Encerrou na última sexta-feira (13) a segunda edição do Medical Cannabis Summit, um seminário online e gratuito sobre medicina canabinoide que levou ao Brasil cinco dias de painéis sobre o assunto. E uma das estrelas da última noite foi a Dra. Staci Gruber, professora de Psiquiatria na Harvard Medical School. Ela também está à frente do grupo de pesquisas chamado MIND (sigla que significa Investigações sobre Maconha para Descoberta Neurocientífica e forma a palavra “MENTE” em inglês).
A pesquisadora trouxe alguns estudos promovidos pelo grupo, e o mais importante foi o que avaliou o impacto da Cannabis a longo prazo em pacientes. Ela também comparou os resultados com o uso adulto de maconha e compartilhou os resultados durante o Medical Cannabis Summit
O foco clínico e de pesquisa da Dra. Gruber é a aplicação de modelos neurocognitivos e imagens cerebrais multimodais para melhor caracterizar os fatores de risco neurobiológicos para o abuso de substâncias e psicopatologia.
Em um trabalho recente, ela examinou modelos neurais de disfunção em pacientes com transtorno bipolar, sobretudo em adolescentes e adultos usuários de maconha.
“Analiso há muitas décadas o impacto neurobiológico do uso adulto e do uso medicinal da Cannabis. É importante destacar o que vem de estudos com usuários recreativos. O que sabemos de maneira geral é que, de acordo com meu trabalho e dos meus colegas, indivíduos que começam a usar Cannabis quando jovens, em maior frequência e quantidades maiores tendem a passar por mudanças significativas a longo prazo.
Segundo a médica, isso foi observado por parâmetros de desempenho cognitivo.
“Notamos mudanças na estrutura e atividade cerebral e o que observamos é que durante a adolescente o cérebro é vulnerável à Cannabis. Não só Cannabis, mas álcool também. É pelo cérebro ser vulnerável que a exposição a canabinoides exógenos (presentes nas plantas) acarretem em diferenças (cognitivas) lá na frente”.
Apesar deste resultado com usuários de maconha, não foram encontrados os mesmos resultados quando analisados pacientes de Cannabis medicinal. Dra. Staci lembrou que uso medicinal de Cannabis é legal desde 1996 nos EUA, o que significa que não há muitos dados a respeito do impacto a longo prazo da Cannabis medicinal.
Segundo explicou no Summit, até cinco anos atrás, não havia literatura sobre o impacto do uso da Cannabis medicinal em parâmetros de avaliação usados em estudos clínicos, como desempenho cognitivo, estado clínico, esturutra neuroquímica cerebral, sono e humor.
“Tudo que eu encontrei foram evidências de que a Cannabis era eficaz contra doenças e sontomas agudos, mas nada a longo prazo relacionado a cognição, um dos maiores focos do meu grupo”.
Por isso, em 2014 ela lançou o MIND, justamente para avaliar o desempenho da Cannabis a longo prazo nesses parâmetros. O programa abriga diversos projetos que se debruçam sobre o impacto das terapias canabinoides.
Para a pesquisa sobre o impacto da Cannabis medicinal a longo prazo, foram estudados 54 pessoas, todos maiores de 21 anos, que usam medicamentos dentro da lei e que não tenham feito uso adulto da droga pelo menos nos últimos 12 meses. Contudo, a média de idade ficou na casa dos 50 anos, e a maioria não tinha contato com maconha há pelo menos uma década.
Segundo Dra. Straci, a análise começou antes dos pacientes iniciarem os tratamentos. Além disso, os pesquisadores avaliaram os componentes canabinoides presentes nos óleos, porque “muitas vezes o que diz no rótulo não confere com a realidade”.
A dor foi o principal motivo que levou o grupo a usar cannabis, seguido de ansiedade e TEPT e insônia. Os pesquisadores avaliaram então parâmetros como humor, estado clínico, escalas de depressão e ansiedade, índice de qualidade de sono, mas o principal foi o desempenho cognitivo.
“Nós nos concentramos em funções frontais, mediadas pelo lobo frontal, e a razão para isso é meu grande interesse em entender as diferenças nos pacientes medicinais dos usuários adultos. Observamos que há dificuldade com tarefas mediadas pelo lobo frontal em usuários adultos, provavelmente porque usaram durante a vulnerabilidade do desenvolvimento do cérebro. A questão é: será que veremos o mesmo com pacientes medicinal? A maioria por volta dos 50 anos?”.
“Em todas as visitas, observamos de maneira geral, melhoras após seis e doze meses na escala de depressão, na escala de ansiedade, e vemos o formulário de qualidade de vida melhorar. Quanto a energia e dor melhorou em todas as visitas”, afirmou Dra. Straci Gruber.
“Na média, não vemos piora, apenas melhoras” concluiu.
Sobre a capacidade cognitiva, durante esses 12 meses, foram feitos testes cognitivos como Stroop Color e Wisconsin Card Sorting Test, que são exames com sequências alfanuméricas e coloridas, e nestes testes também houve melhora no desempenho “visita após visita”
Além disso, os mesmos resultados foram obtidos para pacientes que usaram medicamentos com alto teor de THC: “nenhuma piora de desempenho, o que talvez fosse esperado o contrário dado o que se vê na literatura sobre o uso adulto”, afirmou a médica.
Por fim, também foi constatado que os pacientes de Cannabis medicinal não desenvolveram vício em maconha nos 12 meses: “nossos pacientes medicinais passam longe de qualquer suspeita de transtorno por uso de maconha”.
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