A crise de ausência é uma condição não motora que afeta o cérebro de forma generalizada. Ela envolve a falta de resposta do paciente e um olhar fixo por alguns segundos.
Historicamente, a crise de ausência era conhecida como “picnolepsia”, sendo mais frequente em crianças entre 5 e 15 anos.
Essa condição faz parte de diversas epilepsias genéticas, como a epilepsia de ausência infantil (CAE), epilepsia de ausência juvenil (JAE) e epilepsia mioclônica.
Cerca de 60% dos pacientes com síndrome de Lennox-Gastaut também vivenciam crises de ausência atípicas.
Embora sejam mais comuns na infância, essas crises tendem a continuar na vida adulta, afetando o dia a dia e a qualidade de vida, caso não sejam tratadas.
E para te ajudar a entender melhor sobre a etiologia da crise de ausência e suas formas de tratamento, preparamos este artigo completo! Nas linhas que se seguem, você obterá informações sobre:
- O que é crise de ausência?
- Quem pode ter crise de ausência?
- Quais são os sintomas de uma crise de ausência?
- Quais são as causas da crise de ausência?
- Como é feito o diagnóstico da crise de ausência?
- Existe tratamento para crise de ausência?
- Como a Cannabis pode auxiliar no tratamento da crise de ausência?
O que é crise de ausência?
A crise de ausência é uma condição que faz você “desligar” ou ficar olhando para o nada por alguns segundos.
Elas são consideradas uma forma de epilepsia, condição que provoca convulsões. Também conhecidas como crises de pequeno mal, a crise de ausência é mais comum em crianças e raramente são graves.
Essas convulsões acontecem por conta de uma atividade cerebral anormal, onde a hiperexcitação neural causa o “desligamento” de alguns sinais neurais.
A crise de ausência começa de repente e dura entre três e 15 segundos. Você pode estar no meio de uma conversa, realizando alguma atividade ou apenas ouvindo alguém, quando, de repente, tudo para.
Em questão de segundos, você retoma o que estava fazendo ou dizendo como se nada tivesse ocorrido.
Para quem não entende o que está acontecendo no seu cérebro, pode parecer que você está apenas distraído, sonhando acordado ou sem prestar atenção, mas na verdade, você está tendo uma convulsão.
Existem dois tipos de crises de ausência: típicas e atípicas. Uma crise de ausência típica causa apenas olhar fixo e inconsciência.
Crises de ausência atípicas, por outro lado, causam olhar fixo, falta de consciência e outros comportamentos físicos como piscar e mover os braços. Elas geralmente duram mais do que crises de ausência típicas.
Uma criança pode ter 10, 50 ou até 100 dessas crises em um único dia, muitas vezes sem que ninguém perceba. Embora seja raro, essa condição também afeta adultos.
Crises de ausência não são perigosas, uma vez que elas são curtas e dificilmente causam sintomas graves.
Por exemplo, se você estiver de pé quando uma crise de ausência acontecer, provavelmente não cairá. Em vez disso, você ficará parado no lugar por alguns segundos e retorna normalmente.
Apesar de não serem consideradas graves, essas crises podem atrapalhar o aprendizado e dificultar a concentração, tornando imprescindível que seja diagnosticada e tratada o quanto antes.
Quem pode ter crise de ausência?
A crise de ausência ocorre com mais frequência em crianças e adolescentes, mas adultos também enfrentam essa condição.
Geralmente, essas crises surgem entre os 4 e os 14 anos de idade, com maior prevalência em meninas. Quem tem histórico familiar de epilepsia ou de crises de ausência está mais propenso a enfrentar essa condição.
Do mesmo modo, pessoas com certas condições neurológicas ou problemas de desenvolvimento apresentam uma chance maior de ter crise de ausência.
Apesar de serem mais comuns em crianças, muitas delas superam as crises de ausência à medida que crescem, mas algumas continuam a enfrentá-las na vida adulta.
Identificar e tratar as crises de ausência precocemente evita que elas afetem o aprendizado e a qualidade de vida, especialmente em idade escolar, quando a concentração e o foco são fundamentais.
Crianças podem ter crise de ausência?
Sim, as crianças podem ter crise de ausência, e elas são até mais comuns nessa faixa etária. Para crianças afetadas pela condição, a idade de início dos sintomas é geralmente entre 3 e 13 anos, e a média é em torno de 6 a 7 anos.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que entre 6 a 8 em cada 100.000 crianças menores de 15 anos sofrem com pelo menos uma crise de ausência a cada ano.
As crises são muitas vezes tão rápidas e sutis que passam despercebidas, especialmente se ocorrerem com frequência. Portanto, também é possível que a criança com essa condição possa ter múltiplas crises ao longo do dia.
Crise de ausência pode ocorrer durante o sono?
Crises de ausência acontecem quando a pessoa está acordada, mas não durante o sono. Elas se caracterizam por um breve período de “desligamento” ou falta de resposta, que ocorre principalmente durante atividades diurnas.
No entanto, existem outros tipos de crises epilépticas que podem ocorrer durante o sono, como as crises tônico-clônicas ou crises parciais.
Embora não seja classificada como um tipo de crise de ausência, essas crises afetam diferentes áreas do cérebro e podem provocar sintomas variados enquanto a pessoa está dormindo.
Quais são os sintomas de uma crise de ausência?
Durante uma crise de ausência, você não vai perceber o que está acontecendo. Esses episódios duram apenas alguns segundos, então não costumam atrapalhar muito uma conversa ou tarefa. Assim que a crise passar, você pode retomar de onde parou.
Os sintomas típicos que uma pessoa com crise de ausência geralmente sente abrangem:
- Olhar fixo ou “vazio” de repente;
- Perda temporária de consciência;
- Paralisação total das atividades (como falar ou andar);
- Pequenos movimentos involuntários, como tremor das pálpebras ou movimentos automáticos das mãos ou da boca.
Se você tiver várias crises, uma atrás da outra, pode ficar confuso e se perder no que está acontecendo ao seu redor. Mas, no geral, depois da crise você pode:
- Retomar a atividade que estava fazendo antes;
- Sentir que perdeu momentos ao seu redor;
- Não perceber que algo aconteceu e se sentir normal e alerta.
Essas crises tendem a acontecer várias vezes ao dia ou de forma esporádica durante semanas. Normalmente, duram de três a 15 segundos, mas algumas chegam até 1 minuto.
Existem tipos menos comuns de crise de ausência com sintomas diferentes, como:
- Crises de ausência atípicas: demoram mais para começar e parar, e podem fazer com que a pessoa caia;
- Crises de ausência mioclônica: quando a pessoa sacode os ombros ou braços ritmicamente ou contrai o rosto;
- Crises de ausência com mioclonia palpebral: ocorrem quando as pálpebras se contraem e os olhos viram para cima.
Dependendo de como e com que frequência as crises ocorrem, a longo prazo você pode ter:
- Dificuldade em prestar atenção;
- Problemas para seguir instruções;
- Desafios na escola;
- Riscos de ferimentos acidentais.
Atividades que exigem atenção total, como dirigir, nadar ou escalar, não são consideradas seguras para quem sofre com crises de ausência frequentes.
Quais são as causas da crise de ausência?
Uma crise de ausência acontece quando há uma explosão de atividade elétrica no cérebro. Nessa situação, os neurônios, ou células nervosas, acabam enviando sinais elétricos errados para várias partes do cérebro.
O tálamo, uma estrutura que ajuda a transmitir impulsos nervosos para o córtex cerebral, fica desregulado durante uma crise de ausência.
Isso faz com que os circuitos entre o tálamo e o córtex não funcionem direito, causando uma sincronização anormal da atividade elétrica que leva à crise.
Durante esses episódios, o cérebro apresenta um aumento nas oscilações de alta frequência, conhecidas como ondas de espículas. No eletroencefalograma (EEG), essas oscilações aparecem como ondas de 3 Hz. Esse excesso de sincronização resulta na perda breve de consciência.
Pesquisadores acreditam que a genética é a principal causa dessas crises. No entanto, pouco se sabe sobre como genes específicos podem estar envolvidos.
Até o momento, sabemos que certos fatores ambientais também podem desencadear uma crise de ausência, por exemplo:
- Luzes brilhantes e piscantes;
- Respiração profunda e rápida (hiperventilação).
Você também está mais suscetível a crises de ausência se já tiver outro tipo de convulsão, ou se estiver utilizando anticonvulsivantes, como fenitoína, carbamazepina e gabapentina.
Qual a relação da crise de ausência e epilepsia?
A relação entre crise de ausência e epilepsia é direta: as crises de ausência são uma manifestação específica dentro do espectro da epilepsia.
A epilepsia é um distúrbio neurológico crônico caracterizado por convulsões recorrentes e inesperadas. Dentro da epilepsia, há vários tipos de distúrbios, e as crises de ausência são um subtipo de crises generalizadas.
Crises generalizadas são aquelas que afetam ambos os hemisférios cerebrais simultaneamente, diferentemente das crises focais que começam em uma área específica do cérebro.
A causa das crises de ausência é frequentemente atribuída a disfunções nas redes neuronais que regulam a atividade elétrica no cérebro, fatores estes que também estão por trás do desenvolvimento de outras formas de epilepsia.
Estas disfunções levam a uma sincronização anormal dos neurônios, resultando nas características manifestações clínicas das crises de ausência.
Como é feito o diagnóstico da crise de ausência?
Para diagnosticar uma crise de ausência, o profissional de saúde vai fazer um exame físico e neurológico. Durante o exame, ele fará uma anamnese sobre os seus sintomas.
É útil anotar o que conseguir lembrar antes, durante e depois da crise. Se os episódios acontecem na escola ou no trabalho, vale a pena falar com alguém que passa muito tempo com você e perguntar se eles notam algo estranho.
Aqui estão alguns testes que serão solicitados para conduzir um diagnóstico:
- Teste de hiperventilação: A hiperventilação é um fator causador da crise de ausência. Por isso, o profissional de saúde pode pedir que você ou seu filho soprem em um papel ou em um cata-vento por dois minutos para avaliação.
- Teste de eletroencefalograma (EEG): Sensores são colocados no seu couro cabeludo para monitorar a atividade elétrica do cérebro. Crises de ausência aparecem em um padrão específico de ondas cerebrais.
- Ressonância magnética (RM) ou tomografia computadorizada (TC): Esses exames de imagem ajudam a identificar anormalidades no cérebro que podem causar convulsões.
- Exames de sangue e urina: Seu médico solicita esses exames para verificar se alguma condição subjacente está provocando as convulsões;
Às vezes, quem tem uma crise de ausência pode confundi-la com um devaneio. Esse erro atrasa o diagnóstico e aumenta o risco de complicações.
Portanto, caso tenha algum dos sintomas característicos da crise de ausência ou histórico de epilepsia na família, procure um neurologista para realizar uma avaliação.
Existe tratamento para crise de ausência?
Sim, existe tratamento para crises de ausência! Se você está lidando com essa condição, há opções para controlar e reduzir a frequência dos episódios.
O tratamento normalmente começa com a prescrição de medicamentos antiepilépticos. Esses remédios são projetados para estabilizar a atividade elétrica no cérebro e ajudar a prevenir as crises.
Alguns dos medicamentos mais comuns para crises de ausência são o etossuximida, o ácido valproico e a lamotrigina. Seu médico vai trabalhar com você para encontrar a opção que se ajusta melhor ao seu caso.
Além da abordagem medicamentosa, mudanças no estilo de vida também ajudam a manejar a condição. Manter uma rotina regular de sono e evitar estresse excessivo são estratégias importantes.
Em alguns casos, será necessário acompanhar a dieta e considerar ajustes na quantidade de carboidratos ingerida, sempre com a orientação de um profissional de saúde.
Seu médico pode sugerir a dieta cetogênica caso você não responda bem aos medicamentos. Este é um plano alimentar rico em gorduras e pobre em carboidratos, criado para tratar convulsões há muito tempo.
Existem também estratégias comportamentais e terapias complementares, como a terapia cognitivo-comportamental, voltadas para lidar com os impactos emocionais das crises e que valem a pena ser consideradas.
Como a Cannabis pode auxiliar no tratamento da crise de ausência?
Biologicamente, os componentes da Cannabis exercem seus efeitos nos receptores presentes em várias áreas do cérebro, incluindo o córtex cerebral e o hipocampo.
Essas regiões cerebrais auxiliam na regulação da excitabilidade neuronal e da transmissão sináptica. O THC, por exemplo, se liga aos receptores CB1, inibindo a liberação de neurotransmissores excitatórios, como o glutamato.
Essa ação direta reduz a excitabilidade neuronal, ajudando a controlar a hiperatividade que dá início às crises de ausência.
O CBD, por outro lado, tem um mecanismo distinto. Embora não se ligue diretamente aos receptores, ele modula a atividade neural de forma indireta e interage com outros sistemas de neurotransmissores, como serotoninérgico.
O canabidiol também tem propriedades neuroprotetoras e anti-inflamatórias que ajudam a estabilizar a função cerebral e reduzir a frequência e a duração das crises de ausência.
Por influenciar o equilíbrio entre neurotransmissores excitatórios e inibitórios, a Cannabis, de maneira geral, ajuda a restaurar a homeostase neural, impedindo que novas crises possam surgir.
Assim, quem faz uso da Cannabis medicinal como tratamento para a crise de ausência costuma obter os seguintes benefícios:
- Diminuição da frequência dos episódios de ausência;
- Redução a intensidade e duração das crises;
- Aumento da atividade do neurotransmissor inibitório GABA, que ajuda a suprimir a atividade elétrica excessiva no cérebro.
- Efeitos antioxidantes que protegem as células nervosas contra o estresse oxidativo e a inflamação;
- Manutenção da plasticidade neuronal, evitando mudanças prejudiciais nas redes neuronais;
- Proteção adicional às células nervosas, reduzindo o risco de dano neuronal e deterioração funcional;
- Redução da inflamação cerebral, um fator que pode contribuir para a ocorrência das crises de ausência;
- Melhora na qualidade de vida geral.
Quais estudos comprovam a eficácia da Cannabis para crise de ausência?
Um estudo revelou como o canabidiol e outros componentes da Cannabis poderiam reduzir convulsões em vários tipos de epilepsia que são difíceis de tratar.
Pesquisadores da NYU Grossman School of Medicine descobriram que o CBD, mais especificamente, bloqueia sinais de uma molécula chamada lisofosfatidilinositol (LPI).
O LPI, encontrado em neurônios, normalmente ajuda a amplificar os sinais nervosos, mas certas condições o utilizam como gatilho para convulsões.
Publicado em 2023 na revista Neuron, o estudo confirmou que o CBD bloqueia a ação do LPI em uma parte do cérebro chamada hipocampo.
Os pesquisadores também mostraram que o LPI enfraquece os sinais que ajudam a controlar convulsões, o que destaca ainda mais o valor terapêutico do canabidiol no controle das crises convulsivas dos mais variados tipos.
“Nossos resultados ajudam a entender melhor como as convulsões são provocadas e como isso pode influenciar novas formas de tratamento,” diz o Dr. Richard W. Tsien, um dos autores do estudo e presidente do Departamento de Fisiologia e Neurociência da NYU Langone Health.
O Dr. Tsien também aponta que o estudo revela não só como o CBD combate convulsões, mas também como os circuitos cerebrais são equilibrados por meio dele.
Isso é importante porque desequilíbrios semelhantes ocorrem em condições como autismo e esquizofrenia, então essas descobertas também revelam outras propriedades interessantes do canabidiol em tais condições.
Como iniciar um tratamento à base de Cannabis medicinal
Quer iniciar um tratamento com Cannabis? É mais simples do que você pensa! O primeiro passo consiste em agendar uma consulta com um médico experiente na prescrição de terapias canabinoides.
Esse profissional vai avaliar seu caso e te ajudar a encontrar a melhor abordagem para a sua condição. E se for adequado, ele te dará uma prescrição com todas as informações sobre a quantidade e o tipo de produto que você deve usar.
Com essa receita em mãos, basta se dirigir à uma farmácia para adquirir o produto ou optar pela importação, se preferir.
Em todo caso, não esqueça de seguir as orientações do seu médico sobre o uso e a dosagem depois de adquirir o produto.
Para facilitar ainda mais, o portal Cannabis & Saúde tem uma plataforma ideal para conectar você com especialistas em tratamentos com Cannabis.
Clicando aqui, você pode agendar uma consulta com um desses especialistas, obter informações detalhadas e resolver todas as suas dúvidas a respeito do tratamento com Cannabis.
Não perca tempo! Visite nossa plataforma de agendamento para marcar sua consulta. Seu caminho para uma vida melhor começa hoje!
Conclusão
Lidar com os sintomas de crise de ausência é geralmente bem confuso e frustrante. Afinal, você nunca sabe exatamente quando eles vão aparecer.
Apesar de serem curtas, as crises de ausência tendem a ocorrer com bastante frequência — até centenas de vezes por dia em alguns casos.
Medicamentos anticonvulsivantes ajudam a diminuir os sintomas para que você se sinta melhor, mas caso não queira lidar com os efeitos colaterais que eles produzem, vale a pena considerar uma abordagem terapêutica com canabidiol.
Para isso, não deixe de contar com a expertise dos nossos parceiros prescritores de Cannabis medicinal na sua busca por uma melhor qualidade de vida!