Quando existe um transtorno alimentar, seja para mais (compulsão) ou para menos (anorexia), ocorre uma biorregulação do sistema endocanabinoide para uma otimização do balanço energético”, explica o psiquiatra Wilson Lessa, especialista em transtornos alimentares.
Comer é muito prazeroso. Nosso cérebro evoluiu para produzir sentimentos de euforia quando comemos porque as refeições aumentam a probabilidade de sobrevivermos e transmitirmos nossos genes – o que, por sua vez, induz a próxima geração a gostar de comer também. No entanto, para algumas pessoas, comer pode levar a sentimentos de ansiedade e medo.
A comida, ou mesmo a expectativa de se alimentar, faz com que alguém com anorexia nervosa, por exemplo, se sinta terrivelmente desconfortável. A única coisa que pode reduzir essa ansiedade é evitar completamente a comida. Surpreendentemente, apesar de seus intensos esforços mentais para evitar os alimentos, eles costumam estar preocupados com pensamentos a respeito ou com a intenção de prepará-lo para os outros. O alimento nunca perde verdadeiramente sua influência sobre o cérebro!
Para aqueles que sofrem com transtornos alimentares, existem algumas evidências de que pode haver um desequilíbrio na química do cérebro relacionada ao sistema interno de neurotransmissores da maconha. É o já conhecido sistema endocanabinoide, e sua interrupção pode ser responsável pelo desenvolvimento de diversas disfunções.
De alguma forma, a funcionalidade do sistema endocanabinoide é afetada ou prejudicada negativamente em pessoas com anorexia ou bulimia.
“O sistema endocanabinoide é o grande maestro de uma orquestra de vários sistemas fisiológicos interdependentes. Como disse certa vez o importante pesquisador italiano Vincenzo di Marzo, o sistema endocanabinoide é essencial para a vida e afeta como nós relaxamos, comemos, dormimos e nos protegemos. Quando existe um transtorno alimentar, quer seja para mais (compulsão) ou para menos (anorexia), ocorre uma biorregulação do sistema endocanabinoide para uma otimização do balanço energético”, explica o psiquiatra Wilson Lessa, especialista em transtornos alimentares.
Não é novidade que, de um modo geral, a utilização da Cannabis aumenta o apetite. O THC e seu estímulo do receptor CB1 são os responsáveis pela conhecida “larica”. Por outro lado, sabemos que o bloqueio desse mesmo receptor CB1 inibe o apetite.
O famoso medicamento Rimonabanto deixou isso bem evidente há pouco mais de uma década, sendo até uma excelente promessa para um anorexígeno, não fosse seus graves efeitos colaterais no que se refere à depressão. Por outro lado, O THCV é um fitocanabinoide com atividade anorexígena eficiente e segura. O próprio canabidiol, em sua ação no sistema serotoninérgico, também tem uma ação de diminuir a fome.
Existem estudos que provam que a Cannabis pode estimular o apetite. Isto é especialmente verdadeiro para pessoas que sofrem de doenças como câncer ou HIV e não sentem fome devido à medicação forte. Infelizmente, a pesquisa sobre transtornos alimentares é muito limitada, e os resultados são por vezes contraditórios.
Enquanto algumas pesquisas têm o efeito apetitivo de Cannabis a confirmar, o resultado é menos positivo em outras. Em alguns casos, o apetite dos pacientes é realmente estimulado, mas um aumento da ingestão de alimentos ou ganho de peso nem sempre pode ser observado.
“Um estudo interessante de 2013, intitulado “Cannabis and Delta9THC for weight loss?” de Bernard Le Foll, chegou à conclusão de que a prevalência de obesidade é paradoxalmente menor em usuários de Cannabis, quando comparado a não usuários e não relacionada ao uso do tabaco e outras variáveis como sexo e idade.” descreve o Dr. Wilson Lessa
Com essa característica de dualidade da planta Cannabis, um tanto quanto yin-yang, e percebendo que determinados fitocanabinoides são orexígenos (estimulam apetite) e outros anorexígenos (diminuem apetite) podemos pensar no tratamento de uma gama de transtornos alimentares. Lembrando que o canabidiol, por sua ação anti-inflamatória nos vasos sanguíneos, também diminui os efeitos ateroscleróticos induzidos pelo excesso de glicose. Ou seja, pode ser útil na causa e nas consequências dos distúrbios alimentares em muitos casos.
Já a nutricionista Andrea Menezes deixa claro que o uso da Cannabis sem uma alimentação adequada e um acompanhamento psicológico não faz milagre. Ela já trabalhou com uma paciente anoréxica e o uso de Cannabis foi uma parte importante do tratamento para estimular o apetite e diminuir a ansiedade, mas foi um tratamento em conjunto com muitos outros elementos.
Andrea também falou sobre como o sistema endocanabinoide do cérebro normalmente controla quanto prazer obtemos de experiências sensoriais; isso nos motiva a repetir a experiência repetidamente. Um interesse obsessivo em alimentos associado a uma resposta emocional inadequada é consistente com uma disfunção no sistema endocanabinoide do cérebro. Essas novas informações podem ajudar a identificar novos alvos para medicamentos que podem ajudar a reverter os sintomas de transtornos alimentares.
O médico Gilberto Kocerginsky, que atua com Cannabis medicinal desde 2014, tem tido um bom resultado no uso de CBD (com muito pouco THC) em pacientes obesos e no controle de suas ansiedades e compulsão alimentar.
A Cannabis medicinal e o sistema endocanabinoide atuam como modulador do sistema nervoso central, equilibrando a liberação de neurotransmissores na sinapse e isso faz com que os componentes de compulsão possam se beneficiar muito desse tratamento. Lembrando que os 3 principais neurotransmissores relacionados à compulsão seriam: serotonina, dopamina e os receptores opiáceos. Quando existe um desequilíbrio desses três sistemas, surge um transtorno de compulsão. Pode ser tanto transtorno alimentar como de jogos, alcoolismo e dependência química.
O sistema endocanabinoide ajuda na remodelação desses neurotransmissores. E com isso é possível restringir a compulsão alimentar ou atitudes prejudiciais como, por exemplo, em um paciente bulímico.
A Cannabis medicinal pode e deve ser usada como acessório e até mesmo como um tratamento inicial para transtornos alimentares. Tudo é um mecanismo de equilíbrio dos nossos neurotransmissores, e a Cannabis atua como um grande modulador desse sistema, equilibrando serotonina, dopamina, como o sistema opiáceo e endógeno.
Com a liberação de determinados hormônios, como grelina e leptina, facilita o processo de apoio a esses pacientes. Lembrando que cada caso merece um raciocínio clínico exclusivo, pois cada paciente e transtorno irá pedir um tipo de Cannabis e uma dose específica para ter um resultado terapêutico ideal.
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