O canabidiol para dependência química é uma das possibilidades que adictos e seus familiares têm para controlar o uso abusivo de substâncias psicoativas.
Pode até parecer contraditório, afinal, um composto extraído da Cannabis serve para eliminar o vício inclusive da própria maconha?
Sim, até porque, como diz o ditado, “a diferença entre o veneno e o remédio é a dose”.
Além disso, os efeitos psicoativos da Cannabis são creditados ao tetrahidrocanabinol (THC), e não ao canabidiol (CBD).
Mas o CBD ajuda a controlar não só a adicção em maconha, mas em outras drogas, lícitas ou não.
Siga a leitura e saiba mais neste conteúdo!
Canabidiol para dependência química: como funciona o vício?
Um quadro de adicção se caracteriza quando uma pessoa passa a consumir uma substância de forma frequente e descontrolada.
Um indivíduo também pode ser tratado como adicto quando, ao usar uma certa droga, ele muda o seu comportamento, independentemente da frequência.
É o caso, por exemplo, de quem sofre com o alcoolismo.
Para alguns, o ato de beber não chega a ser frequente, mas provoca alterações comportamentais capazes de causar problemas.
De qualquer maneira, o uso de substâncias psicoativas sempre traz riscos, ainda que ele não seja frequente ou altere o humor do usuário.
Seja qual for a droga, o fato é que o consumo sem controle pode levar a quadros bastante graves em função da chamada dependência química.
Dopamina e o ciclo de dependência química no corpo humano
Todos nós dependemos dos hormônios para viver, já que eles são os “mensageiros” responsáveis por dar início a diversas reações e adaptações orgânicas.
Um deles é a dopamina, um neurotransmissor que tem várias funções, com destaque para a transmissão das sensações de prazer.
Por sua vez, ela se concentra na região do sistema nervoso central (SNC) conhecida como circuito de recompensas.
As drogas, em geral, agem nesse circuito, estimulando a produção de dopamina, como ocorre com a heroína.
O contrário também acontece, isto é, pode haver diminuição da sua formação, como sucede ao fumar maconha.
Seja qual for a resposta do organismo, quando a produção de dopamina sofre a interferência de outras substâncias, pode vir a se configurar a dependência química.
Nela, os neurotransmissores deixam de funcionar em seu estado normal, o que leva a pessoa a modificar seu comportamento e a ter problemas de saúde.
Canabidiol para dependência química: quais são os tipos de dependências
Os adictos sofrem de maneiras muito parecidas.
Em geral, todos sentem uma compulsão irresistível por consumir a droga – ou drogas – de costume.
Com o tempo, para ter os efeitos esperados, eles precisam de quantidades cada vez maiores.
Mesmo assim, cada droga age de uma forma distinta no SNC e no cérebro, demandando abordagens específicas para cada tipo de adicção.
Então, um alcoólatra deve ter seu vício controlado a partir de um tratamento e conduta diferente do que se usa para um adicto à cocaína, por exemplo.
Cabe frisar que a dependência química é uma doença reconhecida, cujo código na Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID) é F-19.
A exceção é o alcoolismo, cujo código é Z-72.1.
Veja, a seguir, os tipos de adicção mais comuns e de que maneira as substâncias agem no organismo.
Medicamentos
Segundo uma pesquisa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), 79% dos brasileiros maiores de 16 anos admitem tomar remédios sem orientação médica.
Esse é um traço do comportamento da população que ajuda a entender por que o Brasil é líder mundial em casos de ansiedade e número 1 na América Latina em depressão.
A dependência química de medicamentos pode se configurar quando a pessoa passa a ingerir remédios, como ansiolíticos e analgésicos, por conta própria.
Essa ingestão descontrolada, por sua vez, geralmente começa a partir do tratamento prescrito por um médico.
Com o alívio proporcionado pelos fármacos, o indivíduo passa a sentir que não pode mais viver sem eles, começando então a usá-los a seu bel prazer.
Opioides
Embora possam ser enquadrados como medicamentos (o que de fato são), os opioides merecem destaque em virtude do seu altíssimo poder destrutivo quando viram uma adicção.
Isso porque, de acordo com a OMS, das mortes que acontecem anualmente por abuso de drogas, 70% são em função dos opiáceos, das quais 30% são por overdose.
Entre os mais consumidos e perigosos estão a morfina, o fentanil e o tramadol.
Por sua vez, nos cuidados realizados em clínicas e com orientação médica, é indicada naloxona ou metadona para reduzir a compulsão.
Assim como o vício em medicamentos, a adicção por opioides também pode começar em tratamentos com acompanhamento médico.
Substâncias lícitas
Além dos opioides e dos medicamentos, existem outras substâncias comercializadas legalmente no Brasil e no mundo com potencial para levar à adicção.
Entre as mais difundidas, o álcool seja a mais tolerada de todas, sendo comumente associado a momentos de alegria e felicidade.
Outra substância que leva à dependência química é o tabaco.
No entanto, diferentemente do álcool, já existe toda uma mobilização de governos e mídia para frear seu consumo.
De qualquer modo, ambos provocam adicção quando passam a ser usados de forma descontrolada.
A diferença, no caso do alcoolismo, são as alterações no comportamento que não se verificam em tabagistas.
Vale destacar, ainda, que o vício em substâncias lícitas é um potencial causador de doenças associadas, como o câncer de pulmão e a cirrose hepática, além de aumentar o risco de AVC e infarto.
Psicotrópicos
Igualmente ligado ao problema da automedicação está o abuso de psicotrópicos (ou psicoativos), classe de medicamentos prescrita para controle da dor ou tratamento de distúrbios psiquiátricos.
Por isso, são enquadrados nessa categoria sedativos, hipnóticos e ansiolíticos como o alprazolam, diazepam e lorazepam.
A cocaína é a que mais mata por overdose no mundo, depois dos opioides e se considerada individualmente.
É o que diz o Relatório Mundial Sobre Drogas da ONU, no qual ela aparece como a droga ilícita mais consumida nas Américas.
Hormonais
Apesar de não ser tão frequentemente divulgado na grande mídia, o vício em hormônios é também um grave problema de saúde.
Nesse caso, a maior questão é o abuso de esteroides anabolizantes tanto por homens quanto por mulheres em busca de músculos cada vez mais desenvolvidos.
Embora eles de fato favoreçam o crescimento muscular, o preço a se pagar, em geral, é bastante elevado.
Nos homens, o uso indiscriminado de esteroides pode levar à impotência, ginecomastia, calvície e acne.
Já nas mulheres, o abuso de testosterona está diretamente ligado à masculinização e problemas como hirsutismo (crescimento de pelos) e atrofia dos seios.
Um estudo sobre o vício em anabolizantes, liderado por Henrik Horwitzd, aponta ainda que injetar esteroides sem controle pode matar.
Foi o que aconteceu com 1,3% dos indivíduos que participaram da pesquisa.
Sintomas da abstinência química
A dependência química se manifesta nos momentos tanto em que a pessoa adicta usa a substância viciante, quanto nos de abstinência.
Aliás, talvez seja nesses últimos em que fica ainda mais evidente a adicção, já que a falta da droga ou medicamento faz com que o humor se altere e diversos sintomas se apresentem.
Embora haja sinais comuns, cada substância leva a quadros mais ou menos distintos quando o dependente se encontra privado do seu uso.
Veja, a seguir, como cada um deles se manifesta.
Maconha
Em geral, pessoas que deixam de consumir a Cannabis de forma recreativa sofrem com os seguintes sintomas:
- Cefaleia (dor de cabeça)
- Irritabilidade
- Nervosismo
- Insônia
- Raiva
- Diminuição do apetite
- Pesadelos
- Inquietação
- Ansiedade
- Depressão.
Caso o usuário sofra de outros transtornos psiquiátricos, a intensidade das crises pode ser mais aguda.
A duração de um acesso de abstinência varia, dependendo do nível da adicção e da frequência com que a maconha é utilizada.
É comum, ainda, que os usuários de Cannabis recreativa, privados do seu consumo, sintam nos primeiros dias a chamada “fissura”, que tende a diminuir com o tempo.
Por outro lado, nos casos mais graves, pode ser necessária internação em clínica de tratamento, terapia de grupo ou o programa de Narcóticos Anônimos (NA).
Cocaína
Já a abstinência de cocaína se manifesta de forma ligeiramente distinta, com alguns sintomas em comum à da maconha e outros peculiares, tais como:
- Irritabilidade
- Inquietação
- Fissura intensa
- Dificuldade de concentração
- Tentativas de suicídio
- Cefaleia
- Depressão
- Hipersonia (sono em excesso)
- Fadiga.
A propensão ao suicídio tem a ver com um outro sinal da abstinência de cocaína, a anedonia, que consiste na perda da capacidade de sentir prazer.
Esses sintomas podem se prolongar por meses, por isso, quanto antes a família ajudar o dependente em sua recuperação, menores são os riscos de ele tentar o suicídio ou morrer por overdose.
Em certos casos, também pode ser necessária internação em clínica de tratamento ou, se o adicto desejar, recorrer ao programa de NA.
Álcool
Segundo a OMS, o álcool é responsável direto por 5,3% das mortes que acontecem todo ano no mundo.
Ainda de acordo com a entidade, o abuso dessa substância está relacionado a mais de 200 tipos de doenças ou lesões.
No Brasil, o quadro parece ser até mais grave, de acordo com o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira.
Segundo o estudo, 30,1% dos brasileiros admitiram ter ingerido pelo menos uma dose de álcool nos últimos 30 dias.
Desse grupo, 2,3 milhões de pessoas mostraram sinais de dependência.
A pesquisa conclui que o abuso de álcool é mais grave do que o de drogas ilícitas, o que não chega a surpreender, considerando a cultura em torno da bebida e o estímulo da mídia.
Um dos sintomas da abstinência alcoólica mais comuns é o chamado delirium tremens, no qual o alcoólico passa a ter alucinações, tremores e entorpecimento da consciência.
Como vimos, o alcoolismo é uma doença e, como toda adicção, ela não tem cura, mas tratamento.
Nesse caso, o paciente pode se recuperar em clínicas ou por meio do programa de Alcoólicos Anônimos (AA).
Estimulantes
Há, ainda, outras drogas estimulantes, como o crack e as metanfetaminas, que, como as demais, geram sintomas quando o adicto se vê impedido de usá-las.
Um dos mais graves é a psicose anfetamínica.
Nesse quadro, o dependente sente que é perseguido, desenvolve paranoia e comportamento compulsivo.
Também é comum ser acometido por alucinações, tanto visuais quanto auditivas.
Deve-se ter mais cuidado nesses casos, já que nem sempre fica claro quando tais sintomas são em função da abstinência ou de algum distúrbio psiquiátrico.
Novamente, para o tratamento da dependência química de estimulantes, pode ser indicada uma clínica de recuperação junto ao programa de NA.
Canabidiol para dependência química: como funciona o tratamento?
Para a maior parte das dependências químicas, o CBD vem se revelando um poderoso aliado.
Um dos seus possíveis usos é para minimizar a adicção de medicamentos como opioides e benzodiazepínicos.
Isso acontece porque o CBD impede a recaptação e destruição do GABA, um neurotransmissor responsável por “frear” os impulsos nervosos.
Nesse caso, depois que ele é liberado e exerce seu efeito, é reabsorvido e decomposto pelo neurônio.
É aqui que o canabidiol age, inibindo a reabsorção do GABA, fazendo com que ele exerça seus benefícios por períodos mais prolongados.
Assim sendo, o tratamento para dependência química à base de CBD funciona por meio de indicação médica.
Depois de uma ou mais consultas e eventuais exames, o adicto recebe a prescrição do extrato mais adequado ao seu perfil.
Desse modo, ele passa a administrar doses diárias conforme indicação do especialista, podendo ou não aumentá-las conforme a necessidade.
Benefícios terapêuticos do CBD
O CBD é um poderoso aliado por ser naturalmente tolerado pelo sistema endocanabinoide, no qual interage com os receptores CB1 e CB2.
Por isso, em geral ele apresenta poucos efeitos adversos, principalmente se comparado com medicamentos usados tradicionalmente para controle da dependência química.
A dosagem varia bastante, dependendo do estágio em que a adicção está e de critérios como peso, idade e histórico de doenças do paciente.
De qualquer forma, vale ressaltar que o CBD, sozinho, não faz o “milagre”.
Afinal, a dependência química também tem um forte fator social, o que demanda outros tipos de terapia e a presença da família em todos os aspectos.
Canabidiol para dependência química: para quais drogas é o tratamento?
Além de ajudar no controle da adicção a medicamentos como os benzodiazepínicos, o CBD também já vem sendo usado para reduzir a dependência de opioides.
Nesses casos, o recomendado geralmente é a ingestão do canabidiol enquanto se reduz gradualmente o uso dessas substâncias.
Isso porque, quando a pessoa se vicia em opioides, os receptores desses elementos perdem eficiência, deixando de cumprir com suas funções em estado normal.
Se o dependente simplesmente larga os medicamentos de forma brusca, pode ter problemas com a “enxurrada” de sintomas associados à abstinência.
O mais grave deles é a dor, que pode ser excruciante depois que se usa opiáceos sem controle por muito tempo.
Felizmente, para esses casos, o CBD surge como a esperança para recuperar as capacidades perdidas e retornar a uma vida normal.
Tipos de remédios à base de CBD para dependência química
O extrato de canabidiol pode ser produzido de diversas maneiras, em que ele apresenta vários perfis.
Existem os chamados óleos de CBD isolado, de espectro amplo (broad spectrum) ou espectro completo (full spectrum).
No entanto, para o cenário específico dos dependentes químicos, vem sendo cada vez mais indicado o nabiximol.
Ele é administrado na forma de spray, sendo aplicado embaixo da língua, e sua dosagem contém 2,5mg de CBD e 2,7mg de THC.
Note que, nesse caso, a concentração de THC excede o limite previsto pela Anvisa, que é de 0,2%.
Logo, para poder utilizá-lo no Brasil, será necessária uma autorização especial da justiça ou do órgão de vigilância sanitária.
Quem pode prescrever canabidiol?
O canabidiol pode ser prescrito por qualquer médico credenciado.
Nesse caso, vale buscar ajuda com profissionais que já tenham indicado o seu uso para outros pacientes a fim de facilitar o acesso ao medicamento.
Como procurar ajuda para tratamento com canabidiol para dependência química?
Pode ser que, em alguns casos, a primeira providência seja procurar o médico da família ou um profissional já conhecido para receber as orientações iniciais.
No entanto, nem sempre o especialista conhece a fundo os benefícios do CBD para tratar da dependência.
Então, vale usar o que você aprendeu aqui como argumento para convencê-lo a aderir ao tratamento à base de canabidiol.
Ou, se preferir, você pode recorrer ao nosso sistema online de agendamento de consultas, bastando apenas escolher o médico e preencher o formulário.
Estudos sobre o tratamento de canabidiol para dependência química
Veja, a seguir, alguns estudos científicos que apontam para os benefícios do CBD no tratamento da dependência química:
- 1º – Cannabidiol as an Intervention for Addictive Behaviors: A Systematic Review of the Evidence
- 2º – Early Phase in the Development of Cannabidiol as a Treatment for Addiction: Opioid Relapse Takes Initial Center Stage
- 3º – Cannabidiol for the treatment of crack-cocaine craving: an exploratory double-blind study
- 4º – Cannabidiol and Cocaine Craving/Dependence (CBD)
- 5º – Cannabidiol for the Reduction of Cue-Induced Craving and Anxiety in Drug-Abstinent Individuals With Heroin Use Disorder: A Double-Blind Randomized Placebo-Controlled Trial.
Conclusão
A ciência já tem fortes indícios de que o canabidiol para dependência química é eficaz para reduzir e controlar os sintomas, bem como da abstinência de drogas e medicamentos.
Por outro lado, no Brasil, a falta de uma legislação mais consistente impede que os médicos prescrevam o canabidiol com a frequência que seria esperada.
Até que esse quadro melhore, o que se pode fazer é buscar por informação e, a partir disso, repassar para outras pessoas o que realmente acontece e os benefícios da Cannabis medicinal.
Por isso, não deixe de acompanhar os artigos publicados aqui no portal Cannabis & Saúde.