Em setembro, a Folha de S. Paulo publicou uma matéria que explora a ideia de que o vício deve ser considerado uma condição médica crônica e tratável. No entanto, apesar do amplo respaldo científico, essa visão ainda enfrenta resistência do público, que frequentemente atribui o vício a escolhas pessoais.
A discussão enfatiza que a compreensão do vício como uma doença cerebral, conforme ressaltado por especialistas como Markus Heilig, é fundamental, mas também deve levar em conta fatores sociais que influenciam o comportamento aditivo.
Em um artigo de 2021, da revista Neuropsychopharmacology, Heilig, que é ex-diretor de pesquisa do NIDA (principal agência federal do Estados Unidos, que apoia a pesquisa científica sobre uso e dependência de drogas), defende a classificação do vício como “doença cerebral”.
Entretanto, ele reconhece que “as explicações centradas no cérebro para o vício há muito tempo não prestam atenção suficiente aos insumos fornecidos pelos fatores sociais, que influenciam o processamento neural responsável pela busca e consumo de drogas.”
Canabinoides como aliados no tratamento de dependências
Para explorar com mais profundidade o assunto, o portal Cannabis e Saúde conversou com o Dr. Gabriel Krauus que explica que os canabinoides, ao interagirem com o Sistema Endocanabinoide do corpo, têm o potencial de modular não apenas o estresse e a ansiedade, mas também a sensação de prazer, relacionada ao sistema de recompensa do cérebro.
“O Sistema Endocanabinoide atua em várias funções. O CB1 está mais associado ao sistema nervoso central, mas os canabinoides não atuam exclusivamente nesses receptores. Eles também interagem com diversos outros receptores que regulam funções como humor, apetite, sono e dor. Portanto, no contexto do vício, por exemplo, os canabinoides podem ajudar a reduzir a ansiedade e o estresse, que muitas vezes estão relacionados à dependência.”
Nicotina, álcool e tabaco
De acordo com o médico, essa modulação é especialmente relevante para dependências de substâncias como álcool, nicotina e opioides.
“Há uma modulação do sistema de recompensa, relacionado à dopamina, o que também ajuda a regular a sensação de prazer. Isso pode auxiliar na homeostase do sistema nervoso central, atuando diretamente nos sintomas relacionados à dependência, seja de álcool, tabaco, opioides, entre outros”, diz.
Dr Gabriel explica também como os Fitocanabinoides podem interagir com diferentes substâncias no corpo e auxiliar no tratamento de dependências.
“No caso dos opioides, os Fitocanabinoides atuam nos receptores opioides, ajudando a diminuir sintomas de abstinência e potencializando o opioide, o que pode reduzir o consumo e minimizar os efeitos colaterais. Já em relação à nicotina, os Canabinoides podem prolongar a atuação da nicotina no sistema nervoso, reduzindo o desejo de fumar. No caso do álcool, eles atuam principalmente no controle da ansiedade e compulsão.”
É o que também observa uma pesquisa realizada por psicólogos e neurocientistas, envolvendo 120 voluntários, que investigou os efeitos de tratamentos que utilizavam combinações com predominância de THC ou CBD, além de fórmulas com concentrações equilibradas de ambos os canabinoides. Os achados indicaram que o uso de CBD resultou em uma diminuição no consumo de álcool, enquanto as outras combinações não apresentaram resultados semelhantes.
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Cada caso é um caso!
Porém, Dr Gabriel reforça que outro ponto a considerar é que o tratamento deve ser adaptado a cada paciente, considerando comorbidades como depressão e ansiedade, que frequentemente acompanham os quadros de dependência.
“É fundamental entender o motivo pelo qual a pessoa desenvolveu a dependência. Cada caso é único. O uso dos canabinoides costuma ser adjuvante a outros tratamentos, como terapias comportamentais e, em casos mais graves, tratamentos farmacológicos tradicionais.”
Importante!
Em síntese, essa perspectiva sugere que a utilização de Fitocanabinoides, em conjunto com terapias tradicionais, pode não apenas ajudar na recuperação de dependentes, mas também promover um maior equilíbrio emocional e cognitivo, aspectos fundamentais para o sucesso do tratamento.
No entanto, como reforçado pelo Dr. Gabriel Krauss, é fundamental que haja um acompanhamento próximo e individualizado de cada paciente.
No Brasil, o tratamento com a Cannabis medicinal é permitido legalmente, desde que com a indicação e prescrição de um profissional de saúde qualificado. Se você deseja iniciar um tratamento com Canabinoides, é importante buscar orientação de um especialista com experiência nessa área.
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