Também há a interferência de diversos fatores como padrões de uso recreativo de Cannabis, exposição a canabinoides, idade, sexo, histórico familiar e genética. Apesar dos frequentes desfechos negativos associados a maior exposição ao d9-THC (delta-9-tetrahidrocanabinol), o principal constituinte intoxicante da planta, as evidências sugerem um grande potencial para o uso de CBD (Canabidiol) e produtos contendo CBD no tratamento de pelo menos alguns sintomas e condições psiquiátricas.
É de suma importância considerar que pacientes com transtornos psiquiátricos buscam ativamente intoxicação, além de uma forma de aliviar a angústia e significativo sofrimento psíquico e, portanto, escolhem produtos com alto teor de THC, o que provavelmente terá um impacto negativo em sua saúde mental (Sagar, Kruber, 2025, Dhein, 2020).
Não há dúvidas no meio científico de que o impacto negativo é maior em adolescentes. Numerosos estudos observam que o uso de Cannabis pode alterar o desenvolvimento do córtex cerebral, o centro do cérebro responsável pelo raciocínio e funções executivas, representando um risco para os jovens cujos cérebros ainda não amadureceram. O uso de maconha na adolescência está associado a dificuldades de pensamento, resolução de problemas e memória reduzida, além de um risco de dependência a longo prazo.
Pacientes adolescentes depressivos, ansiosos ou com ideação suicida podem usar Cannabis como uma forma de aliviar seu sofrimento. No entanto, o uso de Cannabis provavelmente piora os sintomas depressivos e suicidas, piora a capacidade de auto-regulação emocional, resolução de conflitos, déficit neuropsicológico e expõe a maiores riscos, como demonstrado no estudo publicado na JAMA que pesquisou desfechos de adversidades psicossociais relacionadas ao uso de Cannabis em 68.263 adolescentes (Sultan et al, 2023, Gobbi et al, 2019).
Mais pesquisas são necessárias para afastar a avaliação dos efeitos da “Cannabis” como se fosse uma substância única
Em vez disso, a pesquisa que examina as influências de fatores individuais poderia eventualmente ser usada para criar um algoritmo para gerar uma análise de risco/benefício baseada em evidências, adaptada a cada indivíduo, (Sagar, Kruber, 2025), principalmente porque conhecemos os riscos psiquiátricos da herdabilidade (Brainstorm Consortium, 2018). Conhecendo os riscos do uso recreativo em adolescentes para os transtornos mentais, juntamente com os riscos de história familiar, mas também os benefícios do potencial terapêutico para o alívio de ansiedade e a segurança da via de administração sublingual, é possível oferecer esta valiosa ferramenta terapêutica, a fim de promover mais qualidade de vida, saúde mental e assim, reduzir a demanda de intoxicação desta população, considerando que, com alívio
de sintomas, poderão buscar outras atividades mais prazerosas, como a prática de atividade física, por exemplo, promissoras para o cérebro, ativadoras de endocanabinóides e menos arriscadas para seus cérebros em desenvolvimento (Masataka, 2029, Skelley, 2019, Pereira, 2024).
Referências
- The Complex Relationship Between Cannabis Use and Mental Health: Considering the Influence of Cannabis Use Patterns and Individual Factors.
- Nondisordered Cannabis Use Among US Adolescents – PubMed
- Association of Cannabis Use in Adolescence and Risk of Depression, Anxiety, and Suicidality in Young Adulthood: A Systematic Review and Meta-analysis – PubMed
- Different Effects of Cannabis Abuse on Adolescent and Adult Brain – PubMed
- Analysis of shared heritability in common disorders of the brain – PubMed
- Anxiolytic Effects of Repeated Cannabidiol Treatment in Teenagers With Social Anxiety Disorders – PubMed
- Use of cannabidiol in anxiety and anxiety-related disorders – PubMed
- O Impacto da Prática de Atividade Física na Neuroplasticidade – Juliana Gomes Pereira | Hotmart
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