A alagoana Adriana Reis é bióloga e pesquisadora de plantas medicinais. Só que não estudou a Cannabis em seu trabalho, porque sabia que o estigma negativo da planta não permitiria. Foi conhecer de fato a Cannabis quando recebeu a receita e tratou o filho autista.
Deprimida com as dificuldades com Giancarlo em plena adolescência, Adriana começou a usar também, para tratar ansiedade, pânico, dores, taquicardia, e descobriu que não só valia a pena estudar muito sobre a planta e o sistema endocanabinoide, como precisava ajudar outras mães a encontrar a paz com a Cannabis.
Hoje ela faz uma pós graduação em medicina canabinoide e prepara uma associação que já tem nome: Ananda, apelido para anandamida, conhecida como a “molécula da felicidade”. Com isso, pretende orientar as pessoas em sua região, Maceió.
Adriana resolveu a depressão e os problemas sociais de Giancarlo, nunca precisou tomar um antidepressivo e reencontrou o equilíbrio emocional. O pai de 77 anos teve Covid-19 e ela está certa de que sua rápida recuperação se deve ao tratamento com Cannabis.
Cannabis & Saúde: Qual sua área de atuação?
Adriana Reis: Sou professora universitária e fiz doutorado em biotecnologia na saúde. Trabalho com pesquisa com plantas medicinais.
Não trabalhei com Cannabis por conta do estigma. Não era aceito. Mas hoje isso está mudando, as Universidades estão abrindo cursos. Eu pretendo dar cursos também.
C&S: Como conheceu a Cannabis?
AR: Há alguns anos, desde que vi as descobertas do Rafael Mechoulam (tido como o pai da Cannabis) sobre o sistema endocanabinoide, comecei a ter curiosidade. Fiquei sabendo dos muitos médicos que já prescreviam o óleo da Cannabis. Descobri que tem hoje duas associações que receberam a permissão para plantio e produção do óleo. Como eu já tenho conhecimento da área, resolvi me aprofundar, já que meu filho tem autismo leve, Asperger.
O Giancarlo nunca precisou tomar tarja preta, mas quando chegou na adolescência, começou a ter dificuldade de fazer amigos, e se deprimiu, e eu também. Foi quando eu procurei um psiquiatra que tivesse mais a pegada do fitoterápico.Quando ele receitou o CBD, o Giancarlo começou a dormir melhor ficou menos ansioso, tinha mais concentração nos estudos. Aí o médico falou que eu tinha que me cuidar também, que eu estava cuidando dele e esquecendo de mim. Eu já estava num nível de depressão de não conseguir dormir, tive refluxo a ponto de eu perder a voz. Eu sendo professora, me atrapalhou muito.
C&S: Conte mais do efeito em você.
AR: Diminuiu muito a ansiedade, passei a dormir melhor e tudo começou a voltar à normalidade. A Cannabis ele fez o efeito comitiva – entourage:
Quando você trabalha com o extrato da planta e retira o óleo, o THC e CBD são extraídos. O THC é o composto psicodélico, que a Anvisa só liberou com até 0,2% de concentração. Mas é bom tomar o CBD alinhado ao THC. Quando se isola só uma molécula, só o CBD, ela pode perder a eficácia. Estudos pré clínicos detectaram a diminuição da eficácia do CBD sem o THC associado. O ideal é tomar o CBD + THC em baixas concentrações.
C&S: Quais eram os seus problemas de saúde?
AR: Ansiedade que gerou depressão, palpitação, refluxo, asma alérgica. De manhã, para sair de casa, dar aula, trabalhar, eu tinha palpitações num efeito cardiorrespiratório. Quase síndrome pânico.
C&S: O que tomava?
AR: Eu não tomava alopático. Só usava bombinha.
O Giancarlo, até a adolescência, não tomava nenhum remédio alopático.
Mas quando estava para fazer quinze anos, por conta das questões sociais, tomou ritalina e um ansiolítico. Ele não queria ir para a escola de jeito nenhum, perdia prova, se trancava. Eu não conseguia sair porque ele não queria que eu saísse. A gente chegou nesse nível de depressão, tanto ele como eu. Quando terminou a primeira caixa da Ritalina, o psiquiatra disse que não ia aumentar a dosagem, ia só passar outra caixa. Foi quando eu pedi um alternativo, porque ele trabalhava com fitoterápicos também. “Como o Giancarlo já está bem, a gente vai colocar o óleo de Cannabis e ele vai desmamando da Ritalina”. E ele desmamou mesmo. Não precisou mais da Ritalina.
C&S: Como você conheceu a Cannabis?
AR: Por ser pesquisadora, quando faço varredura de plantas medicinais, você puxa na internet. E vai vendo os benefícios da planta. A Cannabis, além dos benefícios, vinha sempre com o estigma: maconha, psicodélica. Então não me despertava o interesse de estudá-la. Quando você está numa instituição, se chegava com um projeto desses, não era aprovado. Tem caso de alunos que queriam fazer TCC ou uma dissertação, e foram recusados.
Mas agora estamos num momento muito importante para a Cannabis. Eu estou fazendo pós graduação na UNYLEYA sobre medicina canábica. Quero muito me aprofundar no tema. E, quem sabe, ministrar cursos também. Levar esse tema para quem não conhece. Porque existe um estigma. Se você disser Cannabis, as pessoas não sabem o que é. Se você falar maconha, as pessoas sabem o que é, mas levam para o lado de coisa que não presta. Precisa separar a palavra maconha, da planta, a Cannabis sativa, que tem CBD, THC, entre outros.
C&S: Como teve acesso?
AR: Pelo psiquiatra que já era prescritor da Abrace, uma associação da Paraíba que pode produzir o óleo. E comprei pela Abrace também.
C&S: O que melhorou?
AR: Como meu problema é emocional, quando sou confrontada com alguma situação, como quando meu filho não está bem, eu não fico bem. Mas hoje é contornável. A gente tem uma qualidade de vida. Ele e consequentemente eu. A Cannabis não foi um milagre. Ela teve o efeito de orquestrar. É diferente de quando você toma um anti inflamatório que só aplaca os sintomas. E chega uma hora que o corpo não responde mais. Quando é remédio natural, a resposta do corpo é diferente.
Também tenho inflamação do nervo ciático por conta da gravidez, e piora por ficar muito tempo em pé. Tomei anti inflamatórios por 15 anos. Hoje, se fico muito tempo sem fazer exercício, dá uma pinçada na coluna. Aí eu pego o óleo e faço massagem, tomo o óleo. Aliado ao exercício, controlo a dor sem ter que tomar anti inflamatório. Eu sinto estresse quando estou trabalhando muito, problemas acontecem. Eu não estou curada da depressão. Mas também posso dizer que não preciso tomar medicamento para ficar bem.
C&S: Teve efeitos colaterais?
AR: Sem efeito colateral. A diferença entre o remédio e veneno é a dosagem. A Cannabis não causa dependência, pelo contrário. Inclusive, o CBD é usado para dependentes químicos. Ele não mata neurônios, mas sim, aumenta sinapses. Daí a diferença do jovem tomar altas doses de THC e do idoso que tem Parkinson, Alzheimer tomando. A Cannabis é neurogênica – ajuda a desenvolver outras células neurológicas e fazer mais sinapses. O Sidarta Ribeiro (neurocientista) fala que maconha é coisa de velho. A pessoa com Alzheimer vai tomar, e reverter a falta de conexões.
C&S: Como é a composição do seu óleo?
AR: A ABRACE tem o óleo laranja rico em CBD com traços de THC, menos de 0,1%. Meu filho toma, e eu à noite. De dia eu tomo o azul que tem mais THC e menos CBD por causa das minhas dores crônicas, no braço e no ombro. O Giancarlo também, tomamos o azul e o laranja. Eu chamo de “meu remedinho”. Tem o verde que é mais rico em THC e tem pouco CBD. Esse a gente não usa, deve ser usado para Parkinson.
Mas tudo isso com indicações do médico. Sempre tem que ser com indicação, não é como ir na farmácia e automedicar.
O sistema endocanabinoide é o nosso maestro, a gente tem vários sistemas, que são a orquestra. A gente tem a nossa maconha endógena que é a anandamida. Na medida em que você vai envelhecendo, esse sistema vai perdendo a eficácia. E é aí que entra o fito canabinóide das plantas, e a Cannabis. O sistema endocanabinóide recebeu esse nome por causa da planta. O CBD e o THC se ligam aos receptores no sistema neurológico, imunológico, e vão orquestrar, harmonizar todos os outros sistemas. É a homeostase. Por isso que são tão importantes para saúde.
C&S: Você teve que mudar algo na vida? Dieta?
AR: Nada, ao contrário. O CBD tira a fome. O óleo é extraído do tricoma [estruturas semelhantes a pelos] da flor. Quando o jovem fuma, é a folha, não tem nada da flor. Por isso que as pessoas confundem. Tem que saber a procedência, saber de onde foi retirado, se for do tricoma, é rico em CBD. Tem que estar diante de um profissional, saber a procedência.
C&S: Indica para mais alguém?
AR: Sim. Meu pai teve Covid-19, tem 77 anos, e ficou uma semana no hospital, não precisou de oxigênio nem UTI. Eu atribuo ao óleo e ao suplemento receitado pelo nosso médico (vitamina D, complexo B, própolis vermelha (que é da nossa região), zinco, magnésio). Tudo fitoterápico.
Na UPA, meu pai tomou o protocolo Covid-19: azitromicina, ivermectina e voltou pra casa. Ele tinha feito o teste e deu negativo. Em casa, eu comecei a tratar com o óleo e os suplementos. Só que ele já estava tossindo, cansado e com quadro de pneumonia. Então foi internado e eu continuei com o óleo. Depois de uma semana, saiu do hospital.
A minha mãe, eu isolei do meu pai. Fui eu quem cuidou dele. Eu tive sintomas leves. O óleo cuida do sistema imunológico. Eu tive os sintomas, por uma semana, mas muito natural, atribuo isso à suplementação. O Giancarlo esteve comigo o tempo todo, e não teve sintomas.
Hoje a minha indicação ainda está na esfera da família. Mas, como pesquisadora e professora, que já trabalha com plantas medicinais, me sinto capaz de expandir isso.
Eu quero abrir uma associação em Alagoas. Estou pesquisando, conhecendo o campo e fazendo pesquisa in loco.
C&S: De quais histórias de pacientes você se lembra?
AR: Comecei a conhecer pessoas que usam o óleo e têm excelentes relatos. Alzheimer, Parkinson, depressão, autismo. Conheço uma vítima do tráfico do óleo. Ela dá o óleo ao filho há muito tempo, mas a qualidade não era boa. E ela percebeu que houve estabilidade, mas não melhora. Eu estou conversando com essa mãe, dando orientação, apresentei médico.
Outra mãe tem um filho com microcefalia, que importou óleo do Canadá. Teve melhora, diminuiu a quantidade de convulsões, mas com o passar do tempo, perdeu a eficácia. Porque a cada lote, é preciso fazer análise da qualidade do óleo. Não se pode comprar aleatoriamente, sem saber o que está tomando. Pelo meu estudo de campo, tem muita gente nessa situação.
C&S: Qual o objetivo da nova associação?
AR: Pretendo, junto com equipe técnica, (sou bióloga de formação), farmacêuticos, biólogos, médicos, amadurecer o projeto e abrir a associação. Eu quero que as mães, que tenham filho autista, possam ter melhor qualidade de vida. Tem casos de crianças com problemas neurológicos que tomam 8 remédios como Gardenal, desde bebê, desde nascer. Quando você inclui o óleo, você vê como dá para tirar alguns medicamentos, até todos.
Uma mãe com um filho que convulsiona 12 vezes ao dia é uma tristeza, a mãe não trabalha, não respira, leva uma vida de constante alarme. Eu comecei a fazer esse levantamento com mães de crianças que convulsionam e tomam esses remédios pesados. E não é um remédio pesado não. São vários. Alguns medicamentos fazem com que a musculatura relaxe e a criança baba. A mãe fica limpando a boca da criança dopada com olhar perdido. É uma vida não vivida. E o CBD diminui as convulsões e dá qualidade de vida, isso não tem preço. Melhora a vida da mãe, do filho, da família. Essas doenças não serão curadas com o óleo de Cannabis, mas todos terão uma sensível melhora.
C&S: Qual a importância do Medical Cannabis Summit?
AR: Eu creio que, com a minha história de resultados positivos, eu posso levar conhecimento e esperança a outras pessoas que não sabem que existe uma medicação 100% natural. Que reage com o sistema imunológico, o sistema nervoso central, um sistema que reconhece as substâncias da planta, que vai harmonizar o corpo, trazer qualidade de vida, às vezes até a cura. A libertação de medicação que são drogas, que causam dependência. Remédios sintéticos sempre têm que aumentar a dosagem, e até colocar outro que mitigue os efeitos colaterais do primeiro. Você se torna prisioneiro. O óleo vem com essa missão libertadora. A intenção é levar para os quatro cantos do mundo esse meio natural para dar qualidade de vida.
C&S: Qual a mensagem para os mais de 10 mil participantes do Medical Cannabis Summit?
AR: Que vocês não fiquem na caixinha. Não apenas faça uso do que é lhe passado, do que está na mídia. Procure, pesquise, veja casos sobre pessoas que usaram o óleo de Cannabis. A transformação na vida da pessoa e todos os familiares. Qualidade de vida da família, como coletividade. Se você estivesse vendo meu rosto agora, eu estou sorrindo. Eu estou em paz com o uso do óleo no meu filho. Hoje tenho paz interior.