Todos os anos, celebramos em 26 de junho o Dia Internacional Contra o Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas. A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu esse dia para fortalecer a ação e a cooperação para lidar com a questão complexa que é o abuso de drogas em todo o mundo.
Essa data foi escolhida em 1987, uma época em que a Cannabis era considerada uma substância perigosa e portanto era proibida. Hoje em dia o contexto da planta mudou, sabemos que ela contribui em vários tratamentos para a saúde e em alguns locais ela é regulamentada para vários usos, como o medicinal, industrial e adulto.
Falar sobre Cannabis nesse dia é fundamental. Primeiro, porque a planta tem potencial para complementar o tratamento para dependência química e abuso de substâncias. E, também, para esclarecer o abuso e o vício na maconha.
Maconha vicia?
Na nossa página no Instagram, o Dr. Mario Grieco respondeu a essa questão no quadro “Doutor Responde”. Ele lembrou que, respeitando a dose recomendada pelo médico, o potencial para abuso é baixo. Quando um profissional da saúde prescreve um produto com Cannabis, ele deve fazer um acompanhamento junto ao paciente para ajustar a dose e obter o máximo de benefícios possível sem trazer efeitos adversos. Geralmente, não é uma dose capaz de deixar a pessoa “chapada”.
No entanto, o uso adulto da planta, principalmente com variedades ricas em THC, pode levar uma parcela baixíssima dos consumidores ao abuso. Dr. Mario mencionou esse estudo que identificou um potencial para 8% dos que usam Cannabis a fazerem o uso abusivo. Podemos dizer também que 92% das pessoas poderiam usar Cannabis a vida inteira sem desenvolver qualquer relação de vício. É um potencial baixo para dependência se comparado a outras substâncias, como nicotina (67,5%), álcool (22,7%) e cocaína (20,9%).
Portanto, ao fazer uso medicinal da Cannabis, é importante seguir com rigor as orientações do médico quanto a dose e seus horários.
A Cannabis como “porta de saída” para outras substâncias
A interação dos canabinoides produzidos pela planta com o sistema endocanabinoide no nosso corpo é a explicação para os tantos benefícios que a Cannabis pode trazer para a nossa saúde. Surpreende que esses canabinoides, que já foram vistos como uma ameaça, são uma alternativa para pessoas que querem se ver livres do uso abusivo. É o caso do Bruno Olimpio, que conseguiu superar o vício em álcool e cocaína com auxílio de óleo de CBD e THC. O próprio Bruno afirmou na reportagem que “dizem que a Cannabis é porta de entrada para as drogas, eu digo que, para mim, a Cannabis foi uma porta de saída da dependência química.”
Mais do que casos isolados, temos estudos aprofundando esse tema. Nesse sentido, cientistas brasileiros nos dão orgulho ao analisar o potencial dos canabinoides no tratamento de pessoas com transtorno por abuso de substâncias. Conversamos com um deles, Renato Filev, que é coordenador científico da Plataforma Brasileira de Política de Drogas e colaborou em pesquisas na área.
Cannabis no combate ao abuso de drogas
Renato colaborou com os pesquisadores João Fernandes e Thiago Fidalgo para fazer o artigo Cannabinoids for Substance Use Disorder Treatment: What Does the Current Evidence Say? Ele ressaltou que as melhores ferramentas para combater o uso abusivo de substâncias são medidas preventivas.
“Ferramentas para combater o uso abusivo, eu acho que primeiro é a informação. Primeiro a informação, a orientação para a prática de uso menos nocivo, com redução de danos. A segunda é a oferta de substâncias de qualidade sem adulterantes, sem contaminantes que possam prejudicar ainda mais a vida da pessoa que faz o consumo. Eu acho que um acolhimento sem estigma também, ele é importante para as pessoas que apresentam transtorno em decorrência do uso da substâncias. E, claro, tratamento em liberdade dentro da rede de atenção psicossocial. Isso é fundamental.”
Cannabis para superar o uso abusivo de Cannabis
Nós podemos aproveitar a variedade de compostos produzidos pela Cannabis para combater o uso abusivo da própria Cannabis. Renato Filev destacou que a versatilidade da planta nos permite manejar os efeitos adversos que podem aparecer nos consumidores e, assim, alterar os padrões de uso abusivo.
“Acho que uma Cannabis rica em canabidiol [CBD], pode ajudar pessoas a lidar tanto com os eventos adversos provocados pelo THC — aumento de ansiedade, paranoia. E é uma experiência que pode ser modulada não apenas por essa razão CBD / THC, mas por outras moléculas também que podem estar presentes nessas variedades.
Então, acho que o CBD é interessante, mas o mais interessante mesmo é o fitocomplexo com esse perfil molecular, disponível e modulando os efeitos do THC.”
Cannabis para superar o uso abusivo de cigarro
A nicotina é a substância dos cigarros (convencionais ou eletrônicos) que está diretamente relacionada ao uso abusivo. Mostramos aqui um estudo que identificou o potencial do CBD para quem quer parar de fumar, diminuindo a compulsão pelo cigarro. Além disso, o canabidiol também reduziu esse impulso em pessoas que utilizam a versão eletrônica dos cigarros.
Cannabis para superar o uso abusivo de opioides
O uso inapropriado de remédios a partir da substância ativa da papoula gerou uma crise de saúde pública nos EUA. Esses medicamentos fazer parte de tratamentos contra vários tipos de dor, porém o potencial para abuso é alto, além da possibilidade de uma overdose ser fatal.
Nesse sentido, a Cannabis surge como uma aliada em duas frentes: atuando diretamente na redução da dor, reduzindo a necessidade de opioides; e na recuperação de pessoas que tiveram overdose.
2023 de respeito, empatia e alternativa à punição
O objetivo da campanha da ONU no Dia Internacional Contra o Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas de 2023 é conscientizar sobre a importância de tratar as pessoas que usam drogas com empatia e respeito, oferecer alternativas à punição e fornecer serviços de apoio com base em evidências. Acabar com o preconceito sobre a Cannabis e as pessoas que utilizam essa ou outras substâncias é uma atitude fundamental para salvarmos vidas.
E para fazer uso da Cannabis de forma segura e legal, o primeiro passo é obter uma receita médica feita por profissional habilitado. Para isso, você pode marcar uma consulta aqui na nossa plataforma de agendamentos. Lá você encontra mais de 250 médicos preparados para analisar o seu caso e recomendar um tratamento baseado em evidências científicas.