O Brasil enfrenta um avanço nos casos de dengue, doença viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Com 650 mil casos de dengue nas primeiras semanas de 2024, estamos diante de uma escalada histórica da doença.
Houve um aumento de 300% nos registros prováveis, em comparação com o mesmo período de 2023 e, até então, são 113 mortes confirmadas. Além disso, há 438 óbitos em fase de investigação, conforme divulgado pelo Ministério da Saúde.
Esses números representam um aumento significativo em relação a 2023, ano em que o país já havia registrado um recorde de mortes por dengue. O Ministério da Saúde alerta que o atual ritmo de casos nunca foi atingido tão rapidamente, projetando a possibilidade de alcançar 4,2 milhões de casos até o final do ano.
Os dados preocupantes, com um aumento expressivo nos registros, demandam uma análise aprofundada, para compreender os fatores que contribuem para esse crescimento. Buscando insights sobre a situação, entrevistamos a infectologista Laís Vasconcellos, que compartilhou sua visão sobre a atual situação e estratégias para o enfrentamento da dengue.
Dengue: sintomas e sinais de alerta
Dra. Laís destaca os sinais característicos da dengue, incluindo febre abrupta, cefaleia, fraqueza, dores no corpo, artralgias (dor nas articulações) e rash cutâneo (vermelhidão).
A infectologista reforça ainda a importância de estar atento aos sinais de alerta, que podem representar um agravamento do quadro. São eles:
- Dor abdominal intensa
- Vômitos persistentes
- Hipotensão postural
- Desmaios
- Sangramento de mucosas (nariz, gengiva, vômito ou fezes com sangue)
- Letargia e irritabilidade
Ainda de acordo com a médica, a identificação precoce desses sinais é crucial para um prognóstico favorável e, nesses casos, é fundamental procurar o pronto atendimento com urgência.
Para enfrentar a propagação da dengue, a Dra. Laís Vasconcellos destaca a relevância da prevenção e medidas práticas para eliminar focos de água parada, como vasos de planta, pneus e recipientes que possam acumular água.
“A evolução desse mosquito, originário do continente africano aconteceu no século XVI, durante as grandes navegações exploratórias. O Aedes aegypti acompanhou essas expedições, disseminando-se pelo mundo. Sua adaptação é notável, pois deposita ovos em água parada, sendo um desafio removê-los. A utilização de água sanitária é vital, já que as larvas têm uma resistência surpreendente, podendo permanecer até um ano em meio não aquoso. Essa capacidade de sobrevivência destaca a importância das ações preventivas para interromper o ciclo do mosquito”, alerta.
A médica reforça ainda que a dengue é uma arbovirose, uma doença viral transmitida por mosquitos.
“Existem quatro sorotipos do vírus que causa a dengue: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. O tempo de incubação, correspondente ao período entre a picada do mosquito e o desenvolvimento da doença, varia de 4 a 10 dias. Geralmente, a infecção é leve e raramente se agrava. Durante esse período, a doença pode persistir por até 7 dias, com alguns indivíduos apresentando maior prostração e cansaço, podendo levar até 10 a 14 dias para a recuperação”, explica.
Cannabis Medicinal pode ser uma aliada no alívio dos sintomas?
“Embora a aplicação da Cannabis como antiviral ainda não seja amplamente adotada, pacientes que fazem uso adequado da planta, associado a hábitos saudáveis, podem experimentar menor frequência de infecções virais.”
A médica aponta para estudos que indicam benefícios no uso da Cannabis para sintomas como dor, mal-estar e falta de apetite, ressaltando a importância de um uso responsável.
“Inclusive, em um estudo sobre o uso da Cannabis medicinal, observou-se que pacientes internados devido à COVID apresentaram menor probabilidade de agravamento do quadro, ao fazer uso desse medicamento. Percebo uma melhora notável e um uso mais seguro da Cannabis para aliviar os sintomas da infecção viral, como dor e mal-estar. Além disso, ela contribui para melhorar a falta de apetite, levando as pessoas a se alimentarem de forma mais adequada em comparação àquelas que não utilizam medicamentos à base de Cannabis.”
Pesquisa da UFPE: Cannabis no controle do mosquito transmissor
Para além das aplicações medicinais da planta, um estudo recente da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) investiga o potencial da Cannabis no controle do mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue.
A infectologista expressa otimismo em relação a essa abordagem inovadora, destacando a vantagem ambiental da Cannabis, em comparação com venenos convencionais.
“Acredito que seja uma abordagem bastante válida. Se os estudos continuarem e houver apoio, acredito que a utilização da Cannabis pode ser benéfica. Além disso, é importante destacar que a planta não causa danos ao meio ambiente, ao contrário de alguns venenos.”
A importância de abordagens integradas para conter o avanço de casos de Dengue
Ao analisar as perspectivas para o enfrentamento do avanço nos casos de dengue, a médica destaca a importância de abordagens integradas. Desde a identificação precoce dos sintomas até a prevenção efetiva e inovações, como o uso da cannabis e pesquisas para controlar o vetor, as estratégias apresentadas oferecem uma visão abrangente, para lidar com esse desafio de saúde pública.
“Sempre que temos uma população gerando resíduos, especialmente os não biodegradáveis, esses materiais persistem na natureza por anos a fio, contribuindo para a proliferação do mosquito.”
Outro ponto crucial é a falta de conscientização. Com a fase de chuvas intensas no Brasil, que vai até maio, aliada ao calor extremo, todas essas condições proporcionam um ambiente propício para a proliferação do mosquito.
“A responsabilidade recai sobre cada um de nós, pois, se não houver uma mudança de atitude em relação à limpeza e ao descarte adequado de resíduos, infelizmente, o número de casos tenderá a aumentar. Não podemos depositar a responsabilidade apenas nas autoridades municipais ou governamentais; é uma responsabilidade pessoal. Portanto, é fundamental que cada um assuma seu papel na proteção da comunidade e no combate às condições favoráveis à proliferação do mosquito”, conclui.