A extração de um dente, motivada por questões estéticas, mudou para sempre a vida de Suzete Dias, de 64 anos. Há seis buscou um dentista para o procedimento. O problema é que ela é portadora de uma condição chamada de Síndrome de Sjögren, uma doença autoimune que, no caso dela, impedia a coagulação do sangue. Seus machucados demoravam a cicatrizar, mas nada que afetasse muito sua vida.
“A gente tinha avisado para o dentista, mas na época ela não deu muita atenção para isso. O dentista também não deu, e após a extração começou a ter muito sangramento”, conta sua filha, Fernanda Dias.
“Foi diversas vezes para o hospital, não estancava. Até que, perto do dia das mães, deu entrada no hospital Bandeirantes e não saiu mais.”
Sequência de erros
Estancar o sangramento fez com que se acumulasse na região do pescoço, com um inchaço entre a boca e o ouvido. A família ponta uma sequência de erros médicos. O primeiro deles: pensar que o inchaço fosse um tumor e realizar biópsia. Terminado o procedimento, foi para o quarto sem nem passar pelo pós-cirúrgico.
Na mesma noite, o coração de Suzete parou. Até que os médicos chegassem e pudessem reanimá-la, 15 minutos se passaram. Tempo que seu cérebro ficou sem receber sangue e oxigênio. No elevador até a UTI, outra parada, seguidas por três semanas de coma induzido.
Quando voltou, já não era a mesma. “Os médicos já falando que ela ia ficar em estado vegetativo. Ela se mexia muito, mas com olhar sempre vago. a gente sentia que ela estava lá, mas os médicos diziam que ela ia ficar de cama e é isso.”
Mas os médicos estavam errados. Em três meses retornou e no dia 28 de agosto de 2015 saiu caminhando do hospital. “Foi cena de filme”, lembra Fernanda. Os médicos todos desceram para assistir.”
Esse, no entanto, não foi o final feliz. Com o tempo, as sequelas dos minutos que seu cérebro ficou sem oxigênio começaram a aparecer. Além da fala enrolada, passou a ter dificuldade de equilíbrio e tremedeiras. Foram muitos tombos e médicos, e a cada consulta com diversos neurologistas, um diagnóstico diferente. Enquanto isso, sua saúde não parava de piorar.
Tratamento com Cannabis
Somente no final de 2018, quando chegou ao médico neurologista Ibsen Damiani, começou a entender o que se passava com ela. Sua doença antiga, somada às sequelas da parada cardíaca, acabaram por fragilizar seu corpo. Desenvolveu artrose e muitas dores, que limitavam sua vida.
Regulou a dose do medicamento, o Prolopa, único que tinha qualquer resultado, e a tremedeira diminuiu. Nada que melhorasse muito sua condição. Até que sua psicóloga lhe enviou uma notícia que relatava os benefícios da Cannabis medicinal.
“Foi uma sincronia. Na mesma consulta ele disse que ia recomendar a Cannabis para ela”, lembra Fernanda. Começou a tomar o óleo importado no primeiro semestre de 2020. Aos poucos, começou a perceber os resultados. “Eu ando de andador e estou andando muito melhor. Às vezes tento andar sem andador. Vou até a cadeira da sala, até o quarto. Antes nem pensava em fazer isso. Já cai muitas vezes”, conta Suzete.
Não que a Cannabis tenha resolvido todos os seus problemas. Todos, sem exceção, continuam lá. As quedas, o desequilíbrio, a tremedeira, as dores. Todos, porém, diminuíram. Assim, coisas simples, que já não conseguia fazer, voltaram a fazer parte do seu cotidiano: mexer nas redes sociais, ir ao banheiro sozinha, fazer consulta com a psicóloga pelo celular, pegar seus comprimidos da cartela. Pequenas conquistas que vão devolvendo sua qualidade de vida.
“A gente até brinca com ela: tá na hora da maconha”, diz, rindo, sua filha. “Mas eu vejo uma melhora muito grande nela. Acho que deveria ser acessível para todo mundo. Para as pessoas que sofrem, faz uma grande diferença a melhora da qualidade de vida. Do que estava previsto para ela, tirou a sorte grande.