Tratar os sintomas do autismo com o Canabidiol tem sido cada vez mais comum nos dias atuais.
Apesar de muitos considerarem o autismo uma forma de neurodiversidade e não uma doença, existem aspectos e dificuldades que frequentemente precisam de cuidados.
Por exemplo, algumas pessoas atípicas enfrentam desafios na socialização, o que pode dificultar as relações no convívio familiar, escolar e profissional.
É nesse contexto que o Canabidiol pode ser interessante, uma vez que permite controlar certos comportamentos ligados ao autismo, contribuindo para um dia a dia mais leve.
Mas como exatamente o Canabidiol é utilizado no manejo dos sintomas do autismo?
Prossiga a leitura para entender como o CBD pode contribuir para uma vida mais equilibrada para quem vive com o transtorno do espectro autista (TEA) e o que é necessário para iniciar um tratamento com ele.
Abaixo, você aprenderá sobre:
- Canabidiol e autismo: Quais os benefícios no tratamento?
- Canabidiol no tratamento do autismo: o que dizem as pesquisas?
- Canabidiol é indicado para todos os níveis de autismo?
- Quais são as formas de tratamento com CBD para autismo?
- Quais são os riscos e efeitos colaterais do Canabidiol para o autismo?
- Há alguma contraindicação para o uso do Canabidiol?
- Regulamentação do CBD no Brasil
- Como iniciar um tratamento complementar com o Canabidiol?
Canabidiol e autismo: Quais os benefícios no tratamento?
O Canabidiol, ou CBD, é um dos muitos canabinoides extraídos da Cannabis. O que torna essa substância cada vez mais relevante e estudada em diferentes contextos clínicos são suas diversas propriedades medicinais.
O potencial terapêutico do Canabidiol está ligado à sua interação com o sistema endocanabinoide.
Descoberto na década de 1960 pelo cientista Raphael Mechoulam, o sistema endocanabinoide (SEC) tem uma função importante na plasticidade sináptica e na neuromodulação, sendo responsável pela comunicação entre células do sistema nervoso.
Os canabinoides, como o CBD, ativam receptores específicos no SEC, possibilitando a interação desses compostos com o metabolismo celular.
Esses receptores, presentes no cérebro e no sistema nervoso, modulam a liberação de neurotransmissores como dopamina e serotonina, ajudando a equilibrar impulsos neuronais que costumam estar desregulados no autismo.
Além do SEC, o CBD influencia diretamente outros sistemas bioquímicos e neurológicos. Ele age, por exemplo, nas vias GABAérgicas, responsáveis pela inibição de atividades cerebrais excessivas, promovendo calma e foco.
Ao modular essas vias, o CBD também pode auxiliar na regulação do nível de excitação neuronal, o que é especialmente útil em casos de autismo, onde muitas vezes ocorre uma hipersensibilidade a estímulos.
Os efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes do Canabidiol também são úteis neste contexto. Estudos sugerem que o autismo pode estar associado a processos inflamatórios no cérebro, afetando a função neuronal.
Ao reduzir essa inflamação, o Canabidiol costuma favorecer uma condição cerebral mais estável e otimizada para o aprendizado e as interações sociais.
Portanto, pacientes atípicos em tratamento com o Canabidiol, podem, possivelmente, obter os seguintes benefícios:
- Melhora na comunicação social;
- Redução de crises de ansiedade;
- Menor agressividade;
- Diminuição de comportamentos repetitivos;
- Melhor controle emocional;
- Aumento da capacidade de concentração;
- Melhoria no sono;
- Redução da hiperatividade;
- Controle de convulsões em casos severos;
- Alívio do estresse.
Canabidiol no tratamento do autismo: o que dizem as pesquisas?
Um estudo de 2019 investigou se os níveis de endocanabinoides podem ser diferentes em crianças atípicas e se essas diferenças têm relevância para a identificação de subgrupos dentro do TEA.
Estudos anteriores já haviam demonstrado alterações nesse sistema em modelos animais de TEA, onde a ativação do sistema conseguiu melhorar déficits sociais em alguns casos.
Para esse estudo, foram analisados os níveis sanguíneos de dois endocanabinoides principais — a anandamida (AEA) e o 2-araquidonoilglicerol (2-AG).
A análise envolveu 93 crianças com TEA e 93 crianças neurotípicas, organizadas por idade e gênero.
Os resultados revelaram que crianças com TEA apresentaram níveis significativamente mais baixos de endocanabinoides em comparação com o grupo controle.
Outro relato de caso de 2022 analisou o uso de uma formulação de óleo de Canabidiol (CBD) com THC em baixas doses para tratar sintomas em um paciente de nove anos, diagnosticado com TEA não verbal.
O paciente no estudo apresentava explosões emocionais, comportamentos inadequados e déficits sociais, incluindo dificuldades significativas para comunicar suas necessidades.
O tratamento consistiu em um óleo de espectro total com alto teor de CBD e baixo de THC. Cada mililitro da formulação continha 20 mg de CBD e menos de 1 mg de THC.
O protocolo iniciou com uma dose baixa, de 0,1 ml duas vezes ao dia, sendo gradualmente aumentada para 0,5 ml duas vezes ao dia a cada três ou quatro dias.
Ao longo do tratamento, observou-se uma redução expressiva em comportamentos negativos, como explosões violentas, autolesões e dificuldades para dormir.
O paciente também mostrou melhora nas interações sociais, na concentração e em sua estabilidade emocional.
Os resultados sugerem que a combinação de CBD com baixa dosagem de THC foi eficaz no manejo dos sintomas de TEA, podendo impactar positivamente a qualidade de vida de pacientes atípicos e de seus cuidadores.
Canabidiol é indicado para todos os níveis de autismo?
O tratamento com Canabidiol para autismo não é igual para todos os casos, e há uma razão importante para isso: o autismo é um espectro com níveis e manifestações muito variadas.
Em algumas crianças e adultos com quadros mais leves, por exemplo, que não apresentam tantos desafios comportamentais, talvez o profissional de saúde não considere necessário introduzir o CBD.
As intervenções tradicionais – como terapias comportamentais ou ocupacionais – muitas vezes já trazem benefícios sólidos para esses perfis, e o CBD não seria uma prioridade nesses casos.
Já para os níveis mais desafiadores do espectro, onde comportamentos agressivos, crises de irritabilidade e dificuldades de comunicação são mais intensos, o CBD tem sido bem mais promissor.
Isso, em especial, para aqueles que não tiveram respostas favoráveis aos tratamentos convencionais. Nestes casos, o Canabidiol surge como um aliado potencial, aliviando sintomas e facilitando a rotina da família e do indivíduo.
No entanto, tudo é analisado caso a caso, com muita cautela, e sempre sob a supervisão de um profissional experiente.
Ou seja, a indicação do Canabidiol no autismo precisa ser individualizada, levando em conta as particularidades e os desafios específicos de cada pessoa.
Canabidiol é seguro para crianças com autismo?
A verdade é que, com o devido acompanhamento, o CBD tem se mostrado uma opção segura para muitas crianças que enfrentam dificuldades como irritabilidade, sono agitado e crises intensas.
Mas a palavra-chave aqui é “acompanhamento”: qualquer terapia à base de Canabidiol para crianças com autismo exige uma atenção contínua por parte dos médicos e da família.
Outro ponto importante é a qualidade do produto usado. Como o mercado do CBD está em expansão, garantir que o produto seja de fonte confiável, sem contaminações ou níveis elevados de THC, é uma necessidade.
Isso não é uma questão só de segurança, como também de maximizar os benefícios que o Canabidiol pode oferecer. Com produtos de qualidade e doses controladas, muitos pais relatam melhorias na qualidade de vida dos filhos.
Ainda assim, é preciso respeitar o ritmo de cada criança e observar atentamente qualquer mudança de comportamento.
Ajustes na dose ou até uma pausa no tratamento são decisões que só o médico, com o apoio da família, deve tomar.
Afinal, o objetivo é sempre o bem-estar e o desenvolvimento saudável da criança, sem pressa e com toda a segurança que ela merece.
Quais são as formas de tratamento com CBD para autismo?
Os medicamentos à base de Canabidiol para autismo vêm em vários formatos, o que dá maior flexibilidade de escolha ao paciente.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permite apenas o uso desses produtos por via oral e nasal, conforme estabelecido pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) Nº 327/2019.
Ainda assim, existe a possibilidade de, futuramente, novas opções serem autorizadas para pacientes brasileiros. Por ora, outras formas de CBD podem apenas ser obtidas via importação.
Confira abaixo os principais formatos de produtos de Canabidiol disponíveis.
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Óleo ou extrato
Esse formato é um dos mais prescritos, sendo ideal para administração oral ou sublingual. O óleo à base de CBD, normalmente vendido em frascos com dosador ou conta-gotas, permite aplicar o produto diretamente sob a língua.
Assim como nas cápsulas, a quantidade de Canabidiol e outros compostos varia. Porém, com o óleo, o usuário controla a dose pelo número de gotas.
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Cápsulas
O formato de cápsulas permite que o paciente atípico consuma o CBD sem se incomodar com o sabor do óleo, o que é útil para casos onde há dificuldades nesta área.
Cada cápsula possui uma dosagem fixa de CBD, podendo conter extrato de CBD isolado ou mesmo outras substâncias sintéticas que não fazem parte da Cannabis.
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Produtos de uso tópico
Apesar de não ser indicado para TEA, é interessante conhecer os produtos tópicos, como pomadas, cremes, óleos de massagem e adesivos transdérmicos.
Esses produtos são aplicados diretamente na pele, sendo indicados para tratar desconfortos musculares e irritações leves.
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Vaporizadores
Os vaporizadores são uma das maneiras mais rápidas de obter os efeitos do CBD, pois a inalação facilita a absorção da substância.
Esses produtos são fabricados como óleos, que se transformam em vapor ao serem aquecidos, ou como dispositivos específicos para vaporização.
Quais são os riscos e efeitos colaterais do Canabidiol para o autismo?
Os efeitos colaterais do Canabidiol, mesmo que leves, merecem atenção, especialmente em pessoas que estão começando a usá-lo em doses mais altas.
Entre as reações mais comuns, um sono excessivo aparece com certa frequência.
Esse cansaço adicional pode ser ideal para quem busca relaxamento ou uma forma de combate à insônia, mas para outros, a sonolência em momentos inesperados acaba interferindo na rotina.
Outra reação possível é a sensação de boca seca, que ocorre por uma ligeira diminuição na produção de saliva. Embora não seja grave, essa sensação costuma ser desconfortável.
Alterações no apetite também são relatadas, e cada pessoa experimenta de uma forma; algumas percebem uma diminuição do apetite, enquanto outras notam o efeito oposto, um aumento inesperado da fome.
Além disso, o Canabidiol pode causar variações momentâneas na pressão arterial, com uma leve queda em alguns casos.
Para quem já tem histórico de pressão baixa, esse efeito pode causar tonturas leves e até sensação de cabeça vazia, especialmente ao levantar-se rapidamente.
Em todo caso, os efeitos colaterais do Canabidiol durante o tratamento do autismo costumam ser passageiros, e muitos relatam que desaparecem conforme o corpo se adapta.
O Canabidiol pode causar dependência nos pacientes autistas?
A ideia de que o Canabidiol gera dependência é uma dúvida comum, mas felizmente as evidências mostram o contrário.
Diferente de substâncias que alteram a percepção ou provocam efeitos duradouros na química do cérebro, o Canabidiol não atua nos receptores cerebrais de forma direta.
Em vez de desencadear reações intensas de prazer ou recompensa, ele trabalha de maneira equilibrada, atuando de forma indireta nos receptores canabinoides.
Essa característica evita o ciclo de euforia que costuma estar associado a substâncias viciantes.
No uso contínuo, o Canabidiol é tão seguro que mesmo em doses elevadas a substância não leva ao desenvolvimento de dependência física ou psicológica.
Ainda que algumas pessoas possam sentir uma adaptação ao uso do CBD, esse processo é diferente de uma dependência, uma vez que, ao interromper o uso, não surgem os sintomas incômodos de abstinência que costumam acompanhar substâncias aditivas.
Há alguma contraindicação para o uso do Canabidiol?
O Canabidiol tem um risco muito baixo de causar efeitos adversos, especialmente quando o paciente o utiliza seguindo rigorosamente as orientações médicas.
No entanto, assim como qualquer medicação, ele não deve ser prescrito livremente para gestantes ou lactantes, a menos que o médico considere absolutamente necessário.
Isso porque não existem estudos conclusivos a respeito da segurança do Canabidiol para este grupo. Portanto, é recomendado evitar.
Além disso, pessoas que apresentem sensibilidade ao CBD podem não ser indicadas para o tratamento com essa substância. Aqui, existe um risco aumentado de reações adversas, tornando o uso inapropriado.
Em todo caso, cada situação é única, e apenas um médico pode avaliar se uma pessoa é elegível à terapia com CBD ou não.
Regulamentação do CBD no Brasil
A primeira regulamentação oficial sobre o uso medicinal de CBD no Brasil surgiu em 2015.
Naquele ano, a Anvisa publicou a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) Nº 17/2015, que estabeleceu normas para a importação de medicamentos contendo Canabidiol.
Segundo essa RDC, os produtos poderiam ser trazidos do exterior mediante receita médica, seguindo critérios específicos e com autorização prévia da Anvisa.
Quatro anos depois, em 2019, houve um importante avanço com a publicação da RDC Nº 327/2019, que definiu diretrizes para a comercialização de produtos de Cannabis medicinal no mercado brasileiro.
A normativa atualmente em vigor é a RDC Nº 660, que substituiu as anteriores, estabelecendo os procedimentos para pacientes que precisam importar Canabidiol, oferecendo um caminho regulado para essa aquisição no exterior.
Como iniciar um tratamento complementar com o Canabidiol?
Iniciar um tratamento complementar com Canabidiol é uma decisão que pode transformar sua saúde, mas é preciso encontrar um médico que entenda suas necessidades e prosseguir corretamente com as etapas subsequentes.
Veja como fazer isso na íntegra:
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Consulta médica
Agendar uma consulta médica é a oportunidade perfeita para você compartilhar suas inquietações e expectativas a respeito deste tratamento.
Ao chegar na consulta, relate sua experiência de saúde de maneira clara e honesta para ajudar o médico a entender o que está acontecendo, e como o Canabidiol pode se encaixar no seu tratamento.
Os médicos que atuam na medicina canabinoide costumam fazer perguntas detalhadas, então esteja preparado para discutir seus sintomas, seu estilo de vida e quaisquer outros medicamentos que esteja tomando.
Uma ótima maneira de facilitar a busca por profissionais prescritores de Cannabis é usar a plataforma do portal Cannabis & Saúde, que conecta pacientes a especialistas em todo o Brasil.
Essa ferramenta simplifica o agendamento de consultas, além de dar acesso fácil a profissionais qualificados.
Depois de sua consulta, e caso o tratamento com Canabidiol seja aplicável ao seu caso, o médico irá elaborar uma receita que você usará para a compra do produto, seja em farmácias brasileiras ou por importação.
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Solicitação à Anvisa
Quando seu médico prescreve um produto de Canabidiol que não está disponível no Brasil, o paciente deverá prosseguir com a importação.
E para que a importação seja bem-sucedida, será necessário obter uma autorização prévia da Anvisa.
Com sua receita médica em mãos, basta fazer seu cadastro no sistema de peticionamento da Anvisa clicando aqui e preencher o formulário com as seguintes informações:
- Dados pessoais do paciente (nome, CPF, endereço);
- Informações sobre o médico (nome, CRM, contato);
- Detalhes do produto a ser importado, incluindo a apresentação e a quantidade;
- Uma cópia da receita médica.
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Autorização da Anvisa
Depois de submeter o formulário com as informações corretas, basta aguardar a resposta da Anvisa.
Há casos em que a concessão da autorização é rápida, podendo levar menos de 24 horas. Entretanto, se houver alguma irregularidade na documentação, o processo pode levar mais tempo.
Após receber a autorização, o próximo passo é pesquisar fornecedores que atendam às exigências da Anvisa e de seu país de origem quanto à qualidade dos produtos oferecidos.
Faça uma pesquisa cuidadosa, leia avaliações e converse com outras pessoas que já passaram por esse processo.
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Compra e entrega
A escolha do fornecedor é um momento decisivo; você precisa garantir que está comprando de uma empresa respeitável e que segue todas as normas de segurança.
Portanto, procure por aqueles que ofereçam transparência sobre seus produtos, desde a origem até os métodos de produção.
Depois de selecionar um fornecedor e efetuar a compra, você receberá informações sobre o prazo de entrega.
Quando o produto chegar, faça uma inspeção cuidadosa. Verifique se está tudo conforme o que você pediu, conferindo a embalagem e o rótulo.
Se tudo estiver em ordem, você poderá começar a integrar o Canabidiol ao tratamento conforme o que seu médico receitou. Porém, se notar alguma irregularidade, não hesite em entrar em contato com o fornecedor.
Conclusão
Ainda há um caminho relativamente longo a percorrer até que o Canabidiol seja efetivamente incorporado como um tratamento de primeira linha para os sintomas do autismo.
Por isso, é preciso disseminar informação, a fim de que mais médicos passem a prescrever terapia à base de CBD e, assim, aumentar a relevância do assunto junto aos órgãos de controle.
Com uma regulamentação mais flexível, os pacientes atípicos em busca de tratamentos com Canabidiol podem ter acesso de forma mais facilitada, permitindo que tenham uma melhoria em sua qualidade de vida.
E para aprender mais sobre os benefícios do CBD para outras condições de saúde, fique sempre bem informado acessando os conteúdos publicados aqui, no portal Cannabis & Saúde!