não é mais um medicamento apenas para velhos
“Hoje nós sabemos que a partir dos 35, 40 anos, começa um processo de envelhecimento no nosso organismo, então, por que esperar chegar aos 60 para você começar a pensar no tratamento com Cannabis?”.
Ainda segundo o Dr. Prandine, afirmar que os produtos à base de Cannabis são voltados ao tratamento de pessoas com idade avançada é uma visão que está ficando para trás entre profissionais da saúde e pesquisadores da terapia canabinoide.
“Atualmente, começamos o tratamento com pessoas de 30, 40 anos, com doses baixas de Cannabis, onde já se está prevenindo a inflamação e prevenindo o estresse oxidativo. Toda essa visão preventiva com a Cannabis é muito importante. Nós começamos a atuar para que, quando a idade mais avançada chegar, o paciente esteja saudável”.
𝗜𝗺𝗽𝗼𝗿𝘁𝗮𝗻𝘁𝗲: O acesso legal à Cannabis medicinal no Brasil é permito, mediante indicação e prescrição de um profissional de saúde habilitado. Caso você tenha interesse em iniciar um tratamento com canabinoides, consulte um profissional com experiência nessa abordagem terapêutica.
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