O apoio ao uso de Cannabis para tratamentos médicos tem crescido no Brasil, conforme aponta uma nova pesquisa realizada pelo PoderData. O levantamento revelou que, em um ano, o percentual de brasileiros favoráveis à liberação da Cannabis medicinal aumentou de 56% para 60%. O que significa um avanço de 4 pontos percentuais.
Para o neurologista Dr. Marcos Prandine, esse crescimento está alinhado à ampliação das pesquisas científicas e ao aumento no número de pacientes que relatam experiências positivas com a terapia canabinoide.
“A tendência é que esse apoio continue a crescer. A terapia canabinoide traz benefícios visíveis, e isso não pode ser ignorado. É uma questão de tempo para que se estabeleça de vez no Brasil”, afirma o médico.
Perfis que mais apoiam e se opõem
A pesquisa mostrou que o apoio à liberação da Cannabis medicinal é mais forte entre os jovens de 16 a 24 anos, com 63%, e entre aqueles que estudaram até o ensino fundamental, onde o índice chega a 67%.
“Hoje em dia há militares, filhos de militares, de pastores, padres e crianças que utilizam Cannabis medicinal. Há um boom em pacientes que estão sendo tratados com Cannabis”, destaca Dr. Prandine.
Já os mais críticos à liberação, ou seja,os que se dizem contrários, compreende pessoas de meia-idade, de 45 a 59 anos, 35%, e os moradores do Centro-Oeste, 38%, e do Norte. 35%.
Superando preconceitos e desinformação
De acordo com o Dr. Marcos Prandine, a terapia canabinoide enfrentou significativa resistência tanto da comunidade científica quanto do público em geral há cerca de dez anos, quando o debate sobre o uso medicinal da Cannabis começou a ganhar força na sociedade. Naquela época, havia muita desinformação e preconceito em torno do tema, e a associação equivocada entre o uso medicinal da Cannabis e o uso recreativo da maconha gerou desconfiança e rejeição.
“Houve uma errônea associação da Cannabis medicinal com a maconha fumada, a confusão serviu de base para muitas pessoas terem uma aversão gratuita contra a terapia com Cannabis medicinal, sem sequer saber do que se tratava”, explica.
No entanto, ele ressalta que, com o tempo, o cenário começou a mudar. Estudos científicos sobre os benefícios da terapia canabinoide no tratamento de condições diversas começaram a emergir e demonstrar resultados promissores.
“A população geral começou a utilizar dessa terapia, principalmente, no primeiro momento, as mães com os filhos com epilepsia, autismo e todas as doenças de dor”.
Desafios para o futuro
Apesar do avanço, o Dr. Prandine acredita que o principal desafio para a expansão da Cannabis medicinal no Brasil ainda é a falta de conhecimento. Tanto entre os profissionais de saúde quanto entre os pacientes.
“Estudos na formação de profissionais prescritores são fundamentais para que aumente a prescrição das substâncias canabinoides. Mais estudos científicos confirmando os benefícios e a divulgação desses estudos também. E, claro, é necessário a troca de conteúdo sobre o tema entre pacientes”, afirma.
Hoje, cerca de 430 mil brasileiros já fazem uso de tratamentos à base de Cannabis, sendo a dor crônica a condição mais comum tratada com a planta, representando 35,5% dos casos, segundo dados do portal Cannabis & Saúde. Entre as doenças tratadas estão fibromialgia, artrite, artrose, enxaqueca e dores oncológicas.
Para o médico, com a crescente adesão de pacientes e a produção de mais evidências científicas, a expectativa é que o uso da Cannabis medicinal continue ganhando espaço. E se torne uma terapia cada vez mais presente no Brasil.