A dor crônica pode afetar todo o sistema nervoso central, resultando em dor severa e difícil de tratar. Ela pode se tornar tão debilitante e problemática que muitas vezes é acompanhada por depressão ou outros problemas psicológicos.
A dor crônica pode interferir em suas atividades diárias, como trabalhar, ter uma vida social e cuidar de si mesmo ou dos outros.
O primeiro passo no tratamento é encontrar e tratar a causa. Quando isso não é possível, a abordagem mais eficaz é uma combinação de medicamentos, terapias e mudanças no estilo de vida.
O que é e o que pode causar dores crônicas?
Dor crônica ou persistente é a dor que dura mais de 3 meses, ou em muitos casos, além do tempo normal de cura da lesão ou problema que originalmente causou a dor.
A dor crônica é diferente da dor aguda, como a dor de uma lesão, que se desenvolve rapidamente e normalmente não dura por muito tempo. A dor crônica é uma condição complexa, e todos a experimentam de forma diferente.
O que causa a dor crônica? Existem diferentes tipos de dor crônica, incluindo dor neuropática, dor causada por uma condição óssea, muscular ou articular, assim como dor causada por um câncer.
A dor crônica também pode ser causada por doenças como enxaqueca, osteoporose, artrite e outras condições músculo-esqueléticas, ou após uma lesão ou cirurgia. Às vezes não há nenhuma causa aparente para a dor crônica.
Normalmente, se você tem uma lesão, os nervos levam sinais da parte lesada do corpo para o cérebro, dizendo ao cérebro que há um problema e o cérebro lê estes sinais como dor.
Mas quando alguém tem dor crônica, os nervos que carregam sinais de dor para o cérebro se comportam de uma maneira incomum.
Por exemplo, a estimulação repetida pode alterar a estrutura das fibras e células nervosas (chamado remodelação) ou fazer com que as mesmas fiquem mais ativas.
Como resultado, pode ocorrer dor com uma estimulação que normalmente não seria dolorida, ou o estímulo doloroso pode parecer mais forte.
Por último, a dor aguda pode se desenvolver em uma condição de dor crônica se não for tratada corretamente. Quanto mais tempo a dor permanecer sem tratamento, maior será o risco de a dor se tornar crônica.
Quais são os tipos de dor crônica?
Dor nociceptiva ou somática
A dor nociceptiva é causada pela ação de terminações nervosas especializadas em captar sinais de perigo (nociceptores) e enviá-las ao cérebro.
Os receptores, chamados nociceptores, existem apenas com a finalidade de sentir toda e qualquer dor que o corpo experimenta.
Os nociceptores também podem detectar a dor térmica e química, causada por temperaturas extremas e produtos químicos tóxicos ou perigosos.
Existem dois tipos de dor nociceptiva: dor somática e dor visceral. Embora a dor somática e visceral sejam detectadas pelos mesmos tipos de nervos, eles não sentem a mesma coisa.
A dor somática é a dor que tem origem em seus braços, pernas, rosto, músculos, tendões e áreas externas do corpo. Esse tipo de dor pode parecer como uma sensação palpitante ou como uma dor aguda.
A dor somática é desencadeada por uma lesão aguda ou doença crônica, como um corte, hematoma, artrite ou lesões articulares.
A dor visceral é detectada por nociceptores nos órgãos internos que contém nervos sensoriais que transmitem sinais para o cérebro após uma lesão.
Este tipo de dor é causado por condições tais como infecções estomacais, constipação, câncer ou sangramento interno.
Ao contrário da dor somática, a dor visceral é comumente associada a outros sintomas como náuseas, vômitos e nervosismo.
Dor neuropática
Dor neuropática é um tipo de dor crônica que é resultado de lesão tecidual ou lesão nervosa. Em vez de uma lesão física, a neuropatia é causada por danos aos próprios nervos.
As fibras nervosas danificadas alteram a função nervosa e enviam sinais incorretos para o cérebro. Estes sinais são frequentemente defeituosos devido a um mau funcionamento na forma como os nervos transmitem sinais de dor para o cérebro.
As principais causas de dor neuropática são:
- Alcoolismo ou deficiência nutritiva, que afetam a função nervosa de forma significativa;
- Diabetes mellitus, que afeta principalmente os membros, causando neuropatia diabética periférica;
- Problemas nos nervos faciais;
- Problemas de tireoide;
- Infecções por bactérias ou vírus, como sífilis, herpes ou HIV por exemplo, que podem afetar os nervos pela libertação de toxinas;
- Traumas na medula espinhal, provocadas por acidentes, fraturas ou cirurgias;
- Amputação de um membro, em que surge uma dor referida ao membro desaparecido, conhecida por dor do membro fantasma.
Esse tipo de problema está presente em até 10% da população e pode ser incapacitante, causando diferentes sensações de dor.
Dor mista ou inespecífica
A dor mista ou inespecífica é a dor causada tanto por componentes da dor nociceptiva e neuropática, ou por causas desconhecidas.
As possíveis causas são dor de cabeça; hérnia de disco; câncer; vasculite; osteoartrose que pode atingir diversos locais como joelhos, coluna ou quadril, por exemplo.
Sintomas e sinais da dor crônica
A dor crônica tem um custo tanto para sua saúde física quanto mental. Embora a dor possa ser quase constante, pode haver crises de dor mais intensas devido ao aumento do estresse ou da atividade diária. Os sintomas mais comuns incluem:
- dor articular;
- dores musculares;
- dor ardente e pontuda;
- fadiga;
- problemas com o sono;
- diminuição do apetite;
- diminuição da libido;
- constipação intestinal;
- perda de resistência e flexibilidade, devido à diminuição da atividade;
- problemas de humor, incluindo depressão, ansiedade e irritabilidade.
Qual grupo de pessoas está mais suscetível a ter dores crônicas?
Como muitas condições ou lesões podem causar dor crônica, existem várias situações que aumentam a probabilidade de uma pessoa sentir dores crônicas. Alguns fatores de risco incluem:
- Genética: algumas causas de dor crônica, como enxaquecas, são hereditárias.
- Obesidade: a obesidade pode agravar certas condições de saúde que causam dor, como artrite, já que há pressão extra em suas articulações.
- Idade: pessoas mais velhas são mais propensas a sofrer de dor crônica por causa da artrite e da neuropatia.
- Presença de uma lesão anterior: se você teve uma lesão traumática, é mais provável que você desenvolva dor crônica no futuro.
- Estresse: estudos demonstraram que a dor crônica está ligada tanto ao estresse frequente quanto ao transtorno de estresse pós-traumático.
- Fumar: Se você fuma, corre um risco maior de desenvolver condições médicas que levam a uma necessidade de tratamento da dor crônica.
A dor crônica pode ser prevenida? Infelizmente, não há estudos que apontem que é possível prevenir a dor crônica em geral.
Mas, você pode ser capaz de prevenir certas condições que levam à dor crônica. Como por exemplo, parar de fumar para diminuir o risco de câncer de pulmão.
Quais são as consequências da dor crônica?
Psíquicas
Embora a dor crônica seja física, ela pode ter um custo sobre como uma pessoa se sente e vive. A dor prolongada frequentemente contribui para sentimentos de estresse, ansiedade e depressão.
Ela também pode interferir no sono, relacionamentos, trabalho e outros aspectos da vida de uma pessoa. Isto pode ter um efeito adverso sobre o bem-estar emocional e psicológico do indivíduo.
A dor crônica pode contribuir para o aparecimento e o agravamento da ansiedade. Ou vice-versa.
A dor crônica também pode ter um impacto sobre uma variedade de funções cognitivas, incluindo a capacidade de uma pessoa se concentrar e lembrar de informações.
A depressão está fortemente associada à dor crônica. As estimativas variam, mas as pesquisas sugerem que a co-ocorrência de dor crônica e depressão pode chegar a 85%.
A relação entre a depressão e a dor crônica parece ser bidirecional. Em outras palavras, a depressão não só surge como resultado da dor crônica, mas também pode contribuir para o desenvolvimento da própria dor.
Econômicas
De acordo com a Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (SBED), ao menos 37% da população brasileira, cerca de 60 milhões de pessoas, relatam dores crônicas.
A incidência da dor crônica no mundo oscila entre 7 e 37% da população e, como consequência da mesma, cerca de 50 a 60% dos que sofrem dela ficam parcial ou totalmente incapacitados, de maneira transitória ou permanente, comprometendo de modo significativo a qualidade de vida.
Sociais
Pessoas que sofrem de dor crônica podem ter oscilações de humor, tornando-se mais irritadas ou mau-humoradas. Apesar disso, muitas pessoas que sofrem de dor frequentemente tentam mascarar seu humor para ajudar os outros a se sentirem mais confortáveis.
O medo do julgamento ou mesmo o medo de um novo episódio de dor também pode levar ao isolamento social.
A dor crônica também afasta fisicamente as pessoas de suas redes de amigos ou família. As crises de dor podem ser um desestímulo ao planejamento e ao envolvimento, e podem inibir a participação em atividades.
Como resultado, as relações se desgastam ou se dissolvem. Se um paciente com dor crônica não pode mais trabalhar, desfrutar de atividades ou estar em equipe, isso pode corroer a auto-identidade e suas ligações sociais.
Como identificar a dor crônica?
A dor aguda acontece quando você se machuca, como por exemplo, quando sofre um simples corte na pele ou quebra um osso. Não dura muito, e desaparece depois que seu corpo se cura do que quer que tenha causado a dor.
Em contraste, a dor crônica continua muito tempo depois que você se recupera de uma lesão ou doença. Às vezes, ela acontece até mesmo sem razão óbvia.
Quais as possibilidades de tratamento para dor crônica?
Para aliviar a dor crônica, os profissionais de saúde primeiro tentam identificar e tratar a causa. Mas às vezes eles não conseguem encontrar a fonte. Se for o caso, eles voltam a atenção para tratar, ou administrar, a dor.
Por isso, os médicos podem tratar a dor crônica de muitas maneiras diferentes. A abordagem escolhida depende de muitos fatores, entre eles:
- O tipo de dor que o paciente tem;
- A causa de sua dor, se for conhecida;
- A idade e sua saúde em geral.
Os melhores planos de tratamento utilizam uma variedade de estratégias, incluindo medicamentos, mudanças de estilo de vida e terapias alternativas.
Uso de remédios
Os remédios para dor crônica são indicados de acordo com a intensidade da dor, podendo ser recomendado:
- Dor leve (grau 1): analgésicos e/ou anti-inflamatórios;
- Dor moderada (grau 2): analgésicos ou anti-inflamatórios + opióides fracos;
- Dor intensa (grau 3): analgésicos ou anti-inflamatórios + opióides fortes (morfina, metadona, oxicodona ou fentanil transdérmico).
Cada medicamento tem um potencial para efeitos colaterais – alguns são mais graves do que outros. Não deixe de discutir os possíveis efeitos colaterais de seus medicamentos para dor crônica com seu médico.
Injeções e infiltrações
Em alguns casos pode ser necessário realizar a injeção de corticoides no local da dor, principalmente em alguns casos de dor neuropática ou mista. Isso ajuda a reduzir a resposta inflamatória e amenizar a dor local.
A infiltração é uma injeção de alguma substância como os corticoides que podem ajudar a aliviar a dor e a inflamação em uma área específica do corpo.
Fisioterapia
Embora dores inflamatórias geralmente requeiram farmacoterapia, as de origem mecânica frequentemente demandam correção fisioterápica. Esse é um tratamento contínuo, que envolve exercícios específicos e cientificamente estudados.
O tratamento se fundamenta na avaliação da eficiência dos movimentos e exercícios para ganho de mobilidade e estabilidade que geram alívio da dor, tratando diretamente as causas do problema.
O tratamento das dores crônicas por meio da fisioterapia tem por objetivo o reequilíbrio de todos os grupos musculares que estão relacionados com o quadro e melhorar ajustes posturais estáticos e dinâmicos com foco na abordagem global do paciente.
Cirurgia
A cirurgia para tratamento da dor crônica consiste na colocação de um implante, um estimulador ganglionar, na região onde há dor constante para o seu controle.
A cirurgia é recomendada para pacientes que possuem dor decorrente de lesões nos nervos, que causam o quadro de constante dor. A expectativa de melhora nos quadros que passam por esse procedimento é de acima de 80% em alguns casos.
Trata-se de um procedimento minimamente invasivo, sem a necessidade de anestésicos fortes, para a implantação de um eletrodo na região nervosa onde está localizada a lesão do nervo e, por consequência, a dor crônica.
Terapias alternativas
As terapias alternativas são excelentes formas de melhorar a percepção corporal, aliviando a tensão e os estímulos nervosos, o que tem grande influência sobre a dor. Algumas opções são:
- Terapia cognitiva comportamental: Uma abordagem da psicoterapia, que pode ser muito útil para auxiliar no tratamento de dores em geral, principalmente por tratar situações de depressão e ansiedade;
- Massagem: uma excelente forma de tratamento, principalmente, para dores musculares associadas a contraturas e tensão;
- Acupuntura: a acupuntura é uma terapia chinesa que consiste no estímulo de pontos espalhados pelo corpo, chamados de “Pontos de Acupuntura” ou “Acupontos”. Essa técnica ajuda a combater enxaqueca, cólica, fibromialgia, estresse, e auxilia, até mesmo, no emagrecimento
- Atividades físicas: Praticadas regularmente, pelo menos 3 vezes na semana pode aliviar diversos tipos de dor crônica;
- Ioga: a ioga é uma prática com posturas e meditação que associa o bem-estar mental ao condicionamento físico. O método traz benefícios como reajuste postural e melhora na qualidade do sono, combate a insônia e ameniza problemas circulatórios e de memória.
Canabinoides no tratamento da dor crônica
Uma das possibilidades de tratamento para as dores crônicas (independente dos motivos para a sua origem) é por meio do uso de substâncias e extratos à base das plantas do gênero Cannabis.
Estas substâncias, que são conhecidas como canabinoides, já são vistas pelo meio científico como algo com um ótimo potencial terapêutico no tratamento de uma série de doenças e condições adversas de saúde.
No próximo tópico, falaremos mais a respeito de estudos que apontam esses benefícios:
Estudos que comprovam os benefícios de canabinoides para dor crônica
Um artigo de revisão bibliográfica, publicado no British Journal of Clinical Pharmacology, promoveu uma análise de estudos e experimentos feitos por outros pesquisadores a respeito do uso dos canabinoides para o tratamento de dor crônica não oncológica.
Utilizando-se da revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados de boa qualidade, foram analisados dezoito estudos que utilizaram a Cannabis das seguintes formas:
- Cannabis inalada ou fumada;
- Extratos bucais de medicamentos à base de Cannabis;
- Nabilona, uma versão sintética do THC;
- Dronabinol, outro THC sintético;
- Canabinoide sintético análogo ao THC.
Entre as dores crônicas avaliadas nestes estudos estiveram a dor neuropática, fibromialgia, a artrite reumatoide e a dor crônica mista.
Na maior parte das análises, houve em comum a falta de efeitos adversos graves (embora efeitos mais leves e bem tolerados tenham sido registrados), além de evidências de que os canabinoides são eficazes no tratamento da dor neuropática e evidências preliminares com relação à fibromialgia e à artrite reumatoide.
Como conclusão, os autores apontaram que a utilização das substâncias canabinoides são eficazes e seguras para dores crônicas não oncológicas (predominantemente neuropática).
Outro estudo, avaliando a possibilidade do uso dos canabinoides como alvo farmacoterápico no tratamento das dores neuropáticas foi produzido por pesquisadoras da Universidade da Georgia.
Neste estudo de revisão, foram avaliados efeitos positivos tanto da Cannabis inalada por fumo, quanto por análogos sintéticos de THC e preparações medicinais de Cannabis com concentrações de THC e CBD.
Os estudos clínicos analisados demonstraram importantes benefícios na utilização destas substâncias para o tratamento das dores neuropáticas derivadas de lesões nervosas traumáticas, infecções por herpes zoster, tratamento oncológico, diabetes, entre outras.
Normalmente, os benefícios apontados estão associados a medidas subjetivas, ou seja, tomadas por escalas de classificação, ou objetivas. Neste sentido, pacientes submetidos aos ensaios, apontaram redução da dor e melhora na qualidade de vida.
Os benefícios da Cannabis abrangem vários tipos de dor crônica em diferentes doenças. Para entender melhor como a Cannabis pode agir nestas condições, os especialistas da Cannabis & Saúde prepararam uma série de lives incríveis sobre o assunto.
Nesta playlist, você terá acesso a diversas lives sobre Cannabis e dor crônica, além de entender como funciona a abordagem de tratamento nestes casos.
Onde encontrar tratamento à base de Cannabis medicinal?
Atualmente é mais fácil realizar os tratamentos à base de Cannabis medicinal, do que alguns anos atrás. Resoluções da Anvisa, que permitem a compra ou importação dos medicamentos foram flexibilizadas e reduziram a judicialização dessas questões, além de diminuir a burocracia necessária para obter o tratamento.
O primeiro passo para iniciar o tratamento é buscar um médico que tenha experiência em Cannabis medicinal. Embora existam estudos a respeito da sua eficácia e segurança, boa parte dos médicos ainda têm algum tipo de resistência para prescrevê-los.
Seja por falta de conhecimento ou por inexperiência, a não prescrição desse tipo de tratamento pode gerar problemas para pacientes que estão em busca dessa alternativa válida para reduzir suas dores crônicas.
Pensando nisso, o Portal Cannabis & Saúde desenvolveu uma plataforma onde você pode buscar médicos que tenham experiência nesse tipo de tratamento. Nela, você pode agendar consultas com um dos mais de 100 profissionais de saúde cadastrados, que atendem tanto por telemedicina quanto presencialmente.
Muitos deles também fazem atendimento por plano de saúde – você pode buscá-los de acordo com o seu convênio, utilizando a opção dos filtros da plataforma.
Conclusão
Como você leu ao longo deste artigo, a dor crônica é uma condição de saúde que pode ser bastante debilitante e trazer consequências sociais, psíquicas e econômicas para os pacientes.
Elas podem ser geradas por doenças e condições de saúde associadas como artrite reumatoide, diabetes, fibromialgia ou até mesmo por questões temporárias, como o tratamento para câncer feito por meio da quimioterapia.
Além de medicamentos como analgésicos e anti-inflamatórios, um importante alvo terapêutico para o tratamento destas dores crônicas é a Cannabis.
Como você viu, a Cannabis possui propriedades importantes que promovem benefícios contra a dor crônica. Esses benefícios são apoiados pela ciência, o que torna a sua utilização eficaz e segura.