“O Alzheimer é a patologia que eu mais trato. Então falar de um caso que vi os benefícios do tratamento com Cannabis é difícil, pois são muitos. Brinco que parei de contar com mil”. Assim começou nossa conversa com a neurologista Denise Lufti Pedra.
Realmente entre as possibilidades de tratamentos para a doença e seus sintomas, a Cannabis desponta como uma alternativa que tem trazido diferentes resultados positivos.
Sabe-se que a doença de Alzheimer é a causa mais prevalente de demência mundial. E dados epidemiológicos estimam que 40 milhões de pessoas em todo o mundo, a maioria com mais de 60 anos, tenham demência. Além disso, esse número deve dobrar a cada 20 anos, até 2050.
E justamente para entender o panorama atual dos tratamentos com fitocanabinoides como o CBD e o THC conversamos com médica que é membro fundadora da International Society to Advance Alzheimer’s Research and Treatment e coordenadora da comissão temática de Neurologia da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis – SBEC. “
Tratar o Alzheimer com Cannabis
Hoje celebramos no mundo o Dia da Doença de Alzheimer. Como a Cannabis ajuda no tratamento do Alzheimer?
Tanto o Alzheimer como qualquer outra doença degenerativa vai cursar com neuroinflamação, com alteração de oxidantes, vai cursar com alteração circulatória. E tudo isso a Cannabis combate. Pois a Cannabis é uma excelente anti-inflamatória, antioxidante. Então ela atua diretamente em alguns processos patológicos dessas doenças. Especificamente no Alzheimer a gente tem estudos de área básica, não são estudos em humanos, são estudos em ratos, mostrando que você tem uma diminuição da agregação da proteína beta amilóide que é um dos processos patológicos da doença de Alzheimer. A diminuição da degradação da proteína e da morte neuronal, por exemplo. Então dentro deste estudo de área básica, ela atua na própria patologia. Ela faz neuroproteção e aumenta a produção de neurônios na área do hipocampo, que é a área da memória. A área principal, onde exatamente a doença de Alzheimer tem o seu maior papel, degenerando esses neurônios. E isso do ponto de vista da própria patologia. Mas a gente tem o tratamento dos sintomas. Sabemos que a
Cannabis relaxa, melhora o padrão do sono e diminui a agitação e a ansiedade. E ela tem algumas funções na melhora da cognição. Tanto do ponto de vista do que ela pode fazer para a patologia quanto do ponto de vista do que ela pode fazer pelos sintomas a gente tem bastante coisa.
E como funcionam as doses de óleo de Cannabis durante o tratamento?
Esta é uma discussão infinita. Pois o tratamento com a Cannabis é um tratamento bastante individualizado. Então você vai ter colegas falando coisas bem diferentes. Você vai ter colegas que privilegiam fazer uso só do CBD. Outros o óleo full spectrum. E hoje a gente tem usado alguns canabinoides menores também. Então é uma conduta individual. Eu pessoalmente gosto de fazer uso do óleo full spectrum com todos os canabinoides. Dependendo da patologia. Brincamos que o THC é o canabinoide de velho. Porque os idosos têm um cérebro diferente das crianças. Então eu acho que o idoso tem que usar o full spectrum, principalmente com quadro degenerativo, que também tenha THC. Agora essas proporções irão depender muito da pessoa. Então normalmente eu começo com óleo full spectrum, que tem um teor maior de CBD, o CBD como canabinoide principal. E eu ajusto o THC conforme a necessidade. Hoje a gente já tem usado também o CBG, não tem estudo importante nessa área, mas a gente sabe que existe uma suposta neuroproteção. E também porque ele é um excelente anti-inflamatório. E dependendo do caso, se for paciente também com insônia, a gente pode usar o CBN.
Então o CBG e o CBN são canabinoides menores. O CBG mais anti-inflamatório e analgésico. Mais trabalhando na questão da neuroinflamação. E o CBN trabalhando na questão da insônia. Basicamente é isso: um óleo full spectrum. A dose é completamente individual. Você pode ter desde pacientes que começam com bem pouquinho, duas, três, quatro, cinco gotinhas. E a gente sabe que para as doenças degenerativas têm uma média de pelo menos 260 e 100 miligramas de CBD como canabinoide principal. E o THC você vai ajustar conforme a tolerabilidade de cada um. Por conta do efeito psicomético.
Existe algum relato de caso que a Doutora possa compartilhar com o Cannabis & Saúde de um paciente com Alzheimer que fez tratamento com Cannabis e que realmente teve resultados?
O Alzheimer é a patologia que eu mais trato. Então falar de um caso é difícil, pois são muitos. Brinco que parei de contar com mil. Mas o que eu vejo são casos parecidos como o do seu Ivo, que é um caso emblemático. E que aparece em todos os locais, são pacientes com muita agitação e agressivos. E esse tipo de sintomas que tratamos na doença, são muito difíceis de tratar. E os remédios que a gente usa, normalmente psicóticos, que são remédios que tem muito efeito colateral. E muitas vezes não fazem o efeito que a gente quer. Ou outras vezes cega completamente o paciente com risco de queda e de uma disfunção. O paciente acaba ficando tão sonolento que eu não come e não faz exercícios. Neste aspecto a Cannabis funciona muito bem. Então eu já tive paciente que a família estava desesperada, pois o paciente gritava e mordia, e isto conseguimos melhorar muito. Então isso a gente consegue melhorar muito. Já com relação à parte cognitiva, a gente consegue ter alguns ganhos. O paciente volta a fazer coisas que ele não estava fazendo antes: como pacientes, por exemplo, que voltaram a comer com a própria mão. E que voltaram a reconhecer pessoas que eles não reconheciam mais.
E como funciona a questão da perda da memória?
A memória é mais complexa. A gente vê que a cognição melhora como um todo. Então quando você vai ver por exemplo: a atenção, a comunicação e a interação, você vê que o paciente melhora globalmente. A testagem específica relacionada à memória recente é mais complexa. Não vou dizer que o paciente recupera a memória que perdeu, porque isso não acontece. Não temos dados para isso. Mas a gente vê que o paciente melhora a cognição como um todo. Ele recupera funções e coisas que a gente não vê com os medicamentos de alopatia. Vemos que os pacientes voltam realmente a ter uma funcionalidade que ele não tinha antes. E a ganhar em aspectos que ele já tinha perdido. Agora, quando a gente fala de estudos, eles apontam diretamente para essas alterações neuropsiquiátricas. A gente não tem grandes estudos com relação a cognição em si. Mas a gente já tem alguma coisa sim. Como te falei, eu estava no Congresso de Cannabis da SBEC e estava conversando com uma colega de Foz do Iguaçu que trabalha com a parte de biologia, de estudos de área básica, farmacologista. Eles acabaram de publicar um trabalho agora mostrando a melhora cognitiva do paciente, inclusive no exame de estado mental esse paciente se não me engano está acompanhado há quase dois anos e com uma estabilidade cognitiva. E ele teve uma melhora na na performance relacionada à memória. Inclusive com microdose de THC por exemplo. Os estudos vão começar e na SBEC temos vários projetos de iniciação científica. E eu na área clínica e alguns outros colegas com vários projetos na área de Alzheimer. Inclusive projetos bastante robustos com relação à avaliação de pacientes e marcadores.
Pequenas doses de Cannabis tratam Alzheimer e revertem déficit de memória
Exatamente sobre este estudo que a Dra. Denise citou, em que se identificou que pequenas doses de Cannabis tratam Alzheimer e revertem déficit de memória foi realizado por brasileiros do grupo de pesquisa da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, UNILA. E publicado como um novo marco na comprovação dos benefícios do uso de pequenas doses de Cannabis para tratar Alzheimer. O principal resultado foi identificado na reversão do déficit de memória do paciente. Também se destacou na pesquisa a inexistência de efeitos colaterais. Veja a matéria sobre o estudo completo aqui.
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Ainda em relação ao Alzheimer, são incontáveis os relatos de familiares que conseguiram dar qualidade de vida para o paciente e à própria família após a administração de óleos de Cannabis.
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