Em entrevista ao portal Cannabis & Saúde, a fisioterapeuta Ana Gabriela Baptista explica que os pacientes que se curaram do coronavírus precisam passar por recuperação, não só pulmonar, mas também muscular, e os canabinoides podem ser um suplemento nesse processo.
O número de casos por Covid-19 já passa dos 100 mil no Brasil, com 7 mil mortes confirmadas. Porém, segundo o Ministério da Saúde, mais de 42,9 mil pessoas se recuperaram da síndrome, enquanto 51 mil pacientes seguem em acompanhamento. Não se tem vacina, nem remédio para a doença. Então, diante deste cenário, qual é a reabilitação mais adequada aos pacientes?
Para responder a esta e muitas outras dúvidas, a healthtech em Cannabis medicinal CanTera realizará, na próxima terça-feira (05), às 19h30, a Live ‘Reabilitação em Covid-19’ com a fisioterapeuta Ana Gabriela Baptista, consultora técnica e científica em terapia canabinoide e uma das profissionais mais influentes do universo da Cannabis medicinal no Brasil, segundo levantamento inédito feito pela Tree Intelligence em abril de 2020.
Ana Gabriela atua na reabilitação de pacientes há 16 anos. Atualmente, integra a equipe do Dr. Carlos Carvalho, pneumologista referência no país e integrante do centro de contingência de São Paulo. Em entrevista ao portal Cannabis & Saúde, ela adiantou os assuntos que serão debatidos no evento.
Segundo Ana Gabriela, a reabilitação dos pacientes não é necessária apenas destinada ao pulmão, mas também cardiovascular, neuromuscular entre outras.
“Um paciente que fica muito tempo em ventilação mecânica possivelmente vai ter uma sequela como a diminuição da força e resistência da musculatura respiratória e alteração na expansão pulmonar. Não conseguindo ter força para respirar como antes, e quando ocorrem essas alterações a reabilitação faz toda a diferença, através de treinamento específico”.
Nesse cenário, acredita-se que a Cannabis possa oferecer algum benefício, já que os canabinóides promovem a homeostase, que é a estabilidade do organismo. Algo que necessita de mais estudos, pondera a Dra. Ana Gabriela.
“Ainda não há qualquer comprovação científica. Se já tem uma limitação de estudos dentro das doenças antigas, imagina com doenças novas. O que a gente pode pensar é uma correlação com a fisiologia. A Cannabis, dentro da Medicina, atua no sistema endocanabinoide, este modula outros sistemas do nosso metabolismo. A gente pode pensar que trabalhando no sistema imunológico, os canabinoides podem oferecer equilíbrio ao organismo”.
Conforme Ana Gabriela, a Covid-19 leva a uma alteração nesse sistema e pode haver a possibilidade dos óleos ricos em canabinoides ajudarem nessa homeostase: “mas isso é uma hipóteses que a gente levanta, inclusive para induzir os cientistas a correlacionar com um trabalho dentro do que sabemos da fisiologia”.
O que é totalmente diferente do uso da maconha fumada, alerta a profissional de saúde: levar a uma temperatura de mais de 400ºC pode levar a danos alveolares, pois a combustão pode produzir outros gases tóxicos ao pulmão, não sendo a forma terapêutica mais adequada aos pacientes.
Saiba mais sobre a recuperação de pacientes da Covid-19 nessa entrevista ao Cannabis & Saúde.
A Dra Ana Baptista Gabriela é fisioterapeuta e tem se especializado e utilizado a Cannabis no tratamento de pacientes refratários em processo de reabilitação física. Graças a esse e outros trabalhos, ela foi indicada como uma das profissionais da saúde mais influentes do universo canábico no Brasil pela consultoria Tree Inteligence.
“Eu fiquei realmente muito feliz . Não esperava essa pesquisa, e eles citaram meu nome junto de outros médicos referência nessa área. Um dos meus focos na terapia canabinoide é levar o conhecimento, eu também tenho a parte acadêmica, onde foco nos estudos, então sempre levei para as equipes um pouco de estudos sobre isso. Também colocando muitos estudos na minha rede social, isso tem engajado nessa influência. Não era algo que eu esperava.
Meu objetivo sempre foi abrir o conhecimento que é muito técnico e científico `a todas as pessoas, a Cannabis é uma área muito sensível por causa de todo um passado de preconceito por conta das drogas, mas com o conhecimento isso tudo cai por terra. As pessoas passam a entender que existe um sistema no nosso corpo próximo ao sistema da planta, e que podem fazer uma administração com uma resposta clínica efetiva, melhorando a qualidade de vida dos doentes.
Como está sendo a reabilitação para os pacientes da coronavírus?
No programa de reabilitação que atende pacientes voltados à Covid-19, eu observo que a reabilitação está sendo muito importante porque os pacientes, no momento da internação, precisam do atendimento, é claro, da fisioterapia, do suporte de vida, mas depois eles vão precisar também, na recuperação. Temos observado várias alterações pós-internação em vários sistemas do corpo, não só no pulmão, como muitos pensam, e a reabilitação tem papel fundamental.
Esses pacientes pós-Covid que precisam de reabilitação – depende muito do caso – mas temos pacientes em vários locais de atuação do vírus. Pacientes que precisam de reabilitação pulmonar, que ficaram muito tempo em respiração mecânica, que perderam a força muscular, alguns pacientes que são cardiopatas precisam fazer cardiopulmonar, mas eu tenho também pacientes com sintomas neurológicos, com Guillain Barré (uma síndrome que ataca o sistema nervoso – mielina), que traz sequelas motoras que podem levar a paralisia do pescoço para baixo. Que tem alta hospitalar, mas precisa se reabilitar porque perdeu os movimentos funcionais e até outros que tiveram quadros de meningite. A reabilitação pós-Covid-19 tem compreendido várias especialidades clínicas.
De que forma a Cannabis medicinal pode ajudar nessa reabilitação?
Cientificamente falando, não se tem propriedades para dizer sobre isso, porque a Covid-19 é uma síndrome nova. Os pacientes estão tendo sintomas cada vez mais diferentes, e a Cannabis já tem uma limitação de estudos dentro das doenças antigas, imagina com doenças novas. Portanto, falar de estudo científico é muito complicado. O que podemos pensar é com relação à fisiologia. A Cannabis dentro da Medicina atua no sistema endocanabinoide, que tem toda uma fisiologia, e que modula outros sistemas do nosso metabolismo. Ao trabalhar no sistema imunológico, pode oferecer equilíbrio, a homeostase, quando está com uma alteração grande.
A Covid-19 leva a uma alteração nesse sistema, tem a produção de citocinas. E, pode haver a possibilidade desses óleos ricos em canabinoides ajudarem nessa homeostase. Mas, isso é uma hipótese que levantamos inclusive para induzir os cientistas a correlacionar a um trabalho dentro da fisiologia.
É bem diferente do uso de maconha fumada, que expõe o paciente.
É complicada a forma fumada, principalmente com a Covid-19, porque a gente já tem uma alteração pulmonar bem complicada, e levar a combustão quando queima um cigarro passando de 400ºC produzindo outros gases, pode haver uma piora da região pulmonar.
Isso também não se tem estudo, mas sabe-se que um alvéolo inflamado exposto a 400ºC, definitivamente não faz bem. O que estamos conversando é sobre um óleo de CBD administrado via oral para ele atuar no equilíbrio do sistema endocanabinoide, com uma capacidade terapêutica maior. Fumando você não tem controle do que o paciente está ingerindo.
Os pacientes têm apresentado sequelas pós síndrome?
Falar de sequela é muito precoce, a gente está conseguindo ter um pouco de noção da reabilitação pós. Mas até internacionalmente, eu tenho participado de alguns meetings, e a sequelas são muito específicas, depende do que aconteceu. Um paciente que ficou muito tempo em ventilação mecânica possivelmente vai ter uma sequela como a diminuição da força muscular, a deficiência de expansão do pulmão, não tem força para o paciente respirar como antes.
Muitas pessoas acham que a ventilação mecânica cura a Covid-19. Mas na verdade não. Ela dá o suporte de vida para o paciente ir se restabelecendo, ou com outras drogas, ou com o próprio organismo do paciente revertendo esse processo.
O que já se sabe sobre Vacina?
Quanto a vacina ainda não temos nada. Vários países estão focados no desenvolvimento, mas é um processo que demora, porque tem que desvendar todo o RNA do vírus para poder entender como você manipula ele e manda para dentro do corpo. Então vacina, esse ano, acho muito complicado. Eu acredito ser muito mais fácil encontrar uma medicação eficaz. Existem algumas medicações com um poder bem interessante nos sintomas da doença.
E a Cloroquina?
Está sendo estudada. Alguns grupos estão fazendo estudos. É muito controverso porque alguns pacientes melhoram, outros não. O tempo em que se inicia interfere também. Já conseguiram comprovar que em doses altas não é interessante, doses baixas talvez sim. Mas, pelos webinários internacionais que eu participo, estão bastante interessados no Remdesivir, que não temos no Brasil ainda, mas que em outros países está sendo muito estudado, e muitas equipes estão tendo resultados interessantes. Foi usado no Ebola e teve bons resultados, na MERS que também é causada por um tipo de coronavírus, observou-se resultados. Mas é muito cedo. Hoje não tem um remédio que responda 100% à Covid-19.
Quais drogas estão sendo administradas nos pacientes?
As equipes escolhem muitas vezes o uso de antibióticos, pois muitos pacientes têm pneumonia secundária. Os anticoagulantes são escolhidos em certos casos. O que eu observo na escolha também são os corticóides, porém, tem um momento adequado na introdução. Uma vez que existem certas limitações, cada caso é um caso. Existem vários trabalhos em instituições diferentes autorizados pela OMS com diversos protocolos, cada instituição tem escolhido seu protocolo. Também temos que pensar que alguns medicamentos são disponíveis para uso no SUS e outros não estão disponíveis.
Você trabalha apenas no setor privado. Como está a ocupação de leitos nesse setor?
A crise começou no setor privado, deu esse boom, e a gente correu para se estruturar e dar um suporte. Agora diminuiu por causa do isolamento, mas as pessoas de classe mais baixa, que fazem parte dos serviços essenciais, não conseguem ficar no isolamento. E o vírus passando para essa classe, atingiu o SUS. Diminuiu no setor privado, mas está aumentando consideravelmente no setor público, podendo chegar a uma saturação, inclusive o Ministério da Saúde pode encaminhar pacientes do SUS para o interior de SP, se necessário, para depois trazê-los novamente, locais com menos casos que a capital de São Paulo.
O que eu vejo é que é uma doença nova, ninguém sabe muita coisa, todo mundo está estudando bastante e muito focado em absorver o máximo de informação possível, principalmente quem está na linha de frente. Muitas vezes não se consegue dar toda a estrutura necessária, sendo assim, temos que pedir é o apoio de todos. Todos precisam colaborar. Eu tenho ficado muito feliz, com a ação dos profissionais, por exemplo o de Educação Física que fazem exercícios online para ajudar as pessoas confinadas em casa. Temos que ter o pensamento de que tudo passa, e essa situação também irá passar, o que mais importa é como seremos quando sairmos desta pandemia.
Tudo tem um começo, meio e fim. E isso não vai durar para sempre. Se cada um fizer sua parte, isso vai passar.
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