Sua história, no entanto, ainda está longe do fim. Ainda busca em diferentes médicos as respostas que não tem sobre sua condição, a depressão. Não sabe, por exemplo, porque sente picadas por todo o corpo quando sai ao sol, nem como vai conseguir mais óleo quando esse acabar.
Paulo* não deu atenção aos primeiros sinais. Dois caroços nas pernas, um pouco de dor na coluna e muito cansaço. Aos 28 anos, com filho para criar e trabalhando como porteiro de um prédio na Zona Norte de São Paulo, não tinha muito tempo para se preocupar com isso.
“A gente acha que não é nada, quando é no começo,” conta. Seus gânglios linfáticos, próximos à virilha, estavam inchados. “Cinto eu não conseguia usar mais. Nem calça que esquentava muito ou sapato. Tomava muita dipirona.”
Certo dia, quando carregava alguns móveis, ficou impossível ignorar seu corpo.
“Senti minhas pernas travarem e um choque enorme na barriga”, lembra.
Desde esse dia, em 2014, sua vida não foi mais a mesma. Começou a peregrinação pela rede pública de saúde. Nos longos intervalos entre um exame e outro, de consulta em consulta, sua condição foi deteriorando.
“A dor começava na coluna e irradiava para a nuca. Sentia choques nos braços se fizesse muita força. Por exemplo, em um ônibus, se segurar na barra e colocar muita força, eu começo a sentir choques nas mãos.”
Passou a tomar Tramadol para a dor, mesmo tempo que viu uma gastrite intensa lhe atacar. Começou a ter enjoos e vomitar quando comia. Perdeu 22 quilos nesse processo. Sem poder trabalhar, perdeu o emprego.
“Aí veio a ansiedade. A depressão, porque você não consegue sustentar a sua casa. Você tem uma esposa, casa e filho. Vê as coisas acabando dentro de casa, e você não consegue sustentar.”
Tudo virou uma bola de neve
A dor levou à depressão, que fragilizava ainda mais sua saúde. Antidepressivos, como Amitriptilina e Sertralina, entraram para o seu dia-a-dia. Mas só serviram para piorar as condições de seu estômago. Adicionou Omeprazol à lista de remédios.
Sem conseguir acompanhar a rotina de seu filho, então com 6 anos, Paulo teve que ir morar com a avó.
“Quando eu tinha que fazer qualquer coisa que tivesse de sair de casa, já vinha a ansiedade. Eu tinha medo de não conseguir fazer”, desabafa.
Recebeu o diagnóstico de ansiedade generalizada. “Você anda pensando que vai acontecer alguma coisa de ruim. Eu só pensava em morte”, diz Pedro. “Eu fiquei muito triste. Eu estava com 30 anos e vivia tomando remédio. Nenhum médico conseguia ajudar.”
Passou cirurgia para varicocele e hérnia inguinal, mas a melhora foi temporária. Somente depois de dois anos de espera na fila do SUS, conseguiu uma consulta com um neurologista. Uma eletromiografia detectou uma doença chamada Síndrome do Túnel de Carpo, que causa dormência e formigamento nas mãos por um nervo comprimido.
Com dores frequentes, também recebeu o diagnóstico de fibromialgia, mas sem definição certa das causas. Somente o Tramadol, que age especificamente na dor, ajudava um pouco, mas não sem danos colaterais.
Quando, em mais uma passagem por um clínico geral do sistema público, o médico insinuou que as dores que por anos o debilitava eram coisa de sua cabeça, decidiu que estava na hora de buscar alternativas.
Buscou por terapias naturais. Mudou toda sua alimentação, o que aliviou as dores no estômago e limitou o consumo do analgésico somente diante das fortes e frequentes crises. Suco de couve e leite de magnésio se mostraram mais eficazes que o Omeoprazol.
Nada, no entanto, ajudou com a dor. Foi nessa busca por qualidade de vida que encontrou o Dr. Remo Rotella Júnior, psicoterapeuta especialista no tratamento de dor. Passou a tomar Naproxeno, indicado para alívio da dor causada por inflamação; pregabalina, anticonvulsivo e antiepilético também utilizado no tratamento da dor periférica, ansiedade e fibromialgia; e duloxetina, um antidepressivo.
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Cannabis medicinal
A principal novidade na lista de novos medicamentos, no entanto, foi a indicação de canabidiol. Sem autorização da Anvisa, ganhou de um amigo um pouco do óleo, mas não fez o efeito desejado. Isso mudou quando, por meio de uma associação, teve acesso a um óleo integral de uma variedade da Cannabis chamada Manga Rosa, que tem uma proporção de aproximadamente três partes de THC para uma de CBD.
“O óleo com esses medicamentos que ele indicou, eu fiquei praticamente zerado da dor por umas duas semanas, conta Pedro.
Mas os remédios acabaram e, sem acesso à eles pelo SUS, teria que pagar cerca de R$ 200 para seguir com o tratamento. Algo inacessível para ele. Restou seguir com o óleo.
“De 100%, só com o óleo da Manga Rosa, hoje eu estou 80% melhor da dor.”
Faz dois meses que toma o óleo e já voltou a trabalhar. Hoje é ambulante e trabalha vendendo bolo e café pelas ruas.
“Mas não tenho autorização. Imagina como é ter que fugir da fiscalização com dores”, revela.
Está melhor da depressão, embora ela não tenha desaparecido.
“Não é algo milagroso. É um remédio igual aos outros. Estou melhor e não senti nada daquele efeito
de euforia (associado ao THC). Foi como qualquer medicamento.”
Na verdade, não foi como qualquer medicamento. Nada que havia tomado antes fora tão eficaz.
“Tenho umas duas ou três crises de dor por mês desde que eu estou tomando o óleo. Antes, era toda semana. Dores, todos os dias.”
Sua história, no entanto, ainda está longe do fim. Ainda busca em diferentes médicos as respostas que não tem sobre sua condição. Não sabe, por exemplo, porque sente picadas por todo o corpo quando sai ao sol, nem como vai conseguir mais óleo quando esse acabar.
“Como óleo me ajudou bastante, vou ver se consigo passar com os médicos de novo e encontrar uma associação que forneça o óleo. Eu quero zerar minha dor. Leio muitos estudos, e as pessoas estão tendo resultados muito bons”, deseja.
* O paciente preferiu preservar sua identidade e teve o nome alterado.
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