Estima-se que a epilepsia infantil afete aproximadamente 30 milhões de crianças ao redor do mundo. A cada ano, cerca de 2 milhões de novos casos são diagnosticados globalmente.
Trata-se de um dos distúrbios mais comuns que afetam o sistema nervoso, atingindo pessoas de todas as idades, etnias e origens.
Diversos fatores podem interromper as conexões normais entre as células nervosas do cérebro e desencadear uma convulsão, como febre alta, níveis baixos de glicose no sangue ou ainda uma concussão.
Sob essas condições, qualquer criança pode experimentar uma ou mais convulsões. No entanto, a epilepsia infantil é diagnosticada quando ela apresenta duas ou mais convulsões recorrentes e não provocadas.
E como existem diferentes tipos de epilepsia infantil, há também variadas formas de manejo, as quais você conhecerá a seguir. Acompanhe a leitura deste artigo e obtenha informações sobre:
- Quais são os sintomas da epilepsia infantil?
- Quais são as causas da epilepsia infantil?
- Os tipos de síndromes epilépticas
- Como é diagnosticada a epilepsia infantil?
- Como tratar a epilepsia infantil?
- A Cannabis medicinal pode tratar epilepsia infantil?
- O que fazer durante uma crise de epilepsia infantil?
- A epilepsia infantil tem cura?
- Quais cuidados são necessários para crianças com epilepsia infantil?
Quais são os sintomas da epilepsia infantil?
A epilepsia infantil é uma condição neurológica crônica em que grupos de células nervosas no cérebro, os neurônios, às vezes disparam sinais incorretos, resultando em convulsões.
Durante uma convulsão, há uma descarga anormal de atividade elétrica no cérebro, fazendo com que os neurônios enviem sinais em excesso e muito mais rapidamente do que o habitual.
Esse aumento na atividade pode provocar movimentos, sensações, emoções ou comportamentos involuntários.
As crises convulsivas variam desde episódios de contração muscular intensa e perda de consciência até momentos de desconexão do ambiente, em que a criança apenas fica imóvel e com o olhar fixo por alguns segundos.
Os sintomas dependem do tipo de crise que a criança está tendo. No entanto, existem alguns sinais gerais que podem indicar que seu filho está tendo uma convulsão ou prestes a tê-la:
- Olhar fixo sem foco;
- Movimentos bruscos nos braços e pernas;
- Rigidez no corpo;
- Perda de consciência;
- Dificuldade para respirar ou pausas na respiração;
- Perda de controle da bexiga ou intestino;
- Queda súbita sem motivo aparente, especialmente acompanhada por perda de consciência;
- Falta de resposta a sons ou chamadas por curtos períodos;
- Movimentos rítmicos da cabeça, especialmente quando acompanhados por perda de consciência;
- Piscar rapidamente enquanto mantém o olhar fixo;
- Coloração azulada dos lábios;
- Muitas vezes, após os movimentos, a criança pode sentir sonolência ou desorientação.
A epilepsia afeta o desenvolvimento da criança?
Sim, a epilepsia afeta o desenvolvimento da criança de muitas maneiras, não apenas a nível biológico.
Imagine uma criança que, em um momento brincando com amigos, é subitamente interrompida por uma crise. O receio de uma nova crise pode fazer com que ela evite brincadeiras, festas ou até mesmo a escola.
Essa evitação social leva ao isolamento, um desafio que muitos pais enfrentam ao observar seus filhos lutando para encontrar seu lugar em um mundo que, muitas vezes, não compreende sua condição.
O desenvolvimento cognitivo é outra área onde a epilepsia infantil deixa sua marca. Quando as crises ocorrem com frequência, especialmente em idade precoce, a capacidade de aprendizagem costuma ser prejudicada.
Uma criança que sofre com convulsões recorrentes perde dias de aula ou normalmente tem dificuldade em se concentrar nas atividades. A principal consequência é o atraso acadêmico e a frustração.
Os medicamentos antiepilépticos, embora sejam importantes para o controle das crises, também têm efeitos colaterais que podem interferir no desenvolvimento da criança.
Cansaço, sonolência e desinteresse em brincar são alguns exemplos de problemas que esses medicamentos trazem.
No entanto, crianças que têm uma rede de suporte sólida — seja através da família, amigos ou profissionais de saúde — têm mais chances de superar os desafios de desenvolvimento que a epilepsia impõe.
Quais são as causas da epilepsia infantil?
As convulsões podem ser provocadas ou não. As convulsões provocadas, como aquelas desencadeadas por febre em crianças pequenas ou hipoglicemia severa, não são consideradas epilepsia.
Por outro lado, convulsões não provocadas estão ligadas a fatores genéticos ou a lesões cerebrais, e são classificadas como epilepsia infantil.
Cada tipo de epilepsia resulta de um fator diferente, por exemplo:
- Epilepsia focal: Iniciam-se com uma descarga elétrica anormal em uma área específica do cérebro. Causas comuns incluem anormalidades estruturais no cérebro, traumatismo craniano, derrame e infecções. Problemas nas conexões neuronais podem estar presentes.
- Convulsões do lobo temporal e frontal: Essa forma de epilepsia ocorre nos lobos temporal e frontal, que controlam decisões e emoções. As convulsões geralmente acontecem à noite e manifestam-se com movimentos involuntários.
- Convulsões do lobo occipital: Raras em crianças, as convulsões do lobo occipital estão associadas a alucinações visuais e podem ser iniciadas por crises de enxaquecas.
- Epilepsia gelástica: Caracterizada por risos incontroláveis, essas convulsões estão frequentemente ligadas a hamartomas hipotalâmicos, um tipo de malformação congênita.
- Convulsões generalizadas: Iniciadas por uma descarga elétrica que afeta ambos os lados do cérebro. Elas se dividem em epilepsia generalizada idiopática e encefalopatias epilépticas, com esta última frequentemente associada a problemas de desenvolvimento.
- Epilepsia mioclônica progressiva: Rara e geralmente relacionada a distúrbios hereditários, a epilepsia mioclônica progressiva pode causar rigidez muscular, além das convulsões.
De maneira geral, estas formas de epilepsia são causadas por um ou mais fatores abaixo:
- Alterações genéticas hereditárias ou mutações genéticas;
- Lesões cerebrais causadas por traumatismo, AVC, tumor ou malformações;
- Infecções que afetam o sistema nervoso, como meningite ou encefalite;
- Distúrbios que afetam o equilíbrio químico do corpo, como hipoglicemia ou deficiência de sódio;
- Doenças autoimunes que atacam o cérebro;
- Condições que ocorrem durante o desenvolvimento, como paralisia cerebral ou síndrome de Down;
- Exposição a toxinas e estresse extremo.
Os tipos de síndromes epilépticas
Quando uma criança apresenta duas ou mais convulsões não provocadas, ela pode ser diagnosticada com alguma síndrome epiléptica.
A epilepsia e os distúrbios convulsivos podem se manifestar de maneira diferente em adultos e crianças.
Contudo, as convulsões, independentemente da idade, são divididas em dois tipos principais: as focais, também conhecidas como parciais, e as generalizadas. Existe também um tipo menos comum, a epilepsia mioclônica.
Quando um transtorno tem uma constelação de sintomas que tendem a ocorrer juntos, ele é denominado síndrome.
Algumas crianças têm certos tipos de síndromes epilépticas, as quais são definidas pela idade em que as convulsões começam, tipos de convulsão, presença de atraso no desenvolvimento e achados no eletroencefalograma (EEG).
Alguns exemplos de síndromes de epilepsia infantil estão listados abaixo:
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Epilepsia Rolândica
A epilepsia rolândica, também conhecida como epilepsia benigna da infância, é uma condição infantil que afeta principalmente crianças entre os 3 e os 12 anos.
Ela se manifesta com convulsões que ocorrem durante o sono ou quando a criança está acordada, muitas vezes resultando em movimentos involuntários, como sacudidas nos músculos da face e da mandíbula.
Esses episódios podem ser assustadores tanto para as crianças quanto para os pais, mas, felizmente, a condição é considerada benigna e frequentemente se resolve com o tempo.
Os cientistas acreditam que as convulsões estão ligadas a um aumento da excitabilidade em áreas específicas do cérebro, particularmente na região rolândica, que está envolvida no controle motor e à percepção sensorial.
O mais encorajador sobre a epilepsia rolândica é que, na maioria das situações, as crianças se recuperam completamente, levando a uma vida saudável e ativa.
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Síndrome de Doose
A síndrome de Doose é um tipo de epilepsia mioclônica que surge a partir da infância. Geralmente, a sua manifestação ocorre entre os 18 meses e os 6 anos de idade.
As crianças diagnosticadas com a síndrome de Doose frequentemente enfrentam numerosas convulsões mioclônicas e mioclônicas-atônicas.
Durante as convulsões mioclônicas-atônicas, ela pode perder o tônus muscular de forma abrupta, resultando em quedas se estiver em pé. Além disso, essas crianças podem apresentar outros tipos de convulsões, como:
- Convulsões tônico-clônicas;
- Crises de ausência — A criança pode parecer desatenta ou em um estado semelhante ao de sonhar acordada;
- Crises tônicas — Nesse tipo de convulsão, ocorre um enrijecimento dos músculos do corpo e/ou das extremidades. Geralmente, as crises tônicas são de duração mais breve em comparação com as tônico-clônicas;
- Convulsões atônicas.
- Status epilépticos não convulsivo — Estas são convulsões discretas que duram mais de cinco minutos, e a criança pode estar consciente ou não durante esses episódios.
O principal desafio na síndrome de Doose é a sua imprevisibilidade. As pessoas afetadas apresentam episódios repentinos de espasmos musculares, que podem fazer com que caiam ou apresentem movimentos descoordenados.
Isso significa que as crises nesta condição podem ser difíceis de prever. Além das crises convulsivas, a síndrome de Doose pode levar a um quadro de dificuldades de aprendizado.
Consequentemente, crianças que enfrentam episódios de crises podem desenvolver ansiedade, medo e até mesmo uma aversão a certas atividades que antes eram prazerosas.
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Síndrome de Rett
A síndrome de Rett é uma condição neuropsiquiátrica que afeta predominantemente meninas entre 6 meses e 2 anos de idade.
No início, as crianças parecem se desenvolver normalmente, mas, aos poucos, começam a perder habilidades motoras e de linguagem que haviam adquirido.
Os mecanismos de desenvolvimento da síndrome de Rett estão intimamente ligados a mutações no gene MECP2, responsável por regular a expressão de outros genes que são importantes para o desenvolvimento do sistema nervoso.
Essa disfunção genética leva a um quadro que se caracteriza pela perda de habilidades motoras, como a capacidade de andar e usar as mãos.
As crianças podem esfregar as mãos ou bater palmas incessantemente, como uma forma de lidar com a ansiedade e a frustração associadas à condição.
Além das dificuldades motoras, a síndrome de Rett traz consigo um espectro de desafios cognitivos. Embora o desenvolvimento das crianças varie, muitas enfrentam dificuldades na comunicação e na interação social.
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Síndrome de West
A síndrome de West, também conhecida como Espasmos Infantis, é enfrentam dificuldades na comunicação e na interação social de epilepsia.
Este é um tipo de epilepsia marcado por uma tríade de sintomas: espasmos musculares, anormalidades no EEG (eletroencefalograma) e atraso no desenvolvimento.
Os espasmos, que são os sinais mais evidentes, podem ser descritos como contrações bruscas dos músculos, causando flexão do tronco e dos membros.
Por mais que esses espasmos pareçam inofensivos, sua frequência e intensidade interferem gravemente no aprendizado e na interação social.
Dessa forma, o desenvolvimento cognitivo é muitas vezes afetado, e as crianças com síndrome de West normalmente enfrentam problemas de aprendizagem e comunicação.
Além dos aspectos físicos e cognitivos, o estresse e a ansiedade gerados pela imprevisibilidade das crises e pelas limitações no desenvolvimento costumam agravar o quadro.
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Síndrome de Rasmussen
A síndrome de Rasmussen é uma forma de epilepsia infantil rara, caracterizada por episódios de convulsões que se intensificam ao longo do tempo.
Uma das características mais marcantes dessa síndrome é a presença de hemiparesia, que se refere à fraqueza em um lado do corpo.
Isso ocorre devido a uma inflamação crônica do córtex cerebral, levando à morte neuronal e a alterações na estrutura do cérebro.
Embora a causa exata da síndrome ainda não esteja totalmente compreendida, acredita-se que fatores autoimunes influenciam fortemente no processo patológico.
O início da síndrome ocorre em crianças entre 1 e 14 anos, embora a média de diagnóstico se situe em torno dos 5 anos. Os sintomas começam de forma insidiosa, com crises epilépticas que se concentram em um lado do corpo.
Com o tempo, essas crises podem se tornar mais frequentes e intensas, evoluindo para convulsões tônicas-clônicas generalizadas.
Além das convulsões, os portadores da síndrome apresentam dificuldades cognitivas e motoras. Devido a isso, em casos mais graves, a cirurgia pode ser considerada, visando a remoção do hemisfério afetado.
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Síndrome de Angelman
A síndrome de Angelman é uma desordem genética associada a um desenvolvimento motor e cognitivo comprometido.
Comumente identificada na infância, os portadores dessa condição apresentam dificuldades de fala e são muitas vezes incapazes de articular palavras, embora possam se comunicar através de gestos e expressões.
A causa da síndrome de Angelman está relacionada a uma anormalidade no cromossomo 15, geralmente envolvendo a deleção ou mutação do gene UBE3A.
Esse gene é fundamental para o desenvolvimento cerebral adequado e suas funções não podem ser facilmente compensadas por outras partes do genoma.
A ausência deste gene resulta em um quadro clínico que causa problemas físicos, emocionais e comportamentais.
Muitas crianças com a síndrome apresentam episódios de risadas incontroláveis e um comportamento alegre, que, embora encantador, pode ser confundido com uma falta de controle.
É comum que o diagnóstico se dê após o surgimento dos primeiros sinais, que geralmente aparecem entre os 6 meses e os 2 anos de idade. A intervenção precoce ajuda a melhorar a autonomia das crianças afetadas.
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Síndrome de Dravet
A síndrome de Dravet é uma forma rara e severa de epilepsia que se manifesta geralmente durante o primeiro ano de vida.
O início é marcado por crises febris que podem evoluir para convulsões mais complexas, incluindo crises tônicas, clônicas e mioclônicas.
Essas crises podem ser provocadas por uma variedade de fatores, incluindo febre, estresse ou até mesmo mudanças na temperatura ambiente.
Além das convulsões, as crianças com esta forma de epilepsia infantil apresentam, atrasos no desenvolvimento, dificuldades de aprendizado e problemas de comportamento.
Geneticamente, a síndrome de Dravet está associada a mutações no gene SCN1A, que é responsável pela codificação de um canal de sódio importante para a função neuronal.
Por ser uma forma de epilepsia resistente a tratamentos, o manejo da síndrome de Dravet é um grande desafio.
Enquanto os anticonvulsivantes convencionais podem ser utilizados, muitas vezes não são suficientes para controlar as crises.
Abordagens mais recentes incluem o uso de medicamentos como o Canabidiol (CBD), dieta cetogênica e terapias comportamentais para controlar o quadro.
Como é diagnosticada a epilepsia infantil?
O diagnóstico da epilepsia infantil envolve a avaliação do histórico clínico do paciente, além de exames físicos e investigações de imagem.
Geralmente, o processo começa com uma conversa entre os pais e o médico, onde são discutidos os tipos de crises, sua frequência, duração e os fatores que podem desencadeá-las.
Após essa primeira fase, o médico solicita um eletroencefalograma (EEG) para registrar a atividade elétrica do cérebro.
Durante o EEG, eles observam como o cérebro responde a diferentes estímulos, possibilitando diferenciar entre epilepsia e outras condições correspondentes.
Em alguns casos, exames de imagem, como tomografias computadorizadas (TC) ou ressonâncias magnéticas (RM), serão prescritas para avaliar a estrutura cerebral.
Essas imagens identificam anomalias que podem estar associadas à epilepsia, como malformações congênitas ou lesões adquiridas.
Quanto mais rapidamente for identificada a epilepsia infantil e mais cedo o tratamento for iniciado, melhor será o prognóstico e a qualidade de vida da criança.
Como tratar a epilepsia infantil?
A epilepsia infantil é constituída em dois grupos principais:
- Um grupo maior, que abrange cerca de 70% das síndromes epilépticas benignas e sintomáticas de fácil controle;
- Um grupo menor, porém significativo, composto por epilepsias resistentes aos medicamentos, incluindo encefalopatias epilépticas idiopáticas e genéticas, além de diversas epilepsias adquiridas.
O impacto da epilepsia refratária em crianças, assim como em suas famílias, é imenso. Além dos riscos associados às convulsões, essa condição afeta profundamente o desenvolvimento e a qualidade de vida.
Muitas crianças precisam de politerapia, o que pode gerar suas próprias complicações.
A primeira linha de manejo para a epilepsia infantil costuma envolver o uso de medicamentos antiepilépticos. Entre os principais estão a fenitoína, indicada para crises tônico-clônicas, e a lamotrigina, prescrita em casos de crises focais.
Outra opção é o ácido valproico, que é versátil e pode ser utilizado em diversas formas de convulsões, incluindo a mioclônica. O seu uso, no entanto, deve ser monitorado com cautela devido aos efeitos colaterais que pode produzir.
Em casos refratários a estes medicamentos, o levetiracetam pode ser indicado, uma vez que pode reduzir a frequência das crises com um perfil de efeitos colaterais relativamente tolerável.
Além da farmacoterapia, existem intervenções não medicamentosas, como a dieta cetogênica. Essa abordagem dietética, que consiste na retirada de carboidratos da dieta, induz um estado metabólico que pode afetar a excitabilidade neuronal.
Importante frisar que esta alternativa requer uma supervisão rigorosa para garantir a nutrição adequada.
A cirurgia é considerada em casos raros, quando as crises se originam de uma área focal bem definida do cérebro que pode ser removida sem comprometer funções essenciais.
Ademais, a terapia comportamental e a psicoterapia podem complementar o tratamento, oferecendo suporte emocional e estratégias de enfrentamento que ajudam as crianças a lidarem melhor com a condição.
A Cannabis medicinal pode tratar epilepsia infantil?
O uso de Canabidiol (CBD) como uma alternativa no tratamento da epilepsia infantil foi uma virada de chave na vida de crianças que apresentavam casos refratários aos tratamentos convencionais.
A razão para isso pode ser entendida principalmente por sua atividade moduladora sobre neurotransmissores e sua capacidade de atenuar a inflamação cerebral.
O CBD interage com o sistema endocanabinoide, uma rede de sinalização biológica que ajuda na regulação da excitabilidade neuronal. Essa interação pode estabilizar a atividade elétrica no cérebro, reduzindo a ocorrência de crises.
A modulação da atividade dos neurotransmissores, como o glutamato, que é um componente excitatório, permite que o CBD possivelmente diminua a hiperatividade que dá início às crises epilépticas.
Os benefícios de tais mecanismos são particularmente notáveis em crianças que não respondem adequadamente aos antiepilépticos convencionais.
Estudos clínicos têm mostrado que o uso de CBD pode resultar em uma redução na frequência e intensidade das crises, com alguns pacientes conseguindo ter até 50% a menos de episódios após o início do tratamento.
Outro aspecto importante é a capacidade do CBD de reduzir a inflamação neural. A epilepsia, especialmente em formas mais severas, pode estar associada à inflamação no cérebro.
O CBD demonstrou propriedades anti-inflamatórias que podem ser benéficas nesse contexto, uma vez que promove um ambiente cerebral mais estável e saudável.
Ainda assim, o tratamento com CBD deve ser supervisionado por um profissional de saúde qualificado, uma vez que a dosagem e a formulação podem variar.
Embora a Cannabis medicinal ofereça um novo horizonte para quem não consegue controlar o quadro de forma convencional, ela não deve ser vista como uma panaceia, mas sim como parte de um plano de tratamento que inclui acompanhamento contínuo e ajustes conforme necessário.
Quais estudos comprovam a eficácia da Cannabis para epilepsia infantil?
O primeiro estudo publicado usando Epidiolex como um tratamento complementar para crianças com epilepsia resistente a medicamentos ocorreu em 2015.
O objetivo era avaliar a segurança, tolerabilidade e eficácia do Canabidiol em pacientes com epilepsia resistente a tratamentos convencionais.
A dosagem de CBD variou entre 2 a 5 mg/kg por dia, sendo ajustada até a dose máxima de 25 a 50 mg/kg por dia, dependendo da capacidade de cada paciente em tolerar a medicação.
Entre os pacientes analisados, 20% tinham síndrome de Dravet e 19% tinham síndrome de Lennox-Gastaut, ambas formas graves de epilepsia infantil.
Após o período de controle, a frequência mensal de convulsões motoras foi reduzida de 30 para 15,8 ao final das 12 semanas.
A redução nas crises motoras foi de 36,5%, o que indica que o CBD ajudou a diminuir significativamente as convulsões na maioria dos pacientes, embora poucos efeitos colaterais tenham sido relatados.
Outro ensaio duplo-cego controlado por placebo de 2018, analisou a eficácia do óleo de CBD (Epidiolex) como um tratamento adicional em comparação com placebo em 120 crianças e adolescentes com convulsões refratárias (dosagem de CBD de 20 mg/kg/d).
Após um período de titulação de quatro semanas, os pacientes foram acompanhados por mais 12 semanas.
O principal efeito observado foi a redução das crises entre os que foram tratados com CBD (43%), com 5% ficando livres de convulsões. A taxa de resposta foi maior em pacientes que utilizavam clobazam.
Outra pesquisa, realizada por Hussain et al., envolveu 117 crianças com epilepsia, incluindo mais de 40% com encefalopatia epiléptica intratável.
Nessa amostra, 85% tiveram melhora da frequência das crises, sendo que 14% das crianças ficaram livres das convulsões.
Como iniciar um tratamento à base de Cannabis medicinal?
No Brasil, desde 2015, o uso medicinal da Cannabis é regulamentado pela Anvisa, permitindo que médicos registrados prescrevam produtos à base de canabinoides.
No entanto, a Anvisa estabelece que esses medicamentos só podem ser indicados por profissionais de saúde após avaliação de cada paciente.
A regulamentação visa garantir que o tratamento ocorra com a devida supervisão, considerando que as concentrações de THC e CBD variam conforme os sintomas a serem controlados.
A agência também autoriza a importação de produtos de Cannabis que não são fabricados no Brasil, seguindo as diretrizes da RDC 660.
Dessa forma, é altamente importante que o tratamento com Cannabis medicinal só seja iniciado após a consulta com um médico experiente, que compreenda as especificidades dessa terapia.
Se você está procurando uma solução alternativa para casos de epilepsia infantil e considera o uso de Cannabis, o primeiro passo é encontrar um especialista qualificado.
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O que fazer durante uma crise de epilepsia infantil?
É natural que o medo e a ansiedade tomem conta ao presenciar uma crise de epilepsia infantil, mas é ainda mais importante manter a calma.
Primeiro, coloque-a deitada de lado em um lugar seguro, afastando objetos que possam machucá-la. Nunca tente segurar a criança ou restringir seus movimentos, pois isso pode causar ferimentos.
Também não se deve colocar nada na boca dela. Há um mito comum de que a pessoa pode morder a língua, mas isso não é verdade, e qualquer objeto inserido na boca pode causar sufocamento ou lesões.
Enquanto a crise acontece, observe o tempo. Crises que duram mais de cinco minutos indicam uma emergência, e você deve ligar para o serviço médico de urgência imediatamente.
Caso a crise seja breve e termine espontaneamente, continue monitorando a criança após o episódio. Ela pode ficar confusa ou sonolenta, o que é comum após uma convulsão.
Se essa for a primeira crise da criança, o mais indicado é levá-la ao hospital, mesmo que a crise tenha passado rapidamente, para que exames sejam realizados e um médico possa avaliar a situação.
Após a crise, tente manter um ambiente calmo para a criança, permitindo que ela descanse.
A epilepsia infantil tem cura?
A pergunta sobre a cura da epilepsia infantil é uma que muitos pais fazem. A resposta, no entanto, não é simples.
Embora algumas crises possam desaparecer à medida que a criança cresce, nem todos os tipos de epilepsia têm uma cura definitiva.
Alguns casos de epilepsia são provocados por fatores temporários, como febre alta ou traumas, e podem desaparecer após o tratamento da causa subjacente. Nessas situações, é possível que a criança deixe de ter crises.
Por outro lado, existem tipos de epilepsia infantil que podem acompanhar o indivíduo por toda a vida, mas que podem ser controlados com o tratamento adequado.
A boa notícia é que, com os avanços da Medicina, muitas crianças diagnosticadas com epilepsia já conseguem se livrar completamente das crises, seguindo corretamente suas abordagens terapêuticas prescritas.
Isso pode incluir o uso de medicamentos antiepilépticos, terapias alternativas como o uso de Canabidiol e, em alguns casos, mudanças na dieta.
Em alguns casos raros, a cirurgia pode curar a epilepsia, principalmente quando as crises são causadas por uma área específica do cérebro.
Mesmo que as crises cessem por um período, a interrupção do tratamento deve ser feita apenas sob orientação médica.
Embora o termo “cura” possa não ser aplicável a todos os casos, o controle das crises é possível na maioria das vezes.
Quais cuidados são necessários para crianças com epilepsia infantil?
O cuidado com uma criança com epilepsia envolve um conjunto de atenções diárias para garantir que ela tenha uma vida segura e ativa.
Tudo começa com a criação de um ambiente seguro dentro de casa. Ou seja, é importante evitar móveis pontiagudos ou objetos pesados que possam cair e machucar a criança durante uma crise.
O apoio da escola também é importante. Professores e cuidadores precisam estar cientes da condição da criança e saber como agir em caso de uma crise.
Muitas escolas hoje já possuem treinamentos sobre primeiros socorros para essas situações, mas caso a escola do seu filho não tenha, é útil enviar uma orientação por escrito para que todos estejam preparados.
Crianças, muitas vezes, não entendem a importância de tomar a medicação regularmente, então cabe aos pais ou responsáveis garantir que o remédio seja administrado nos horários corretos.
Do mesmo modo, ajudá-la a manter uma alimentação saudável e promover uma rotina de sono adequada são medidas importantes no controle das crises.
Muitas crianças com epilepsia têm sensibilidade à privação de sono, então, certifique-se que elas estejam dormindo o suficiente.
Conclusão
A epilepsia infantil traz consigo uma série de desafios, mas a ciência está evoluindo, e novas opções de tratamento surgem para oferecer esperança para as crianças que vivem com ela.
Para pais e responsáveis que buscam alternativas que possam trazer mais qualidade de vida às crianças, vale a pena conversar com o médico sobre o uso do Canabidiol.
No portal Cannabis & Saúde, você encontra outros artigos completos sobre como essa abordagem tem sido eficiente para muitos pacientes diagnosticados e o que é necessário para iniciá-la.