Conselho Federal de Química destaca a importância da Cannabis na indústria
A Cannabis para fins industriais e terapêuticos é destaque na ‘Revista Química e Derivados’.
De autoria do conselheiro federal, Dr. Ubiracir Lima do Conselho Federal de Química (CFQ), o artigo vai além do uso medicinal da Cannabis e aborda outras possibilidades industriais dos insumos químicos derivados da planta, como cosméticos, suplementos alimentares, bebidas, produtos têxteis e até matéria-prima para a construção civil.
“Alinhada às práticas sustentáveis, a adoção de substâncias químicas de origem vegetal se tornou parte estratégica da agenda de empresas de bens de consumo’, pontuou Dr. Lima no artigo.
Mais de 500 fitoquímicos
No texto, Dr. Ubiracir – que é químico industrial, Mestre em Química Orgânica e Produtos Naturais, Doutor em Vigilância Sanitária e Pós-doutor em Tecnologia de Formulações – explica que a Cannabis possui diferentes classes de substâncias, ainda pouco estudadas, para além dos canabinoides (moléculas medicinais da planta).
“Atualmente, estudos científicos apontam para um amplo espectro de mais de 500 substâncias fitoquímicas, identificadas nas folhas, flores, cascas, sementes e raízes, cada uma delas correspondendo a uma função específica na planta”, detalha.
Cosméticos
Com base nesses diferentes metabólitos, a Cannabis tem alcançado cada vez mais espaço na composição de inúmeros produtos, como por exemplo, na indústria cosmética. Isso porque, o canabidiol (CBD), por exemplo, possui propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes.
“Gigantes do setor, visando atender consumidores que buscam opções com substâncias fitoquímicas, “naturais”, em substituição àquelas substâncias tradicionais, têm lançado no exterior linhas completas contendo este ingrediente nas suas fórmulas”, destaca.
Grandes marcas têm linhas canábicas
Alguns desses players, como L`Oreal, Unilever, Avon e Natura, já têm no mercado linhas de dermocosméticos com fitoquímicos da Cannabis, para tratar acne, dermatites e até melasma ou manchas de sol.
Nos mercados onde o uso dos canabinoides (CBD, CBG, THC) em cosméticos ainda não é permitido, as marcas investem no óleo das sementes, rico em ácidos graxos poliinsaturados, como ômega-3 e ômega-6, no desenvolvimento de produtos para pele, cabelo, rosto e unhas.
Alimentos com óleo e proteína da Cannabis
Assim como o óleo das sementes já é amplamente utilizado nas formulações cosméticas, o interior da parte germinativa da planta também é a fonte de proteínas, lipídios, fibras insolúveis e carboidratos de fácil digestão, ensina o Dr. Ubiracir.
Nos supermercados dos Estados Unidos, Canadá e países da Europa, é fácil encontrar produtos à base de proteína de Cannabis ou à base do óleo da semente, como iogurte aromatizado, farinha de cânhamo, produtos assados, leite de cânhamo, proteína em pó de sementes e molhos aromatizantes, assim como barras energéticas, chás, bombons e chocolates.
Superalimento
De acordo com o Dr. Ubiracir, esse óleo gerado pela compressão de sementes a frio tem uma proporção favorável de ômega-6 para ômega-3, bastante adequada para a nutrição humana. Então, a indústria do mercado alimentício viu nessa substância uma possibilidade inovadora de formular diferentes produtos à base de cânhamo, como um superalimento.
“O alto conteúdo nutricional dessa planta proporcionou que todas as suas partes, incluindo o caule, sementes, raízes e flores, fossem utilizadas também para alimentação humana e animal. Assim, produtos de Cannabis são cada vez mais reconhecidos como alimentos benéficos para a saúde”, diz o químico.
Suplementação de atleta
Na ‘Revista Química e Derivados’, o Dr. Lima ainda destaca a aplicação emergente dos fitoquímicos da Cannabis na suplementação alimentar de atletas e lembra que, desde 2018, o uso do CBD no esporte passou a ser autorizado pela Agência Mundial Antidoping (World Anti-Doping Agency – WADA).
“Já existem comprovações de que a substância é uma grande aliada para saúde daqueles esportistas. O CBD contribui para a melhora na recuperação de lesões musculares, reduz dores e inflamações causadas durante os treinos, controla a ansiedade e melhora a qualidade do sono”, explica.
Fibra resistente
Como se não bastasse, a Cannabis ainda proporciona uma das fibras mais resistentes e versáteis do planeta. A cepa da planta com característica mais fibrosa – chamada de cânhamo -, o quimiotipo da Cannabis com baixos teores (em média até 0.3%) de tetrahidrocanabinol (THC), molécula psicotrópica, já ganha força na escala industrial de vários países.
Dr. Ubiracir explica que, dependendo da origem da planta, os quimiotipos podem ser fonte de dois tipos de fibras naturais: as fibras longas, retiradas da entrecasca (fibras bast) e as fibras curtas, retiradas do câmbio vascular (fibras hurds).
Fibra bast e fibra hurds
O especialista explica que a forma como extraímos a fibra diferencia a sua utilização. “As fibras tipo bast podem ser utilizadas na indústria têxtil, na produção de cordames, carpetes, lona, concretos para construção civil, e até, na indústria automobilística de alto rendimento”.
Segundo o conselheiro do CFQ, atualmente, as pastilhas de freio dos veículos já contêm fibras naturais de cânhamo. Da mesma forma, possuem um geopolímero, como fração de substituição, de fibras sintéticas de Kevlar e resina fenólica, pela fibra da Cannabis.
Por outro lado, também usam as fibras do tipo hurds em materiais de construção, em isolamentos e em alguns produtos industriais. Além disso, elas são úteis, ainda, como combustível de caldeiras e na indústria do papel, diz o conselheiro.
Falta regulação
Muito embora o insumo químico da Cannabis seja uma commodity de saltar os olhos, no Brasil, não há regulação sobre o tema. Mesmo assim, estimativas de empresas especializadas indicam que o mercado global da planta deve movimentar algo em torno de US$ 36.7 bilhões ainda em 2023.
Em junho de 2021, a comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 399/2015 para regulamentação do cultivo da Cannabis no Brasil. Nesse sentido, o Projeto prevê o cultivo exclusivamente para fins medicinais, veterinários, científicos e industriais. Entretanto, o PL continua engavetado, à espera de entrar na pauta de votações.
Contrariando quem diz que não há como controlar o cultivo de Cannabis no Brasil, o texto prevê uma série de restrições. Por exemplo, o plantio só seria legal para pessoas jurídicas (empresas, associações de pacientes ou organizações não governamentais). Da mesma forma, haveria cotas para o cultivo e obrigatoriedade da implantação de um sistema de rastreio do plantio.
Grupo de trabalho
Como forma de contribuir para o debate nesse contexto nacional, o CFQ está em vias de criar um grupo de trabalho especial. O objetivo será estudar as aplicações da Cannabis na indústria e como a Química pode ajudar no controle de qualidade e rastreio dos cultivares.
“Nesse trabalho, buscamos desenvolver métodos analíticos específicos para controlar ou monitorar os quimiotipos, utilizados nas mais diversas aplicações”.
Certificação do CFQ
A ideia é que, futuramente, o CFQ possa emitir um certificado, para garantir que há determinado quimiotipo naquele material genético ou cultivo analisado.
“A caracterização do perfil metabólico, capaz de identificar diferentes cultivares e fornecedores de extratos, pode ser um dos mecanismos para produção controlada”, argumenta o especialista.
De acordo com o conselheiro do CFQ, os resultados dessas pesquisas analíticas podem contribuir para a criação de modelos de certificações individuais dos produtores.
“Este possível mecanismo de certificação pode, no futuro, se tornar um referencial seguro. Nesse sentido, será útil para monitoramento e rastreabilidade da produção de insumos e até de produtos acabados de Cannabis”.
Análise fitoquímica e dose
Para completar, o Dr. Ubiracir afirma que a análise fitoquímica dos extratos, agora para fins terapêuticos, também serve para auxiliar na racionalização da relação entre dosagens e respostas terapêuticas.
“A planta tem um processo fitoquímico, a biossíntese vegetal trabalha com as transformações dessas moléculas. Nós trabalhamos tentando demonstrar para todos os demais profissionais exatamente qual é a composição qualitativa. Em outras palavras, quais são essas moléculas, presentes nos diferentes óleos, e também as diferentes tecnologias para a produção desses óleos”.
Presente em debates e nas audiências públicas para falar sobre a importância de se criar um marco regulatório para o cultivo da Cannabis no Brasil, o Conselho Federal de Química, por meio do Dr. Ubiracir, reforça que a pesquisa científica e industrial resulta em avanços tecnológicos e otimizações de processos produtivos.
“E, consequentemente, resulta em redução de custos ao consumidor e contribui para ampliar o acesso”, conclui o especialista.
O uso medicinal da Cannabis já é legal no Brasil
O uso medicinal da Cannabis no Brasil já tem regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio das RDC 660 e RDC 327. Entretanto, é fundamental que haja prescrição médica.
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