De acordo com o documento, o Governo Federal, que já fornece medicamento à base de maconha via SUS, nega o uso medicinal da planta e espalha fakenews
As Associações da Cannabis Medicinal do Brasil acabam de lançar uma carta de repúdio à “cartilha da maconha”, recém-lançada pelo Governo Federal, que nega o uso medicinal da Cannabis e classifica a planta como a “droga da morte”. A petição é um trabalho coletivo elaborado durante o 3º Seminário Internacional sobre Cannabis: Um olhar para o futuro, que aconteceu nos dias 09 e 10 de julho, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. O evento, que reuniu mais de 700 pessoas, foi promovido pela FioCruz em parceria com a Apepi (Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal).
De acordo com as Associações, o guia elaborado pela Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (Senapred) em parceria com os ministérios da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, da Saúde, e da Justiça e Segurança Pública traz desinformação e trata o uso medicinal da Cannabis de forma tendenciosa, ideológica, ignorando mais de 28 mil estudos científicos, disponíveis na PubMed, uma das principais bases de dados da Medicina.
A nota de repúdio ainda lembra que o uso medicinal da Cannabis já é regulado desde 2015 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – órgão vinculado ao Ministério da Saúde – que autoriza a importação de medicamentos à base de maconha. O documento traz dados da Anvisa, que em 2021 aprovou mais de 35 mil solicitações de importação de pacientes. O texto destaca também que a Agência Reguladora já autorizou a comercialização de 19 produtos para serem vendidos nas farmácias. E o próprio Sistema Único de Saúde (SUS), por meio das Farmácias de Alto Custo, fornece remédio à base de maconha em alguns estados, como por exemplo no Distrito Federal onde 17 pacientes com epilepsia refratária recebem o medicamento do Governo Federal.
O que dizem os médicos?
Todos os médicos ouvidos pelo portal Cannabis & Saúde durante o evento no Rio de Janeiro lamentaram a politização do uso medicinal da Cannabis em ano eleitoral. A médica Eliane Nunes, diretora da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis (SBEC), disse que essa cartilha será contestada na justiça. “Nós no Brasil temos uma hipocrisia muito grande quando falamos de maconha. Essa é uma planta milenar de uso histórico e tradicional. Estamos vivendo num momento onde dizem que a Terra é plana. Chega de obscurantismo. A gente precisa mudar isso, e só vamos conseguir elegendo a bancada verde. Pessoas de todos os partidos que defendam a maconha medicinal”, afirma a diretora do SBEC, que também é coordenadora do projeto “Mulheres e Mães Jardineiras”.
O neurocientista, Sidarta Ribeiro, também reprovou o documento. “Infelizmente a gente tem um governo negacionista que sempre que pode atenta contra os fatos científicos. No caso da maconha medicinal, mesmo no caso das pessoas mais conservadoras, elas se rendem às evidências quando ficam doentes ou algum de seus familiares precisam desse medicamento. Não podemos esperar precisar para ser a favor. A maconha medicinal é um remédio muito importante e quanto antes entramos no século 21, melhor”, alerta o professor e pesquisador.
O objetivo da petição é reunir pelo menos 50 mil assinaturas para que o documento seja entregue em mãos aos representantes dos Ministérios que elaboraram a cartilha com o intuito de exigir retratação pela divulgação de informações falsas e desserviço à população.
Para ler a nota de repúdio e assinar a petição clique aqui:
Abaixo-assinado · NOTA DE REPÚDIO AO GOVERNO FEDERAL · Change.org