O cânhamo industrial no Brasil foi um dos temas discutidos na 26ª edição da Food Ingredients South America (FiSA) 2024, uma das maiores feiras de alimentos e bebidas da América do Sul.
Nesta edição, a FiSA apresentou debates sobre as últimas tendências durante o Summit Future of Nutrition, tradicional congresso científico que é integrado à feira. Além disso, o evento contou com a participação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
Especialistas valorizam as sementes de cânhamo por sua nutrição, que possibilita que os fabricantes as utilizem em diversos produtos alimentícios, como óleos, biscoitos e proteínas. No entanto, no Brasil, a falta de regulamentação ainda impede a comercialização de alimentos à base de cânhamo, limitando a inovação e o desenvolvimento de novos produtos.
Painel sobre Cânhamo e canabidiol: propriedades, aplicações e perceptivas como suplementos e alimentos
Mediado por Eugênia Muinelo, da EAS Strategies Limited, o painel contou com a presença de Rafael Arcuri, Diretor Executivo da Associação Nacional do Cânhamo Industrial (ANCI); Rodrigo Gomes, Gerente Comercial da Goland Hemp; e Alexandre Novachi, Diretor de Assuntos Regulatórios e Científicos da ABIA.
Rafael Arcuri abriu a discussão destacando a importância de interagir com setores fora do universo da Cannabis.
“Dialogar com mercados tradicionais sobre o cânhamo e o CBD é fundamental para expandir a aceitação desses produtos em setores como alimentício, cosmético e industrial,” afirmou Arcuri. Que acredita que esse diálogo facilita a integração do cânhamo na economia mais ampla.
Regulamentação global: diferenças e critérios químicos
Durante o debate, Rafael destacou as diferenças nas normas globais e explicou que:
“O cânhamo industrial é uma variedade de Cannabis regulamentada com base em seu baixo teor de THC, o que significa que não tem efeito psicotrópico. Nos Estados Unidos, por exemplo, o cânhamo industrial é definido como Cannabis com até 0,3% de THC, enquanto no Canadá, o limite é semelhante. Na Europa, os critérios variam entre os países.
Além disso, Rafael enfatizou que a regulamentação global da Cannabis usa critérios químicos em vez de características físicas da planta.
“Agente regula a Cannabis hoje, ao redor do mundo, por motivos que não são baseados em critérios taxonômicos ou características físicas da planta. A classificação é feita com base no perfil químico, especialmente no teor de THC.”
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Cânhamo industrial no Brasil: boas práticas regulatórias e análises de impacto
Alexandre Novachi, da ABIA, destacou a importância das boas práticas regulatórias e da análise de impacto: “aplicar boas práticas regulatórias é essencial para garantir um ambiente previsível e confiável. Isso inclui a participação das partes interessadas e a clareza na comunicação das regras,” disse.
E colocou essa análise como crucial para compreender as consequências das políticas propostas:
“Essa ferramenta é fundamental para entender as consequências potenciais das políticas propostas, ajudando a identificar e mitigar possíveis efeitos negativos. Garantindo que as decisões sejam baseadas em evidências e não apenas em suposições.”
Segundo Alexandre, a aplicação dessas práticas pode levar a uma regulamentação mais equilibrada e eficiente.
“Quando aplicamos boas práticas regulatórias e realizamos análises de impacto rigorosas, conseguimos criar um equilíbrio entre a proteção pública e a promoção da inovação. Isso não só melhora a conformidade com as regras, mas também contribui para um ambiente mais dinâmico e competitivo.”
Perspectiva de Rodrigo Gomes
Por fim, Rodrigo Gomes, da Goland Hemp, também discutiu os desafios causados pela falta de regulamentação.
“Obstáculos significativos para o desenvolvimento e a comercialização de produtos no Brasil surgem devido à falta de uma regulamentação clara e específica para o cânhamo e seus derivados.”
Além disso, Rodrigo reforçou ainda a importância da colaboração entre o setor privado e o governo para superar esses desafios e garantir a segurança dos produtos.
“Avançar e explorar todo o potencial do cânhamo exige um diálogo contínuo e eficaz entre todos os envolvidos”, concluiu.
O futuro do cânhamo industrial no Brasil
O debate sobre o cânhamo industrial na 26ª edição da FiSA destacou a crescente importância deste setor no Brasil e as oportunidades que ele oferece. Embora o cânhamo possua um potencial significativo para diversificar a indústria alimentícia e outros setores, a falta de regulamentação clara continua sendo um obstáculo.
À medida que o Brasil avança na discussão e na criação de uma regulamentação mais eficaz, a integração do cânhamo na economia pode trazer benefícios substanciais. O futuro do cânhamo industrial no país dependerá da capacidade de todos os envolvidos em estabelecer um marco regulatório que equilibre inovação e segurança.