Ainda há poucos estudos sobre as reais possibilidades terapêuticas do uso de cannabis em pacientes infectados pela AIDS. Mesmo assim, pacientes fazem uso medicinal da planta e relatam melhora em vários sintomas
Vômitos, náuseas, perda de apetite, ansiedade, depressão, dores crônicas – a lista de sintomas relatados por pacientes infectados pela AIDS é longa. Algumas vêm da ação do próprio vírus no organismo, outras aparecem como efeitos colaterais do tratamento com antiretrovirais, que reestabelecem o equilíbrio do sistema imunológico.
Na tentativa de reduzir o mal-estar, boa parte dos pacientes aposta no uso da cannabis, seja pelo uso de cigarros ou com óleos à base de cannabis. Um estudo americano com mais de 500 pessoas mostrou que um terço deles usa a planta como remédio.
E, segundo eles, os resultados são bons.
Em 97% dos casos, o apetite voltou ao normal. Outros 94% sentiram menos dores musculares e 85% sentiram menos formigamento pelo corpo (parestesia); 93% diminuíram os episódios de náusea; 86% se sentiram menos depressivos, enquanto outros 93% contaram ter reduzido os sinais de ansiedade.
Só teve um problema: quase metade deles contou que ter problemas de memória. Não que a responsabilidade seja só da cannabis.
“O tipo de interação das drogas a ser considerado inclui a perda da função cognitiva, porque sabe-se que isso é um efeito tanto da cannabis, quanto das drogas antiretrovirais, como a efavirenz”, diz o estudo.
“Certamente, a perda de memória relatada pelos pacientes tem importância clínica (…) e, se isso for resultado da combinação de drogas, deve ser investigado usando padrões estabelecidos dentro das terapias com canabinoides”, concluem os pesquisadores britânicos.
Ao que tudo indica, é esse o único efeito colateral entre pacientes com HIV que fazem uso medicinal da cannabis. Mas, vale lembrar, ainda faltam estudos. “Não há efeitos prejudiciais aparentes, mas isso ainda precisa ser determinado usando uma rota apropriada de adminstração da driga e de um estudo de longo prazo”, finalizam os britânicos.
OUTROS EFEITOS DOS CANABINOIDES PARA O TRATAMENTO DA AIDS
Ainda que faltem estudos, sobram indícios do efeito positivo dos canabinoides nos sintomas das doenças. Um artigo publicada pelas pesquisadoras brasileiras Carolina Rangel de Lima Santos e Laísa Vieira Gnutzmann aponta a possibilidade dos canabinoides reduzirem as inflamações geradas pelo vírus.
Primeiro é preciso entender o modo de ação do HIV no sistema nervoso central. O vírus, além de atacar as células de imunidade, também causa problema no cérebro. O que ele faz é estimular a secreção de neurotoxinas, que causam inflamações fatais aos neurônios.
Já o sistema endocanabinoide atua como importante imunomodulador e apresenta propriedades anti-inflamatórias – e isso diversas pesquisas já mostraram.
“Há indícios de que os canabinoides poderiam atuar diminuindo o processo inflamatório causado pelo HIV, porém apesar de efeitos benéficos comprovados, a pesquisa sobre a ação dos canabinoides não significa advogar a favor do uso terapêutico da maconha”, explicam as pesquisadoras.
“A maconha é uma planta complexa com inúmeros princípios ativos que merece ser discutida à parte”, afirmam. “O assunto desse texto é a ação anti-inflamatória de neurotransmissores canabinoides que o nosso próprio cérebro produz e a perspectiva do uso desse mecanismo na proteção do cérebro de pacientes com infecção pelo HIV”, concluem.
PRÓXIMO PASSO
Em breve, no entanto, ciência conseguirá entender melhor quais são os benefícios do uso de cannabis em pacientes com AIDS/HIV. Um estudo canadense em curso pode agilizar essas respostas.
Por lá, uma equipe de pesquisadores iniciará um estudo com 26 pacientes. Eles se dividirão em dois grupos. Metade receberá cápsulas com proporções iguais de CBD e THC e outra uma pílula com maior concentração de CBD para tomar ao longo de 12 semanas.
Todos terão de fazer exames periódicos para avaliar os marcadores inflamatórios do corpo (para checar se os canabinoides fizeram ou não efeito positivo). Também irão monitorar os marcadores de HIV nas células sanguíneas e mudanças no microbioma gastrointestinal.
É um teste inicial, para checar a segurança da e tolerabilidade do uso de óleos nesses pacientes (saiba mais aqui). Depois, a ideia é expandir o teste em mais pacientes e por um tempo maior.
“A cannabis quando tomada oralmente pode representar uma maneira de reduzir inflamações e fortalecer as respostas imunológicas. Antes de planejar estudos maiores de intervenção, é importante garantir que a cannabis tomada oralmente é segurada e bem tolerada em pessoas que vivem com o AIDS/HIV”, explica o estudo.
Por enquanto, ainda não há novidades. Mas, quando publicados os resultados, talvez tenhamos novas respostas positivas sobre o uso de cannabis em pacientes com HIV.
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