Levantamento evidencia o crescimento de 93% nas importações, possível atualização regulatória e a Cannabis no SUS, como oportunidade de negócio
A Prohibition Partners acaba de divulgar o 4º Relatório Global sobre Cannabis, um mercado que vai fechar 2024 valendo 103,9 mil milhões de dólares, segundo as projeções dos especialistas.
No levantamento estão as principais tendências globais sobre o ecossistema canábico nos mercados continentais da África, Ásia, Europa, América Latina, América do Norte e Oceania.
Quais são as previsões?
Análise aborda a legislação internacional, as previsões de mercado nos mais diversos setores da cadeia produtiva da Cannabis e ainda traz as principais oportunidades comerciais para operadores e investidores internacionais.
O Brasil está entre os destaques
Na publicação, os números do Brasil foram evidenciados: o maior país e mercado da América Latina, o enorme potencial consumidor, as vastas terras agrícolas e o clima ideal para o cultivo da Cannabis e do cânhamo.
Desenvolvimento médico-industrial
De acordo com os analistas, o Brasil ainda reúne desenvolvimento médico-industrial complexo aliado a uma indústria agrícola sofisticada, “O país tem tudo o que precisa para se tornar um player importante no negócio da Cannabis”, diz o documento.
Achados científicos
O que falta, segundo o relatório, é contornar abordagens conservadoras que não levam em consideração achados científicos e os relatos dos pacientes.
“Há uma interferência contrária à agenda da Cannabis que não leva em conta a ciência, fatos, a experiências de outros países ou mesmo o potencial econômico e impacto social positivo que a boa regulamentação poderia ter”, avaliam.
Potencial não é concretizado por visão conservadora
De acordo com a análise do Prohibition Partners, o potencial do país ainda não foi concretizado graças a abordagens conservadoras e excessivamente cautelosas por parte do governo e dos órgãos reguladores no Brasil. “São 210 milhões de habitante e 8,8 mil per capita”, observa o relatório.
Em contraponto ao conservadorismo, o levantamento cita o trabalho das associações de pacientes, que têm cultivado a planta na desobediência civil com o objetivo de democratizar o acesso ao tratamento.
Importações cresceram 93% no Brasil
Adicionalmente, o relatório cita a crescimento virtuoso no número de pacientes importando remédios à base de Cannabis.
“As importações têm aumentado de forma constante, com um aumento de 93% em relação julho de 2022 a julho de 2023, e o total anual para autorizações de importação de Cannabis medicinal saltou de 17.812 em 2020 para 80.413 em 2022, e foi contabilizado em 66.159 até junho de 2023, segundo dados locais”, diz o relatório.
Duas empresas brasileiras foram citadas
A publicação ainda destacou o trabalho de duas farmacêuticas que já têm autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para vender medicamentos à base de Cannabis nas farmácias.
A Prati Donaduzzi, localizada no Paraná, foi reconhecida por firmar parceria com a Brains Bioceutical, líder internacional em ingredientes farmacêuticos ativos (API) com o objetivo de expandir as operações e trazer novas apresentações ao mercado.
Já a farmacêutica mineira Ease Labs Pharma foi citada por conseguir captar cerca de £2,5 milhões de financiamento de um banco nacional, para aquisição de uma empresa colombiana especializada em genética de Cannabis.
A Cannabis no SUS
Para completar, o levantamento da Prohibition Partners ainda fala sobre a distribuição de medicamento à base de canabinoides via Sistema Único de Saúde e a eleição de um governo mais progressista como uma possível abertura legal.
“No contexto de um novo governo executivo este ano, com uma visão menos conservadora em relação à Cannabis, discussões políticas estão esquentando em Brasília, com projetos que vão desde aprovação de cultivo comercial de cânhamo e Cannabis até a distribuição de canabidiol no sistema público nacional de saúde, atendendo cerca de 190 milhões de pessoas em todo o país”, afirma a publicação.
Profissionais da Cannabis
Apesar de todas as limitações legais no Brasil, os analistas identificaram que há no país uma tendência para especialização no ecossistema da Cannabis. De acordo com o relatório, os profissionais tem buscado se especializar em todas as áreas: marketing, laboratórios e escritórios de advocacia.
Revisão da RDC 327/2019
Os pesquisadores ainda demonstraram estar antenados ao regulatório do país. A tão aguardada revisão da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 327/2019 da Anvisa, que autoriza o comércio de derivados da Cannabis nas farmácias do país, também entrou no relatório.
“Para 2024, acreditamos que a próxima revisão da RDC 327 da ANVISA leve em consideração o volume e/ ou ausência de canabinaides, o que significa que produtos com baixo teor de canabinoides ou derivado de óleo de semente de cânhamo será regulamentado e vendido sem a necessidade para uma prescrição médica”, projeta a pesquisa.
No webinar de lançamento da publicação nessa tarde, Sasho Stefanoski – CEO, PHCANN Internacional, disse que 2024 será um ano muito positivo para a indústria da Cannabis e que a empresa está investindo para conseguir o registro do medicamento no Brasil.
“Nosso foco é a Ucrânia, por causa do momento. Por causa da guerra muitas pessoas vão precisar da Cannabis para lidar com o estresse pós-traumático. Na sequência, a nossa prioridade é o Brasil e em terceiro é a Espanha”, revela o CEO.
Confira os principais fatos elencados pelo 4º Relatório Global sobre Cannabis sobre os avanços no ecossistema canábico brasileiro:
• Presidente Lula e seu Ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, declararam em setembro de 2023 serem a favor do cultivo e produção nacional da Cannabis para fins medicinais.
• Em setembro de 2023, São Paulo recebeu o maior evento sobre Cannabis do país: ExpoCannabis Brasil 2023 reuniu mais de 21 mil pessoas em três dias com mais de 140 empresas expositoras.
• Em agosto de 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF), retomou o julgamento que pode descriminalizar o porte de Cannabis para uso pessoal. Placar atual: 5 X 1 a favor da descriminalização do porte da erva.
• Em julho de 2023, a ANVISA proibiu a importação de flores de Cannabis para uso médico.
• Em 2023, diversos estados aprovaram leis para garantir a distribuição de remédio à base de Cannabis através do SUS. • Em junho de 2023, pesquisadores brasileiros da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram uma planta que produz CBD – a trema micrantha.
• Em março de 2023, foi apresentado um projeto de lei nacional para que medicamentos à base de Cannabis sejam distribuídos gratuitamente via SUS. “O projeto de lei está sendo analisado e discutido, e se aprovado, o potencial do mercado brasileiro aumentaria exponencialmente”, conclui o relatório.
Quer saber mais detalhes sobre o relatório e as projeções para demais países?
https://prohibitionpartners.com/reports/the-global-cannabis-report-4th-edition/
O uso medicinal da Cannabis já é legal no Brasil
O uso medicinal da Cannabis no Brasil já tem regulação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio das RDC 660 e RDC 327. No entanto, para isso, é preciso prescrição médica.
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