A mãe de Sérgio Azevedo, Junia Borges,de 79 anos, enfrenta os primeiros estágios de Alzheimer. No final de 2019, quando foi diagnosticada, já esquecia os fatos, tinha flutuações de humor, confusão, distúrbios motores e derrubava coisas. Foi quando Azevedo, que é professor de pilates, lembrou que uma aluna sua sempre falava da Cannabis, dos estudos que fazia e os cursos que ministrava. A aluna era a psiquiatra Ana Gabriela Hounie. Quando questionada sobre a possibilidade da Cannabis funcionar com a mãe, ouviu uma resposta convicta: “Pode ter certeza, vai ter bons resultados”.
Azevedo já havia ouvido um relato que o influenciou a ver com esperança o uso da Cannabis: a mãe de um amigo tinha uma doença neurológica grave, não falava mais, estava totalmente paralisada, nem movia os olhos. Depois do tratamento com a Cannabis, ela voltou a falar e se movimentar, estava até fazendo fisioterapia.
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Apesar do caso de sucesso e da convicção da psiquiatra, Azevedo precisou fazer um trabalho de preparação com Junia. De cara, a mãe teve resistência. Com jeito, ele fez com que ela lesse matérias e explicou que o remédio já era bastante usado: “Entenda que eu não vou fazer nada para prejudicar a senhora”. Afinal, ela aceitou: “tudo bem, vamos tomar”.
Tranquilidade e sono bom
A primeira consulta presencial foi no final de 2019 e Ana Hounie aviou a receita. Mas o ano virou e Azevedo demorou alguns meses para fazer o processo na Anvisa e seu cadastro na Associação Brasileira de Apoio Cannabis e Esperança (ABRACE), indicada pela médica. Nesses meses, a pandemia chegou e Azevedo notou uma piora da mãe: ela estava mais agitada, ansiosa e não queria ficar em casa.
Em abril deste ano, ele resolveu fazer o que faltava. Solicitou permissão na Anvisa e, com ela, fez a solicitação na ABRACE. Ele conta que este processo, que parecia difícil, foi rápido, levou apenas 20 dias. Com o óleo azul, rico em THC e CBD, Junia começou com duas gotas, duas vezes ao dia, por orientação da doutora Ana. Em uma semana, Azevedo e a irmã já notaram a diferença. A mãe estava mais tranquila, com melhor controle motor, dormindo bem. Ele conta que a mãe sempre reclamava que não tinha dormido quase nada, e um belo dia a resposta ao bom dia foi “dormi muito bem”.
Quando a pandemia começou, em março, Azevedo foi um dos primeiros a fechar o estúdio de pilates na Granja Viana onde mora. Ele já acompanhava os relatos de um amigo jornalista de Roma sobre a pandemia na Itália, e se preocupou muito com a mãe idosa. Num terreno grande com três casas, o paulistano divide o quintal com ela e a irmã, e ficou encarregado de fazer as compras para todos. Com o tempo extra, ele aproveitou para fazer caminhadas com Junia, que nem fazer compras ou ir ao banco mais podia.
Casa de ferreiro, espeto de pau
Junia teve tromboflebite (inflamação em veias), e tinha dificuldade para caminhar. Por várias vezes Azevedo insistiu que ela fizesse pilates, tentou levá-la ao estúdio mas ela nunca quis fazer. Com o tratamento, eles perceberam que ela está caminhando melhor e tem menos dores.
Mais recentemente, Azevedo está atendendo com horário restrito, mas mesmo assim segue com as caminhadas diárias com a mãe. Nas sessões semanais de pilates com Ana, ela faz um acompanhamento do tratamento de Junia. Eles foram aumentando a dose e, segundo ela, a melhora foi exponencial. Apesar de estar ansiosa para sair, já que está em casa desde 18 de março, Azevedo conta que isso deixou de ser um problema. Junia, que antes não conseguia lembrar histórias e lugares de outras épocas, agora lembra de tudo. Ela chegou a lembrar o nome de uma série em inglês, e a irmã se divertiu: “olha, a senhora até aprendeu a falar inglês”.
Azevedo prestou especial atenção em possíveis efeitos colaterais: “Nada, ela toma vinho, mistura e não deu nada”. Apesar de tanta melhora, eles ainda não pensaram em desmamar os remédios de pressão, colesterol e para tireoide; por enquanto, a médica está mais preocupada em ajustar a dosagem do óleo. Para Azevedo, ela não tem como melhorar mais, já que voltou ao seu normal.
Cannabis preventiva
Os resultados da mãe animaram o filho a tomar o óleo preventivamente. Ele consultou a Dra. Ana, que deu o ok para o mesmo óleo. Pouco tempo depois, percebeu que passou a ter um sono perfeito. Por conta de ter aulas a partir das 5h30 da manhã, ele conta que dormia preocupado para não perder a hora, às vezes sentia dificuldade para dormir e acordava ansioso. Depois do óleo, ele deita, dorme e acorda na hora que tem que acordar. Sua irmã também está animada para começar a se tratar com Cannabis.
Azevedo agora indica tanto a dra. Ana quanto a Cannabis para seus amigos com pais idosos, que, assim como ele, não tiveram preconceito. Alguns já estão até fazendo exames para iniciar o tratamento. Agora eles só esperam a pandemia recuar para levar Junia para fazer os exames regulares que ficaram em espera na quarentena. Mas só como prevenção, porque ela está ótima.