Certamente você conhece alguma mãe que transformou seu mundo por um filho. A história de Ana Maria S. Ros de Mello é um poderoso testemunho da força do amor materno e da capacidade humana de transformar desafios pessoais em movimentos de impacto social. Engenheira naval de formação, a primeira mulher engenheira naval da escola politécnica da USP, Ana nunca imaginou que sua vida tomaria um rumo tão inesperado. “Quando me falaram que era impossível, ou até proibido, uma mulher ser engenheira naval, eu fui ainda mais atrás e consegui”, sorri ao lembrar da época de estudos. Antes de ter seu quarto filho diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista e fundar a AMA – Associação de Amigos do Autista.
TEA na família: a busca pelo diagnóstico e a luta por informações
No entanto, o diagnóstico Guilherme, na época com quatro anos, a impulsionou a uma jornada de busca por conhecimento, apoio e, finalmente, à criação de uma organização que hoje beneficia inúmeras famílias.
“O Guilherme foi uma criança que deu sinais desde que nasceu que alguma coisa não ia bem com ele. E isso não é típico da condição de autismo. E aí aquilo foi muito, muito, muito difícil, porque eu tinha três filhos pequenos, ele era o quarto. E a diferença era pouca. Fui atrás de muitos profissionais até chegar ao diagnóstico de autismo”.
A fundação da AMA: Trabalho desde 1983
E então, junto com outros pais, Ana fundou em São Paulo a AMA – Associação de Amigos do Autista, em 8 de agosto de 1983.
“Era uma necessidade que existia de um grupo de pais, muitos deles com filhos pequenos recém diagnosticados, de encontrar um espaço para compartilhar experiências, aprender sobre o autismo e buscar soluções para as dificuldades enfrentadas”.
O que começou como um grupo de apoio logo se transformou em uma instituição que promove eventos e dissemina informações sobre o TEA para um público amplo, inclusive com a participação de especialistas de todo o mundo. “Já no nosso primeiro evento contamos com pessoas da Espanha que pesquisavam sobre autismo e trouxe o que existia de mais inovador à época”.
“O papel da AMA no desenvolvimento do conhecimento sobre o autismo foi de extrema importância, é fundamental as pessoas conhecerem a história da AMA, pois nossa história contribuiu para que o autismo hoje seja familiar a todos”.
Hoje, a AMA oferece assistência educacional e terapêutica individualizada e gratuita a crianças, jovens e adultos com autismo, abrangendo todos os níveis de suporte. A associação atende em média 400 pacientes encaminhados pelas Secretarias de Saúde e Educação, garantindo que aqueles que necessitam de apoio tenham acesso aos serviços essenciais para o seu desenvolvimento.
XXII Encontro de Amigos pelo Autismo: 7 e 8 de agosto
Para Ana, a atuação da AMA é fundamental, pois promove a inclusão social e melhora a qualidade de vida dos indivíduos com TEA e de suas famílias. E ainda que a AMA já tenha conquistado um espaço significativo no cenário do autismo, Ana Maria Melo permanece uma aprendiz constante e busca incessantemente expandir seus conhecimentos. Em agosto, a entidade realiza o XXII Encontro de Amigos pelo Autismo nos dias 7 e 8 de agosto.
Cannabis e autismo
Atualmente, o interesse de Ana se volta para novas pesquisas em tratamentos para o TEA. E os estudos científicos sobre o uso da Cannabis como tratamento complementar para o autismo. Para ela, este é um tema que exige cautela e embasamento científico, mas que tem despertado o interesse de muitos pais e profissionais da área.
“Temos alguns assistidos na AMA, que usando a medicação à base da Cannabis, diminuíram as crises epiléticas. São importantes as pesquisas sobre o tema e estou aberta a discutir e ouvir mais sobre. Tudo o que é tratado com respeito me interessa”, finaliza Ana.
TEA: conheça um panorama das pesquisas científicas
A utilização da Cannabis medicinal em pacientes com autismo é uma área de estudo ainda em desenvolvimento. Alguns estudos preliminares sugerem que compostos da Cannabis, como o Canabidiol (CBD), podem auxiliar no alívio de alguns sintomas associados ao TEA, como a ansiedade, a irritabilidade e os distúrbios do sono. No entanto, é crucial ressaltar que a pesquisa é limitada e que os resultados são variáveis.
CBD e THC
A Cannabis contém compostos ativos, sendo os mais estudados o THC e o Canabidiol (CBD). O CBD tem se destacado por suas propriedades ansiolíticas e anticonvulsivantes.
Pesquisas preliminares indicam que a Cannabis, especialmente em sua forma que contém CBD, pode ajudar a controlar alguns dos sintomas do autismo. Um estudo publicado em 2018 na revista Nature, com 188 pacientes, mostrou que 90% dos envolvidos relataram alguma melhora nos sintomas, incluindo redução de ansiedade e agitação.
As famílias relataram melhorias significativas em comportamentos, como redução de crises de irritabilidade e ganho em interação social. Os médicos também notaram que o uso de canabinoides ajudou a melhorar a qualidade de vida dos pacientes, permitindo uma maior autonomia e interações sociais mais construtivas.
Leia mais pesquisas sobre Cannabis e autismo:
- Cannabis e autismo: comunicação e socialização se destacam entre os principais benefícios do tratamento
- Abril Azul: o desafio da subnotificação e diagnóstico tardio do autismo no Brasil
Mas, assim como Ana já sinalizou, apesar dos potenciais benefícios, a pesquisa sobre o uso de Cannabis para o tratamento de autismo ainda deve, e precisa, crescer.
Leia relatos de pacientes aqui:
- O Impacto do CBD no desenvolvimento de Pietra: como a Cannabis medicinal tem ajudado no tratamento do autismo
- Conectando autismo em adultos e Cannabis: o poder da informação
Independente de estar nas comemorações do mês de abril é imprescindível para nós do portal Cannabis & Saúde conhecer histórias inspiradoras e transformadoras como a de Ana. Relatos como o de Ana, e de tantas outras mães, provam que nenhuma força é maior que a materna e demonstram o poder da resiliência e da mudança, enriquecendo nossa compreensão sobre a experiência humana. E os desdobramentos que podem conectar com os benefícios da Cannabis medicinal.
É importante destacar que, no Brasil, o uso de Cannabis medicinal é legal apenas com a orientação e prescrição de um profissional de saúde qualificado. Caso esteja interessado em iniciar um tratamento com canabinoides, é crucial buscar um especialista com experiência nesse setor.