Por Rogério Godinho
Alvo de dores crônicas durante anos, o mineiro José Teixeira relutou para enxergar a Cannabis como uma solução. No início de 2019, uma amiga fez a sugestão. Em maio, foi a um evento da Apepi (associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis), no Rio de Janeiro. Pegou panfletos, assistiu a palestras. Somente depois disso ele se convenceu. Zezinho, como os amigos chamam, faz parte de um grupo em que a informação sobre Cannabis chega com dificuldade: ele é surdo.
Essa dificuldade de determinados grupos obterem informação, surdos entre eles, é confirmada pela Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis (SBEC). É a conclusão de Fran Assis, líder do movimento fibrocannabis e coordenadora da Câmara Técnica de Fibromialgia da SBEC.
De acordo com ela, a primeira pessoa com surdez a ter acesso ao medicamento foi em fevereiro de 2019. “As informações não chegam a eles”, diz Fran. Não que a Cannabis seja utilizada para a surdez. O que acontece é que a condição dificulta o acesso a informações que poderiam ser úteis para o tratamento de outras enfermidades nesse grupo de pessoas. Para corrigir o problema, a SBEC (em parceria com o Movimento Fibrocannabis) começou a oferecer à comunidade surda acessos aos seus eventos.
Zezinho
O caso de Zezinho mostra como essas iniciativas podem contribuir para reduzir o problema. O evento da Apepi era a Semana da Fibromialgia, que ocorreu entre 10 e 16 de maio de 2019. Na ocasião, Zezinho estava com mais dois surdos, mas não havia uma programação especial, nem tradução para libras. Faltava verba. Fran traduziu para o grupo.
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Um dos temas abordados no evento foi o uso de canabidiol para o tratamento de doenças crônicas, como a fibromialgia. A enfermidade provoca dores por todo o corpo, além de sintomas como fadiga, insônia, ansiedade, dificuldade de concentração e cefaleia. O uso não é novidade, há pesquisas desde 2011. Depois, em 2014, a Fundação Nacional da Dor americana descobriu o CBD aliviou a dor de 62% dos pacientes com fibromialgia.
Zezinho voltou para Juiz de Fora, onde mora, convencido. Venceu a rejeição, ignorou os tabus e começou a usar em agosto do ano passado. Nesse caso, o óleo é aplicado embaixo da língua, local de fácil absorção e que evita sobrecarregar os rins, em caso de ingestão.
Já no primeiro mês de uso, sentiu melhora sensível na dor e na depressão.
De acordo com a SBEC, outros sete surdos também estão utilizando o óleo canabidiol com o mesmo objetivo. Em parte, pelo esforço da associação em informar, mantendo hoje dois grupos de surdos para quem levam conhecimento. Desde o ano passado, a associação e o movimento Fibrocannabis realizam eventos com esse objetivo nos perfis @sbecmed e @fibrocannabis no Instagram e no canal do YouTube da SBEC. Sempre que necessário, Fran faz a tradução para libras nos vídeos e conversa individualmente com os surdos por meio do Whatsapp.
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