O gaúcho Sandro Pozza foi para a Califórnia para abrir um negócio de suco e açaí. Em um almoço, conheceu um texano de chapéu e bota de cowboy que contava de sua plantação de Cannabis. No fim do almoço, já tinha mudado os planos: nada de açaí, ia plantar maconha. Com um amigo conseguiram a licença, o terreno e fizeram sua estufa. Por dois anos, Pozza aprendeu a cultivar e surfou na onda econômica que a Cannabis já fazia nos EUA: plantava, fazia extração e vendia nas lojas.
Em 2017, a sogra octogenária, que tinha ficado no Brasil, apresentou piora das crises epilépticas e do Parkinson. Os tremores a faziam cair e se machucar muito, quebrando o ombro e o braço. Terezinha Pacheco chegava a ter três convulsões por dia e as quedas pioravam. Pozza, a esposa e o filho pequeno voltaram para o Brasil para cuidar da idosa.
De lá, a família trouxe um óleo americano que funcionou bem, reduzindo crises e tremores. Mas acabou e a família se deparou com a burocracia da compra com consulta, aprovação na Anvisa e importação. A solução mais rápida que encontraram foi comprar o óleo numa associação. Pozza suspeita que tivesse muito THC e o novo produto não funcionou. Foram a outra associação, e pouco resultado. Enquanto isso, Terezinha perdia todo o avanço que tinha conseguido.
Por um ano e meio ela continuava tremendo e caindo, sentia que o chão sumia debaixo de seus pés. Ficava triste porque o corpo não obedecia seus comandos: ela fazia os movimentos na cabeça, mas os membros não acompanhavam. Num dos episódios, estava no alto da escada e, por sorte, caiu para a frente e não para trás.
Produzindo remédio
Pozza então ligou para o amigo que tinha ficado na Califórnia cuidando dos negócios. Por telefone mesmo, recebeu a aula para fazer o plantio da Cannabis para a sogra. O primeiro óleo ficou pronto em 2019. Mas na hora de dar para Terezinha, ela não quis. Estava ressabiada com os fracassos anteriores, além de deprimida e mal-humorada.
Não aceitava nem que contratassem um cuidador. Muito religiosa, já tinha preconceito desde o óleo americano, mas na ocasião estava tão mal que aceitou. Agora, depois das tentativas frustradas, argumentava que sua primeira melhora devia ter sido coincidência e se recusava a tentar novamente. Com o óleo pronto, a esposa de Pozza colocou o produto no chá da mãe, sem que ela visse.
Em três dias, foram ajudá-la a se levantar da poltrona, mas ela o fez sozinha: “Olha como estou melhor, o Parkinson está dando uma trégua”, disse. A filha então explicou que era o óleo do marido. “Então me dá duas gotinhas agora”: o preconceito estava desfeito. A depressão melhorou, voltou a lavar louça, aguar as plantas, arrumar a cama e a fazer quase tudo sozinha.
Segundo Pozza, a melhora foi de 90%. Não tinha mais convulsões, menos tremores, estava mais animada e até aceitou um cuidador. Os remédios puderam ser diminuídos em 80%. O médico, que tinha sido contra o tratamento, depois de ver a evolução da paciente, começou um curso para prescrever.
Alternativa
Com o sucesso do tratamento de Terezinha, Pozza se animou a criar sua associação. Chama-se Alternativa e fica na Praia do Rosa em Santa Catarina, onde mora. Hoje já tem três médicos, dois psiquiatras e quatro veterinários colaborando, e inicia divulgação na internet. São mais de cem pacientes atendidos até agora.
Família
Além de atender tanta gente, a família toda também toma. O pai de Pozza, também idoso, toma para hipertensão, a esposa para ansiedade (eventual), o filho recebeu CBD para bruxismo, resolvido em seis dias, e ele mesmo toma para insônia.
Mais recentemente, Terezinha voltou a apresentar evolução do Parkinson, mas ainda caminha sozinha. Pozza conta que, a cada quatro meses, eles desmamam o óleo, esperam alguns dias para que o produto saia do organismo, e voltam com dosagens menores. Assim podem manter uma dosagem mais segura e efetiva.
Alguns remédios que conseguiram reduzir precisaram ter posteriormente as doses aumentadas. Foram casos que, antes do tratamento com Cannabis, já estavam na dose máxima. Agora, com a progressão natural da doença, só precisam voltar a aumentar, e não incluir novas medicações. Hoje, Pozza sabe que deu uma melhor qualidade de vida e mais alguns anos de funcionalidade para a sogra, que está com quase 90 anos: “Se não fosse o óleo, ela estaria de cama até agora”.