O esporte é parte da história humana desde, pelo menos, 4.000 a.C., quando se encontrou o mais antigo registro a respeito de uma modalidade esportiva. Sua profissionalização, no entanto, foi formalizada em 779 a.C., com a estreia dos primeiros Jogos Olímpicos. Mas as mudanças causadas pela industrialização e o capitalismo foram responsáveis por tornar o esporte como é hoje: uma indústria bem-sucedida e, mais que isso, um direito de todos.
Inevitavelmente, foi necessário criar regras para o esporte, principalmente entre os atletas de alto rendimento, que buscam, acima de tudo, bons resultados por terem a prática esportiva como profissão e serem representantes de seus países. Uma das normas foi a proibição do uso de substâncias que infringissem algum dos seguintes três critérios: pudessem melhorar o desempenho esportivo, trouxessem risco de saúde ao atleta e violassem o espírito do esporte. A Cannabis, na virada do século XXI, foi incluída nessa lista.
No entanto, com as novas pesquisas científicas e regulamentações em torno da planta, percebeu-se que suas propriedades terapêuticas poderiam ser benéficas aos atletas, e não prejudicial como discursavam. Assim, instituições como a WADA (Agência Mundial Anti-doping), que aplica os testes antidoping para as substâncias banidas em competições mundiais, e outras ligas esportivas, como o UFC, passaram a permitir o uso de CBD, um dos fitocanabinoides mais estudados da Cannabis, que tem diversos benefícios medicinais e que, diferente do THC, não é psicotrópico. Essas regras atuais possibilitaram o surgimento de um novo mercado: de produtos à base da Cannabis voltados ao esporte.
Com todos os avanços dentro do mercado da Cannabis, os produtos voltados ao esporte combinam os fitocannabinoides com outras substâncias não-cannabicas para criar a sinergia certa durante a prática da atividade física. E esse acesso fácil aos produtos levou a muita confusão sobre a permissão da utilização dos produtos a base de Cannabis dentro da alta performance e o que poderia levar a uma eventual penalidade por doping. No site da WADA, encontramos que, desde 2018, o Cannabidiol (CBD) foi removido da Lista Proibida, permitindo que atletas que desejem fazer uso do CBD possam ter acesso ao componente não-psicoativo da Cannabis.
Agora, mais recentemente, o THC também sofreu uma revisão da política de proibição.
Extraí direto do site da WADA, o seguinte trecho:
“Todas as publicações científicas e médicas existentes relacionadas com o THC foram revistas pela LiEAG, bem como testemunhos de atletas que foram/são consumidores de Cannabis e pesquisas publicadas de todo o mundo. Esta revisão da literatura científica foi posteriormente discutida com quatro especialistas externos independentes de renome mundial, especializados em farmacologia, toxicologia, psiquiatria e propriedades comportamentais do THC e dos cannabinoides, para garantir que todas as publicações relevantes fossem incluídas e que todos os aspectos científicos e médicos relevantes fossem incluídos também. No que diz respeito ao critério do espírito desportivo, a LiEAG consultou o Grupo Consultivo de Especialistas em Ética da WADA, que continua a considerar que o consumo de Cannabis, neste momento, é contra o espírito desportivo numa série de áreas listadas no Código.
O THC é proibido apenas em competição e somente quando a concentração urinária excede o limite de 150 ng/mL. Este limite foi aumentado em 2013 de 15 ng/mL para 150ng/mL (10x mais!). Como tal, o elevado nível de Cannabis necessário para desencadear um Resultado Analítico Adverso em competição hoje seria consistente com um atleta com deficiência significativa ou um utilizador frequente.
Além disso, a inclusão da disposição ‘Substância de Abuso’ no Código de 2021 reduziu significativamente a duração da suspensão de potenciais dois (ou mesmo quatro) anos anteriores, para um mês em atletas que podem estabelecer que o uso de THC ocorreu fora da competição e não estava relacionado ao desempenho esportivo.
O Diretor Geral da WADA, Olivier Niggli, disse: A questão de como o THC deve ser tratado num contexto desportivo não é simples. A WADA está ciente da diversidade de opiniões e percepções relacionadas com esta substância em todo o mundo, e mesmo dentro de certos países. A WADA também está ciente de que os poucos pedidos de remoção do THC da Lista Proibida não são apoiados pela análise minuciosa dos especialistas. Estamos também conscientes de que as leis de muitos países – bem como as amplas leis e políticas regulamentares internacionais – apoiam a manutenção da Cannabis na Lista neste momento.
“A WADA planeja continuar a investigação nesta área em relação aos potenciais efeitos de melhoria do desempenho do THC, ao seu impacto na saúde dos atletas e também em relação às percepções da Cannabis por parte de atletas, especialistas e outras pessoas em todo o mundo”.
Ou seja, CBD é liberado e THC é tolerado! Fica a reflexão que estamos vivendo um momento de transição, onde a proibição é revisada e leva a uma flexibilização para que seja tolerado. E, claro, com as devidas pesquisas científicas, estudos clínicos e artigos embasados na ciência poderemos afirmar e entender melhor como a Cannabis pode afetar positivamente a performance dos atletas.
Enquanto isso, sigo aqui nos meus estudos empíricos e supervisionados pelos médicos que me apoiam e me dão todo o suporte para continuar crescendo. Um obrigado mais que especial ao Dr. Guilherme Nery e Dr. Roberto Beck por estarem sempre ao meu lado, me orientando e me ajudando nessa jornada coletiva!
Links de referências:
https://www.wada-ama.org/en/news/wada-executive-committee-approves-2023-prohibited-list