O ano era 1963, quando o Professor Dr. Raphael Mechoulam, da Universidade Hebraica de Jerusalém, isolou pela primeira vez o Canabidiol (CBD). Em 1981, um estudo do grupo do professor Elisaldo Carlini, da UNIFESP, comprovou os benefícios do CBD no controle de crises convulsivas, marcando um passo importante para a ciência brasileira. Décadas depois, histórias de crianças como Charlotte Figi, nos EUA, e Anny Fisher, no Brasil, deram um novo rosto à luta pela Cannabis medicinal.
Charlotte, com apenas cinco anos e diagnosticada com a Síndrome de Dravet, encontrou alívio nas crises depois de usar um óleo rico em CBD. A história de Charlotte se espalhou rapidamente pelo mundo, mostrando a eficácia do tratamento.
No Brasil, Anny foi a primeira a garantir na justiça o direito de importar o óleo de CBD, inspirando muitas outras famílias. Essas histórias deram força a um movimento crescente, que, em 2019, levou médicos, neurocientistas e a ANVISA a discutirem a reclassificação do CBD e a regulamentação do uso medicinal da Cannabis no país. Assim, a terpaia se firmou como uma alternativa válida e eficaz no tratamento da epilepsia, com a ciência e as histórias de vida ganhando cada vez mais espaço na sociedade e nas políticas públicas.
O uso medicinal da Cannabis no tratamento da epilepsia refratária tem ganhado cada vez mais relevância. À medida que as opções terapêuticas convencionais não têm sido suficientes para aliviar as crises de muitos pacientes, o CBD se apresenta como uma alternativa viável.
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Neste contexto, aproveitando o mês de conscientização sobre a epilepsia, o Março Roxo, conversamos como a Liga Brasileira de Epilepsia (LBE) e com o neurocirurgião Dr. Francinaldo Gomes, para discutir as alternativas terapêuticas no tratamento da epilepsia refratária, com ênfase nas novas abordagens, como o uso de Cannabis medicinal.
Tratamento personalizado para epilepsia refratária
De acordo com o Dr. Francinaldo Gomes, neurocirurgião e mestre em neurociências, um em cada três pacientes com epilepsia enfrenta a condição refratária, o que representa aproximadamente 700 mil pessoas no Brasil. Nesse sentido, a avaliação correta do tipo de epilepsia e a revisão das medicações já utilizadas são os primeiros passos para explorar alternativas como o uso de Cannabis medicinal.
“Quando os pacientes não respondem aos tratamentos tradicionais, é essencial que eles tenham a possibilidade de serem avaliados adequadamente e de receberem o tratamento mais adequado para o seu caso”, explica Dr. Francinaldo Gomes.
Ele também salienta que a Cannabis, particularmente o Canabidiol (CBD), se mostra uma alternativa terapêutica eficaz para pacientes com epilepsia refratária. Para ele, o tratamento com Cannabis tem mostrado benefícios não só no controle das crises, mas também na melhoria de sintomas associados, como ansiedade, insônia e problemas psiquiátricos, comuns entre os pacientes com essa condição.
O médico também ressalta que a Cannabis atua de maneira única no organismo, pois seus medicamentos interagem com o Sistema Endocanabinoide, uma via biológica própria que não interfere com as vias utilizadas pelos outros medicamentos que o paciente já está tomando.
“O fato dos medicamentos à base de Cannabis atuarem através dessa via biológica exclusiva facilita a condução do tratamento e reduz a interação medicamentosa”, explica.
Dr. Gomes enfatiza que, quando usados de forma correta e com acompanhamento adequado, os recursos alternativos como a Cannabis podem ser extremamente eficazes para muitos pacientes. Mas reforça que o sucesso do tratamento depende do acompanhamento constante de um profissional qualificado, capaz de ajustar doses, orientar o paciente e alinhar expectativas, evitando assim frustrações. “É crucial que o paciente saiba o que esperar do tratamento, como ele será conduzido, para que não haja quebra de expectativa”, conclui.
A importância do conhecimento médico no uso de CBD para epilepsias graves
A Liga Brasileira de Epilepsia (LBE), através do Dr. Luís Otávio Caboclo, neurologista e neurofisiologista clínico, também destaca a importância do uso de Cannabidiol no tratamento de síndromes epilépticas graves, como as síndromes de Dravet e Lennox-Gastaut. Para ele, embora o uso de Cannabis medicinal, especialmente o CBD, seja uma alternativa já aprovada e eficaz para esses casos, a grande lacuna de conhecimento por parte da comunidade médica ainda é um obstáculo significativo.
“É fundamental que os médicos tenham acesso à educação contínua sobre os tratamentos alternativos disponíveis, como o Canabidiol. O conhecimento das indicações para o tratamento da epilepsia refratária é crucial para que mais pacientes se beneficiem dessa terapia“, afirma Dr. Luís Otávio Caboclo.
Ele também enfatiza que o diagnóstico adequado é o primeiro passo para um tratamento bem-sucedido, já que é preciso identificar o tipo de crise e a síndrome epiléptica para, então, escolher a melhor abordagem terapêutica. Em sua visão, o futuro do tratamento da epilepsia refratária passa pela integração de novas terapias, incluindo o uso do CBD.
Visão para o futuro do tratamento da epilepsia refratária: avanços científicos e novas abordagens terapêuticas
Dando continuidade à sua análise sobre o futuro da epilepsia refratária, Dr. Luís Otávio aponta aspectos fundamentais para a evolução do tratamento, que incluem desde diagnósticos mais rápidos e precisos até o avanço de terapias inovadoras. Para ele, uma das principais esperanças para o futuro é o uso da inteligência artificial no diagnóstico de epilepsia. Com ela, seria possível oferecer um diagnóstico mais rápido e assertivo, permitindo que os pacientes iniciassem um tratamento adequado logo no início da doença.
No caso dos pacientes com epilepsia refratária, aqueles cujos crises não são controladas com medicamentos convencionais, o neurocirurgião reforça a importância de alternativas terapêuticas. Segundo ele, o conceito de “tratamentos alternativos” não se refere a substitutos no sentido estrito da palavra, mas a abordagens diferentes dos medicamentos anti-crises. Entre essas alternativas, ele menciona a cirurgia de epilepsia, uma opção eficaz para casos resistentes aos medicamentos, e a dieta cetogênica, já conhecida por suas propriedades terapêuticas.
Outro destaque é o uso do canabidiol (CBD), que se tornou uma opção terapêutica válida para alguns tipos de epilepsia refratária. O neurologista explica que o CBD não deve ser visto como uma alternativa no sentido convencional, mas como uma “alternativa de tratamento”, ou seja, uma abordagem diferente que pode ser combinada com outros medicamentos. Entretanto, ele destaca a necessidade de mais estudos clínicos rigorosos para esclarecer questões importantes, como o potencial do CBD como monoterapia (uso isolado) e a segurança de outras formas de Cannabis medicinal a longo prazo.
Historias de pacientes
À medida que a pesquisa sobre o uso da Cannabis medicinal para epilepsia avança, os relatos de pacientes que optaram pelo tratamento com Canabidiol (CBD) tornam-se essenciais para entender os benefícios dessa terapia.
A seguir, apresentamos experiências de pessoas com essa condição que, com o acompanhamento médico adequado, encontraram na Cannabis uma alternativa para melhorar o controle das crises e a qualidade de vida. Cada relato contribui para o aprofundamento do conhecimento sobre o potencial da planta no tratamento dessa condição.
Epilepsia de difícil controle: Ariane Silva Dias e a revolução do tratamento com a Cannabis medicinal
Ariane Silva Dias, diagnosticada com epilepsia de difícil controle, enfrentou anos de tratamentos convencionais sem sucesso. Após iniciar o uso de Canabidiol (CBD), as crises diminuíram drasticamente, melhorando sua qualidade de vida e permitindo atividades cotidianas como exercícios físicos. Apesar do preconceito inicial, a mudança foi visível para todos, refletindo o potencial da Cannabis no tratamento da epilepsia refratária.
Uma jornada de esperança com a Cannabis Medicinal na Epilepsia Refratária
Renata Almeida Vieira compartilha a jornada de sua filha, Luana, diagnosticada com epilepsia refratária. Após anos de tratamentos convencionais sem sucesso, a introdução do óleo de Canabidiol (CBD) trouxe melhorias significativas para as crises de Luana. Apesar de enfrentar resistência de profissionais de saúde e desafios no tratamento, como uma internação em UTI, Luana experimentou um controle maior das convulsões e melhorou sua qualidade de vida. A história de Renata reflete a luta constante por aceitação e acesso ao tratamento com Cannabis Medicinal.
Cannabis no tratamento da epilepsia: “desde que começamos o uso, as crises reduziram significativamente”
Rodrigo, de 38 anos, portador de paralisia cerebral e epilepsia refratária, enfrentava crises convulsivas severas, ocorrendo de duas a três vezes por semana, mesmo com o uso de anticonvulsivantes. Após iniciar o tratamento com óleo de Cannabis medicinal, supervisionado pelo Dr. Vinícius Mesquita, as crises reduziram significativamente, passando a ocorrer apenas duas vezes por mês em um período de oito meses.
A introdução do óleo de Cannabis não só trouxe um controle maior sobre as crises, como também proporcionou uma significativa melhora na qualidade de vida de Rodrigo.
Importante!
A regulamentação brasileira exige que produtos derivados da Cannabis sejam prescritos por um médico para serem utilizados no tratamento de saúde. Essa medida tem como objetivo garantir a segurança dos pacientes. Portanto, o primeiro passo é agendar uma consulta com um profissional capacitado para fazer esse tipo de prescrição.
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