Já havia consultado o Gastroenterologista e realizado exames, sendo que estavam todos normais e não estava respondendo ao tratamento com antieméticos e analgésicos. A princípio, esses sintomas não pareciam se encaixar com o quadro habitual da fibromialgia ou doenças associadas, o que me levou a suspeitar de uma possível síndrome de hiperêmese por canabinoides.
A síndrome de hiperêmese por canabinoides (SHC) tem se tornado cada vez mais reconhecida na prática clínica, principalmente com o aumento dos usuários de maconha para fins terapêuticos.
O quadro clínico dessa síndrome envolve episódios recorrentes de náuseas e vômitos intensos, que geralmente não respondem aos tratamentos convencionais. Esses sintomas tendem a ocorrer após um período prolongado de uso de Cannabis e a única forma eficaz de alívio, em muitos casos, é a suspensão do uso da substância.
A relação entre o uso crônico e o desenvolvimento dessa síndrome ainda é tema de estudos, mas acredita-se que o mecanismo esteja relacionado ao efeito que os canabinoides podem ter no sistema endocanabinoide, resultando em um desequilíbrio que desencadeia esses sintomas.
Com o aumento dos usuários, tanto para fins recreativos quanto medicinais, é cada vez mais comum diagnosticarmos pessoas com SHC. Isso ocorre, em grande parte, devido ao fato de que muitos pacientes acabam consumindo doses elevadas e prolongadas principalmente do THC. O diagnóstico da síndrome é muitas vezes desafiador, já que os sintomas podem se assemelhar a outras condições, como gastrites ou distúrbios gastrointestinais. No caso da paciente em questão, suspendemos o uso dos canabinoides e ela evoluiu com remissão dos sintomas, fechando assim o diagnóstico.
Desse modo, a SHC é uma condição que, embora rara, tem se tornado mais prevalente à medida que o uso da Cannabis se populariza. É crucial que os profissionais de saúde estejam cientes da existência dessa síndrome e saibam identificar seus sinais e sintomas para realizar um diagnóstico assertivo e orientar os pacientes de como proceder.
A educação sobre os potenciais efeitos adversos dessa substância é essencial para garantir que os tratamentos com os componentes da planta sejam realizados de forma segura e eficaz.
Referências:
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Confira a live “Cannabis no tratamento da dor”, que contou com a participação da médica anestesiologista, Dra. Renata Coutinho Areosa, CRM 173385 e RQE 117713.
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