Por ano, uma mulher em idade fértil descarta mais de 3 quilos de absorventes. Infelizmente, o material demora até 400 anos para se decompor.
Você já parou para pensar no impacto que os absorventes íntimos, internos ou externos, causam ao planeta? São necessários, pelos menos, quatro séculos para que um único absorvente feminino se decomponha na natureza.
Isso porque o absorvente íntimo é feito basicamente de polietileno, propileno, adesivo termoplástico, papel siliconado, polímero superabsorvente e agentes controladores de odor. Ou seja, plástico!
Se tratamento ou reciclagem
No Brasil, as mulheres que têm um ciclo menstrual entre 11 e 55 anos, por exemplo, utilizam – em média – 130 quilos de absorvente ao longo da vida. Por ano, são cerca de 3 quilos de materiais não recicláveis que vão parar no lixo, sem qualquer tratamento ou reciclagem.
Público consciente
Focada em um público mais consciente, a Bruna Cássia desenvolveu um absorvente íntimo reutilizável, feito com tecido de cânhamo – a fibra da Cannabis. De acordo com a empreendedora, o produto é 100% natural, orgânico, antialérgico, antifúngico e indicado pra mulheres com fluxo intenso, alergias e que sofrem com endometriose e sintomas pós-parto ou cirúrgico.
“O toque do tecido é extremamente macio, além de possuir lavagem e secagem rápidas. Um diferencial excepcional é a durabilidade. O absorvente dura, no mínimo, 15 anos e leva menos de 6 meses para se decompor”, detalha a Bruna que é formada em tecnologia têxtil pela Fatec de Americana (SP).
Tecelagem no DNA
Bruna, que é filha de pai tecelão e mãe costureira, conta que desde muito pequena acompanha a cadeia produtiva da tecelagem. “Trabalhei nas indústrias de Americana dos meus 19 aos 24 anos, com isso vi e vivi o descaso ambiental dos órgãos regulamentares”, alerta.
De acordo com a Bruna, não existe inspeção ambiental pelos órgãos regulatórios. “Naquela época e, acredito que ainda é assim, a maior parte do processo químico era descartado na natureza, sem nenhum cuidado. Isso me marcou muito”, relata a empreendedora.
Outro fator que despertou em Bruna o desejo de empreender e trabalhar com mulheres é a exploração laboral da indústria que paga, em média, 10% do valor real da mão de obra às costureiras, segundo a empresária.
Exploração da mão de obra feminina
“Eu já presenciei muito o abuso, talvez até trabalho escravo. Além de não haver vínculo empregatício, o valor pago é extremamente baixo. Lembro de ver as amigas da minha mãe passando dia e noite em cima da máquina de costura para conseguir um bom salário”, recorda.
Essa exploração da mão de obra feminina também motivou a empreendedora a buscar formas de ganhar dinheiro, trabalhando de casa. “Fiquei viúva aos 23 anos. Nessa época, buscava um trabalho que me permitisse estar em casa com minhas filhas”.
Da indústria para a Ayurveda
Foi nesse momento que a Bruna se desligou da indústria e foi estudar Ayurveda na ginecologia natural, na Escola Natureza Medicinal. Então, desde que se formou, passou a produzir paninhos para as terapeutas de círculo de mulheres.
“A partir dessas experiências, eu idealizei o absorvente reutilizável de algodão nacional, com certificação orgânica, que gosto de chamar de bioabsorvente. Nesse produto, encontrei uma forma de comunicar a importância do autoconhecimento hormonal”.
Do algodão ao hemp (cânhamo)
Para tornar a produção ainda mais sustentável, Bruna substituiu o algodão pelo tecido de cânhamo. O material é importado, porque no Brasil ainda não é permitido cultivar a Cannabis para a produção de tecido, por exemplo.
“Minha exigência é que a empresa apresente o selo de cultivo orgânico e boas práticas. A maior parte do cânhamo hoje vem da China, com taxas menores, mas sem garantia dos meios de produção e isso não seria coerente com meu propósito”, adianta.
Escolhas conscientes impulsionam o negócio
A empresária aposta na importância de escolhas mais conscientes, para impulsionar o negócio. “Precisamos avançar na legalização do cânhamo. O absorvente é só mais uma das muitas opções às quais o cânhamo pode trazer inovação”.
O desejo da empreendedora é construir uma rede de autonomia financeira pra mulheres em situação doméstica (com crianças pequenas) através do absorvente ecológico de cânhamo.
Os primeiros absorventes descartáveis
Registros históricos indicam que os primeiros absorventes descartáveis surgiram, aproximadamente, em 1890, na Alemanha, em forma de bandagens.
Em cada embalagem, eram comercializadas seis unidades não reutilizáveis. Mesmo assim, foi uma revolução para o universo feminino, que precisava usar “toalhinhas” para conter o fluxo. Numa época em que não existia água encanada e nem máquina de lavar roupa, a missão de manter os paninhos sempre limpos e esterilizados não era tarefa fácil.
Com a Revolução Industrial e as guerras, as mulheres também passaram a assumir postos de trabalho, e o tempo ficou cada vez mais escasso para as tarefas domésticas, inclusive para o cuidado íntimo pessoal.
Cuidado íntimo e ambiental
Neste resgate pelo cuidado íntimo pessoal, o absorvente chega com um propósito maior de impactar no meio ambiente.
“Precisamos conhecer e entender o que consumimos. Afinal, a indústria têxtil de sintéticos é a segunda maior poluente do planeta, e só perde para a indústria petroquímica, que produz os tecidos sintéticos”, revela.
Gatilho para o desenvolvimento
O absorvente ecológico é apenas um gatilho para o desenvolvimento de outros produtos feitos com o cânhamo, segundo a fundadora da Ecocannabicas.
“Essa é uma planta mãe, que regenera o solo, aprisiona CO2, possui uma durabilidade 3 vezes maior que a do algodão e o seu uso industrial é incrível”, detalha Bruna, que ainda nesse ano promete lançar um produto inédito.
Onde comprar?
O absorvente, lançado em março desse ano, já está disponível para venda on-line, @eco.cannabicas , @madrehemp Florianópolis, e nos espacos físicos da xahcommariaz em SP, e na de @deponta em BH.