A medicina – e muitos pacientes – ganham com o uso do canabidiol para casos de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo).
A substância extraída de plantas do gênero Cannabis representa uma esperança para quem sofre desse distúrbio comportamental comum entre os brasileiros.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é líder mundial no número de casos registrados de ansiedade e condições relacionadas, entre as quais está o TOC.
Embora as autoridades e os profissionais de saúde estejam atentos e levem a sério essa questão, ainda existe muita desinformação a respeito do tema, às vezes tratado como piada.
Essa incompreensão, por sua vez, dificulta que uma pessoa que sofre de TOC aceite sua condição e busque a ajuda de um especialista.
Assim sendo, o objetivo deste conteúdo é lançar luz sobre o assunto, diminuir o preconceito e sugerir soluções para quem sofre com esse problema, seus familiares e amigos.
Siga a leitura e descubra como o CBD pode ajudar no enfrentamento da condição e na melhoria da qualidade de vida e bem-estar dos pacientes.
O que é o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo)?
No filme Melhor é Impossível, com Jack Nicholson no papel de Melvin Udall, há uma cena (entre várias) que revela a obsessão por organização do personagem.
Ao caminhar pela calçada, Melvin olha sempre para baixo, preocupando-se em jamais pisar nas linhas que dividem os blocos que a compõe.
Esse é um exemplo clássico de TOC, que se manifesta por padrões de comportamentos compulsivos, em geral ligados à organização e limpeza extremas.
Como veremos mais à frente em detalhes, o distúrbio se caracteriza por perturbações de ordem obsessiva, afetando os pensamentos, que, por sua vez, viram compulsões.
O TOC causa diversos problemas de relacionamento para os seus portadores, podendo levar ao rompimento de laços familiares e até à perda de emprego e de oportunidades em várias áreas da vida.
Há casos, por exemplo, de pessoas que preferem dedicar-se exclusivamente a alimentar a sua compulsão do que viver uma vida normal, ainda que estejam conscientes das implicações.
Isso porque tais indivíduos passam a crer que, se não cumprirem os rituais auto impostos em função da doença, algo de muito ruim pode acontecer.
O que significa TOC na medicina?
Reconhecido na Classificação Internacional de Doenças com o código CID 10 – F42, o TOC é um distúrbio psiquiátrico relacionado à ansiedade.
Pelo que vimos no tópico anterior, dá para imaginar quanto sofrimento está reservado aos indivíduos que sofrem com ele.
Como boa parte das doenças de ordem psiquiátrica-comportamental, para a medicina, as causas do TOC ainda não são conhecidas de forma exata.
Contudo, sabe-se que, se não for tratado, esse transtorno tende a se agravar com o tempo, até porque, em geral, ele está associado a outros tipos de distúrbios de comportamento.
A “bomba-relógio” da doença se arma quando a essa tendência de agravamento se somam fatores como a desinformação e a própria falta de infraestrutura para lidar com problemas de saúde mental.
Esse é um desafio apontado, inclusive, no relatório da OMS Mental health in the Eastern Mediterranean Region Reaching the unreached.
Segundo o estudo, estima-se que, no Brasil, 57% das pessoas que deveriam receber cuidados para controlar transtornos mentais não são devidamente assistidas.
Quantos tipos de TOC existem?
Pelo que a medicina já descobriu, o TOC é um distúrbio que se manifesta em duas frentes.
Ou seja, é possível que uma pessoa que não apresente nenhum tipo de compulsão seja portadora dessa condição.
Desse modo, temos duas possibilidades a serem consideradas para o TOC: obsessivo e compulsivo.
Obsessivo
O “O”, de “obsessivo”, faz referência à fonte das perturbações que levam a comportamentos compulsivos: a mente.
É nela que estão os pensamentos e as fobias que, por sua vez, podem ou não se materializar em diversos tipos de manias.
Por outro lado, isso não significa que o TOC caracterizado dessa forma seja menos grave.
Pelo contrário, ele pode ser até mais perigoso, já que, no nível da obsessão, não há sintomas aparentes.
Vale destacar que portadores desse transtorno podem apresentar tendências suicidas.
Por isso, é preciso levar a sério essa condição e estimular o diálogo para que possam ser detectados a tempo prováveis obsessões, medos ou fobias que induzam ao TOC.
Compulsivo
A maneira mais comum de manifestação do TOC é por meio da compulsão, que é caracterizada por rituais repetitivos de organização ou limpeza.
Esses rituais, em alguns casos, podem durar horas ou um dia inteiro, o que obviamente pode levar uma pessoa a experimentar perdas de todos os tipos.
Muitos pacientes diagnosticados com esse transtorno têm um medo irracional de serem contaminados por bactérias e vírus.
Por isso, se veem obrigados a higienizar objetos sistematicamente, tomar vários banhos ao dia ou lavar as mãos repetidas vezes, mesmo depois de acabar de lavá-las.
Já as pessoas que têm compulsão por organização tendem a ordenar móveis, pertences e outros objetos de forma repetida e constante, dificilmente dando-se por satisfeitas.
O que leva uma pessoa a ter TOC?
As causas do TOC não são totalmente conhecidas pela medicina.
De qualquer modo, a maioria dos especialistas crê que ele está relacionado ao meio ambiente e a aspectos biológicos.
Há também cientistas que acreditam que o TOC tem origem em alterações no cérebro ou em funções corporais, enquanto outros o associam à predisposição genética.
Existe ainda uma corrente que aponta para as incontáveis maneiras de infecção como possíveis causadoras do transtorno.
No entanto, é consenso que a compulsão, via de regra, é originada por diversos fatores em conjunto.
Entre eles, estão problemas familiares, de relacionamento, traumas de infância ou situações de grande estresse.
Em geral, o TOC se manifesta na infância ou adolescência, embora possa também vir a se revelar já na idade adulta.
O que fazer para ajudar uma pessoa com TOC?
Você agora já sabe que um dos obstáculos para tratar do TOC é a falta de informação.
Esse é um problema grave e que afeta não só a vida dos seus portadores como a de seus familiares e amigos.
Portanto, para ajudar uma vítima desse transtorno, o primeiro passo é identificar possíveis sinais da doença.
Lembre-se de que ela pode não se mostrar na forma de compulsão.
Por isso, se você tem um amigo ou membro da família com histórico familiar de traumas ou que tenha passado por estresse extremo, não deixe de estimular o diálogo.
Pessoas com pensamentos obsessivos normalmente têm vergonha de contá-los.
Portanto, além do diálogo, vale buscar ajuda de psicólogos, terapeutas e psiquiatras.
Cabe ressaltar ainda que, seja qual for o caso, jamais tente a automedicação.
Isto é, nunca arrisque a sua saúde ou a de um ente querido administrando por conta própria medicamentos controlados, já que isso tende a piorar o quadro.
Quem tem TOC pode trabalhar?
O já citado estudo da OMS sobre saúde mental diz que metade das causas de incapacidade para o trabalho no mundo (pág. 10) são ligadas a condições dessa natureza.
No caso do TOC, não é difícil imaginar que tipo de problemas ele pode gerar para seus portadores em termos de vida profissional e social.
Nesta matéria da revista Veja, um dos entrevistados revela, inclusive, que considerou deixar o emprego para viver apenas em função da sua compulsão.
Sendo assim, uma pessoa com esse distúrbio até pode trabalhar, mas, cedo ou tarde, sua condição a levará a ter problemas como faltas e atrasos.
E se nada for feito, a consequência esperada não pode ser outra que não seja a demissão.
Tendo em vista, então, a alta probabilidade de incapacitação para o trabalho causada pelo TOC, fica difícil esperar uma vida laboral normal para os que têm esse tipo de compulsão.
Canabidiol para TOC: como funciona o tratamento?
Por ter causas que não são de todo compreendidas, o TOC nem sempre recebe a abordagem adequada, afinal, cada caso é um caso.
Em alguns deles, é possível que sejam prescritos medicamentos controlados com pesados efeitos colaterais e, o que é pior, que tendem a perder eficácia com o tempo.
Por essas e outras razões, a medicina vem olhando com cada vez mais atenção para o canabidiol (CBD) como alternativa de tratamento.
Isso porque ele apresenta efeitos modulatórios ao ativar as áreas límbica e paralímbica do cérebro, que estão ligadas às emoções.
Por suas propriedades ansiolíticas, o CBD atua diretamente na redução da ansiedade, proporcionando alívio em um período de tempo relativamente curto.
Pesquisas indicam, inclusive, que ele aumenta a biodisponibilidade do chamado “neurotransmissor da felicidade”, a anandamida.
Trata-se de um canabinoide endógeno, ou seja, produzido pelo nosso próprio organismo, por meio do sistema endocanabinoide.
Esse sistema foi descorberto por Allyn Howlett e Raphael Mechoulam e é por ele que agem os canabinoides exógenos, entre os quais estão o CBD e o tetrahidrocanabinol (THC).
4 benefícios do canabidiol para TOC
É sempre válido lembrar que são necessários mais estudos para comprovar de modo irrefutável os benefícios do CBD para a saúde.
Por outro lado, isso não quer dizer que a ciência não tenha avançado no sentido de trazer evidências, algumas muito fortes, que possam ser utilizadas para recomendar o uso desse poderoso canabinoide.
Afinal, não é de hoje que ele vem sendo utilizado como recurso terapêutico, mas antes mesmo de a medicina existir na forma que conhecemos hoje.
Além da experiência empírica e de inúmeros casos de pessoas que tiveram sucesso em tratamentos com CBD, a ciência também já tem material para apoiar o seu uso.
É com base nas pesquisas existentes e nos relatos de indivíduos que conseguiram a cura ou o alívio nos sintomas de doenças que destacamos a seguir quatro benefícios do canabidiol para TOC.
1. Poucos efeitos adversos
Boa parte dos benefícios terapêuticos do CBD está no chamado efeito entourage, que conheceremos melhor em alguns tópicos à frente.
Por agora, basta dizer que esse efeito parte do princípio da sinergia botânica, segundo a qual compostos ativos agem com mais eficácia quando administrados junto com outros que sejam similares ou complementares.
Talvez venha daí as poucas reações adversas do canabidiol, já que seu mecanismo de ação é totalmente natural.
Há estudos que apontam a incidência reduzida desses efeitos em tratamentos para doenças como epilepsia, por exemplo.
Em um deles, Cannabidiol Adverse Effects and Toxicity, os autores afirmam que:
“De maneira geral, a incidência dessas ocorrências (efeitos adversos) é baixa e, em comparação com outros medicamentos empregados para o tratamento dessas doenças, o CBD apresenta melhor perfil de efeitos colaterais.”
2. Ansiolítico natural
Embora a pesquisa Cannabidiol in Anxiety and Sleep: A Large Case Series enfatize a necessidade de testes controlados para comprovar a eficácia do CBD, seus resultados são bastante encorajadores.
Isso porque, em um grupo de 72 pessoas com ansiedade que receberam CBD para tratar dessa condição, 79,2% obtiveram melhora contínua em seus quadros.
Ainda, 66,7% tiveram avanço em seus indicadores de sono e, não bastassem os benefícios, somente três indivíduos sofreram algum tipo de efeito colateral.
Um ponto importante destacado nesse estudo foi o relato dos próprios pacientes que, segundo os pesquisadores, “apreciaram a oportunidade de experimentar algo natural e de evitar o uso de medicamentos psiquiátricos”.
3. Pode ser potencializado (efeito entourage)
A ciência já demonstrou que, no uso medicinal do canabidiol, as reações adversas são maiores quando o composto é administrado na forma purificada.
Isso acontece porque, isolado dos outros componentes da Cannabis, o CBD deixa de preservar os demais fitoquímicos.
Logo, na opinião de pesquisadores, a sinergia entre os compostos é um dos fatores que explicam a redução nos efeitos adversos.
No caso de medicamentos com THC, o elemento psicoativo da Cannabis, a presença do canabidiol e de outros fitoquímicos pode tornar a droga terapêutica.
Embora haja um bom número de pesquisas científicas sobre reações dos fitocanabinoides e do efeito entourage, ainda se sabe pouco a respeito dele.
De qualquer modo, não se pode negar que as plantas do gênero Cannabis têm um potencial terapêutico enorme e ainda subaproveitado na medicina atual.
4. Alternativa 100% segura
Por ser natural, com poucos efeitos adversos e ter seu potencial aumentado quando administrado em óleos full spectrum, é justo dizer que o CBD é uma substância segura.
Isso é reforçado, inclusive, pela pesquisa Canabidiol, um componente da Cannabis sativa, como um ansiolítico.
Nela, depois de uma extensa revisão de literatura, os autores concluíram que:
“Os resultados de estudos em animais de laboratório, voluntários saudáveis e pacientes com transtornos de ansiedade sustentam a proposta do CBD como uma nova droga com propriedades ansiolíticas. Como o CBD não tem efeitos psicoativos e não afeta a cognição, possui um perfil de segurança adequado, boa tolerabilidade, resultados positivos em testes com seres humanos e um amplo espectro de ações farmacológicas, esse composto canabinoide parece estar mais próximo de ter suas descobertas preliminares na ansiedade traduzidas para a prática clínica”.
Remédios de canabidiol para TOC: quais são?
Em geral, os medicamentos à base de CBD indicados para TOC são os mesmos prescritos para tratar da ansiedade.
Portanto, basicamente, o que muda é a concentração de canabidiol e, claro, a dosagem.
Um deles, por exemplo, é o CBD Relax, vendido em cápsulas de 10mg cada e indicado para aliviar o sistema nervoso quando submetido a situações de estresse.
Outra opção é o óleo produzido pela CBD Distillery, de perfil full spectrum e que pode ser comprado online.
Note que, para quaisquer desses medicamentos, será necessário obter antes a autorização da Anvisa para importação, cujo processo descrevemos a seguir.
Como conseguir canabidiol para TOC?
Embora em crescimento, o mercado de fármacos à base de Cannabis, no Brasil, ainda é incipiente.
Hoje, só são comercializados nas farmácias medicamentos de 3 empresas:
- Mevatyl®, registrado em outros países com o nome comercial Sativex®, é indicado para o tratamento sintomático da espasticidade moderada a grave relacionada à esclerose múltipla.
- Os produtos da Prati-Donaduzzi todos isolados contendo apenas o CBD – canabidiol, sendo nas concentrações de 20 mg/ml, 50 mg/ml e 200 mg/ml.
-
Recentemente a Nunature também passou a comercializar produtos nas farmácias, de 1.000 mg e o de 500 mg.
Portanto, se você pretende adquirir remédios para tratar do TOC ou outros distúrbios de ansiedade, provavelmente, terá que recorrer à importação.
Nesse caso, a Anvisa determina o que deve ser feito para se obter produtos do exterior, sempre lembrando que só é possível importar fármacos administrados via oral ou nasal.
Como funciona a liberação do canabidiol para TOC?
O primeiro passo para comprar medicamentos à base de CBD do estrangeiro é obter a receita médica.
Se você procura um médico prescritor, pode agendar uma consulta nesta página.
De posse desse documento, o passo seguinte é preencher a solicitação para importação da Anvisa, conforme o modelo que está disponível no site do governo brasileiro.
Junto à solicitação, é preciso anexar a receita médica, na qual devem constar:
- Nome do paciente
- Nome comercial do produto
- Posologia (dose diária)
- Data
- Assinatura
- Número do registro no Conselho de Classe do profissional prescritor.
Depois, basta aguardar a resposta no prazo de aproximadamente 10 dias e, então, fazer a compra na loja online ou diretamente com um importador.
Clique e veja como importar produtos à base de Cannabis medicinal no Brasil.
Existem estudos sobre canabidiol para TOC?
Você viu ao longo deste artigo que há um número razoável de estudos e pesquisas que sugerem a eficácia do CBD no tratamento do TOC.
Para relembrar, os principais deles são:
- Canabidiol, um componente da Cannabis sativa, como um ansiolítico
- Cannabidiol in Anxiety and Sleep: A Large Case Series
- Cannabidiol as a Potential Treatment for Anxiety Disorders
- Acute effects of cannabinoids on symptoms of obsessive-compulsive disorder: A human laboratory study
- Cannabidiol (CBD): An Innovative Pharmacological Treatment for Obsessive Compulsive Disorder (OCD).
Conclusão
O canabidiol para TOC é, de fato, um aliado poderoso, como comprovam as diversas pesquisas já realizadas.
Mas, para que ele seja efetivamente aproveitado, é preciso antes informar as pessoas sobre o que significa ser portador de TOC, uma doença que, como vimos, não tem nada de engraçada.
Uma maneira de se fazer isso é ler regularmente os conteúdos publicados aqui, no Portal Cannabis & Saúde, sua fonte de informação segura acerca da Cannabis medicinal.
Caso seja paciente ou tenha um amigo ou familiar nessa condição, agende uma consulta com um médico especialista habilitado a prescrever uma receita com CBD.