Pesquisas revelam que o THCV – uma das moléculas da Cannabis – pode ajudar a controlar o açúcar no sangue e o sobrepeso
Tetraidrocanabivarina ou THCV. Você já ouviu falar nessa molécula presente na Cannabis? O nome difícil de pronunciar é mais uma das mais de 100 substâncias com – propriedades medicinais – encontradas na planta que a ciência tenta desvendar.
É o caso de uma revisão bibliográfica, publicada na PubMed em 2020, que revelou a tetrahidrocanabivarina (THCV) como um potencial remédio para diminuir o apetite, aumentar a saciedade e regular o metabolismo energético.
A pesquisa tomou por base artigos científicos e estudos realizados entre janeiro de 1970 e setembro de 2019, usando como base as palavras-chave: tetrahidrocanabivarina (THCV), tetrahidrocanabinol (THC), Cannabis sativa (maconha), obesidade, peso corporal, metabolismo e diabetes.
Controle de obesidade e perda de peso
O trabalho, que envolveu a Escola de Farmácia Gregory, a Universidade do Atlântico Palm Beach e West Palm Beach na Flórida (EUA), a Escola de Medicina Saint James (Anguilla) e o Ministério da Saúde da Nigéria, concluiu que o THCV pode se tornar um remédio clinicamente útil para o controle da obesidade.
A molécula, testada em ratos, demonstrou que houve redução de peso nos roedores e no controle do açúcar no sangue das amostras.
THCV atua no controle glicêmico
Uma outra pesquisa publicada da ‘Revista Diabetes Care’ em 2016 também demonstrou que o THCV pode representar um novo agente terapêutico no controle glicêmico de pacientes com diabetes tipo 2.
O estudo randomizado, duplo-cego e, controlado por placebo, foi desenvolvido em quatro centros do Reino Unido (Inglaterra). Nesse modelo foram analisados 62 pacientes divididos em cinco grupos durante 13 semanas.
Isolado e combinado
O objetivo do estudo piloto foi investigar o efeito clínico e a tolerabilidade dos fitocanabinoides, THCV e CBD (canabidiol) – de forma isolada e em combinação – em pacientes com diabetes tipo 2 e colesterol alto.
De forma simplificada, o estudo clínico demonstrou que o THCV melhorou o controle glicêmico (taxa de açúcar no sangue) dos pacientes, muito embora ainda sejam necessários outros ensaios clínicos e uma investigação mais profunda para verificação científica.
Já o CBD, de forma isolada, não registrou qualquer efeito metabólico detectável, de acordo com a pesquisa, apesar de produzir mudanças desejáveis em algumas proteínas inflamadas e nas concentrações de hormônios intestinais.
Cautela
Para o professor de clínica médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e endocrinologista, Dr. João Regis Carneiro (CRM/RJ 5254980-7), apesar de os estudos indicarem que o THCV é um novo instrumento que pode ser usado no controle da obesidade, há de se ter cautela.
“São poucos os canabinoides que estão sendo estudados para além do CBD e THC. Ou seja, há poucos estudos sobre a eficácia e
segurança do THCV. Essa molécula vem sendo considerada interessante do ponto de vista de ação metabólica, mas ainda é cedo para prescrever”, avalia o médico.
Na visão do especialista é preciso compreender melhor a ação da substância no corpo para não colocar em risco o paciente, como aconteceu em 2006, na Europa, com a aprovação da droga Rimonabant0 para tratar obesidade.
Efeitos adversos Rimonabanto
O medicamento sintético, hoje banido do mercado pelos efeitos adversos, atuava diretamente no Sistema Endocanabinoide a partir do bloqueio da ação dos receptores CB1. A inibição do receptor impactava na redução do apetite e na perda de peso.
“Esse remédio ficou pouco mais de ano no mercado, porque entre os pacientes houve um índice grande de depressão e tentativa de suicídio. Isso acontecia em função da ação indesejada do medicamento no Sistema Nervoso Central”, recorda.
Por isso, na avaliação do especialista, outras pesquisas precisam ser desenvolvidas com o THCV para que a ciência possa se certificar de que este canabinoide, que atua como ativador dos receptores CB2 e – dependendo da dose – pode agir ativando ou inibindo receptores CB1, seja seguro e eficaz, sobretudo a longo prazo.
Mas a Cannabis pode ajudar no controle da obesidade?
Indiretamente, a Cannabis pode ajudar a controlar o sobrepeso, desde que com responsabilidade. É assim que o Dr. João Carneiro analisa. E claro, cada caso é um universo distinto do outro.
“Quais as condições que atrapalham o ser humano a ter uma vida saudável? Ansiedade, insônia, dor crônica. Então, enquanto um paciente não melhorar a dor crônica, não conseguirá fazer atividade física. Se não dormir bem, também não vai se exercitar e vai ter dificuldade em estruturar uma estratégia, uma rotina mais saudável. Enfim, eliminar ou reduzir esses fatores podem favorecer a adoção de melhores hábitos de vida”, ensina.
No controle da ansiedade e melhora do sono
Para o médico é preciso avaliar o paciente de forma completa. Sendo assim, outros compostos da Cannabis, que têm mais robustez em evidências científicas, como o CBD e o CBN (canabinol) – usado para melhora do sono – podem ajudar de forma coadjuvante.
“Se a gente for analisar o conhecimento que temos hoje, as possibilidades que temos à mão são essas. Indiretamente o que pode ser feito? Prescrever o CBD para ansiedade e o CBN para otimizar o sono podem favorecer a conquista de importantes e desejadas mudanças no estilo de vida do paciente”, conclui.
Já o ortopedista Dr. Marcos Dias (CRM/SC 20.905), destaca que o canabidiol tem o poder de modular o apetite dos pacientes em certa medida. “Dentro do bom senso, o CBD tem o poder de tornar o alimento menos palatável, e com isso a pessoa deixa de buscar o alimento mais saboroso, dando menos importância aos níveis de carboidratos. O controle da ansiedade faz com que a pessoa não vá atrás de alimentos que atraem pelo cheiro, odor e olhar”, detalha.
Mas o CBD emagrece?
Segundo o Dr. Marcos Dias, não. “Diretamente, o canabidiol não tem o poder de queima calórica, não podemos extrapolar o uso do CBD nesse sentido. Mas sim, no controle da ansiedade e da alimentação, em tornar os alimentos mais palatáveis menos atrativos. Então, age na parte psicológica”.
Já o THCV tem uma ação fisiológica direta no organismo, como explica o médico. “Essa molécula, por si só, ajuda a reduzir os níveis glicêmicos, tornando o processo metabólico mais eficiente. Dessa forma, você precisa de menos disparos de insulina para ter um controle glicêmico maior. E com isso, você consegue metabolizar melhor a gordura e os lipídios na vida do paciente”, afirma Dias.
Muito embora os estudos indiquem que o THCV pode ser um instrumento terapêutico interessante para tratar obesidade, os especialistas alertam que nenhum tipo fármacos sozinho vai resolver o problema de sobrepeso, já que a doença é complexa e de origem multifatorial.
32% dos brasileiros são obesos
No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, quase 32% da população brasileira sofre com obesidade, seja leve (20%), moderada (7,77%) ou mórbida (4,7%). Com relação ao diabetes, a quantidade de enfermos assume 9% dos adultos no Brasil, segundo dados da pasta.
Em todo o mundo, há mais de um bilhão de obesos, de acordo com os números da Organização Mundial da Saúde (OMS) e cerca de 537 milhões de pessoas com diabetes.
Tratamento 360º
Para o Dr. João e o Dr. Marcos, no cenário ideal – mas nem sempre disponível – a obesidade precisa ser enfrentada por uma equipe multidisciplinar composta de psicólogo, educador físico, nutricionista, endocrinologista, cardiologista, psiquiatra, eventualmente cirurgiões, entre outros.
“A obesidade é uma doença muito complexa que avança em praticamente todo o mundo. Inclusive nos países onde estão sendo implementadas acertadamente políticas públicas para evitar o crescimento da sua prevalência, o que comprova a complexidade do problema e o enorme desafio que devemos enfrentar para melhor combatê-lo”. observa o Dr. João.
Considerações que são compartilhadas também pelo Dr. Marcos. “O tratamento de obesidade não é para amadores. Quando se fala em controle dessa doença não podemos esquecer de dois fatores primordiais: atividade física e dieta controlada. E para isso, é importante ter um controlador de ansiedade que é o canabidiol. Lembrando que o tetrahidrocanabinol (THC) é contraindicado nessas situações por aumentar o apetite”, alerta o médico.
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O uso medicinal da Cannabis no Brasil já é regulado pela Anvisa por meio da Resolução da Diretoria Colegiada RDC 660 e RDC 327, desde que haja prescrição médica.
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