A Cannabis medicinal, especificamente o Canabidiol (CBD), tem se mostrado uma opção promissora no tratamento de animais de estimação. E em muitas opções de terapias e protocolos para a saúde dos pets, pode oferecer uma maior segurança, em comparação com remédios tradicionais.
Atualmente, o Brasil é o terceiro país em número de animais domésticos no mundo. Temos aproximadamente 149,6 milhões de animais de estimação.
Portanto, por que não contar com produtos à base de Cannabis para o tratamento de animais de estimação?
Existem considerações importantes de fazermos, ao considerar o uso de produtos à base de Cannabis para o tratamento de animais de estimação, como cães e gatos. Primeiramente, assim como na saúde humana, o acompanhamento médico veterinário é imprescindível. Isso porque apenas um profissional habilitado poderá definir o tratamento à base de Cannabis ideal para seu pet. Mesmo não sendo considerado crime, como a zoofilia por exemplo, é fundamental que apenas um profissional habilitado defina o tratamento à base de Cannabis ideal para seu pet. E é no quesito escolha de medicamento que produtos à base de Cannabis podem ser a melhor opção para pets, já que muitas vezes apresentam efeitos colaterais diminutos.
“Vemos o uso indiscriminado de diversos fármacos com efeitos colaterais bem graves e relevantes. E quando a gente compara a Cannabis com esses fármacos, vemos que a segurança da Cannabis é muito maior. Mesmo quando o animal tem um efeito colateral, por conta de uma hipersensibilidade própria. Mas, ainda assim, são efeitos que a gente consegue contornar”, explicou a médica veterinária Dra. Maielli Marçal.
CBD é seguro para cachorros
Recentemente, o estudo financiado pelo Conselho Nacional de Suplemento Animal dos EUA (NASC, na sigla em inglês) indicou que fitocanabinoides como CBD e CBG são seguros para cães, no longo prazo.
O artigo Safety study of cannabidiol products in healthy dogs descreveu os resultados deste trabalho clínico, que durou 90 dias. Durante esse período, 32 cachorros da raça beagle (16 fêmeas e 16 machos) receberam uma dose diária de 5 mg de canabinoides por quilo de peso do animal. Como a média de peso dos cães era de 9 kg, eles receberam, em média, 45 mg diárias.
Os cachorros foram divididos em 4 grupos, um recebeu CBD, outro recebeu CBD + CBG, outro CBD + CBDA e um quarto grupo recebeu um placebo. Tanto os beagles machos quanto fêmeas toleraram bem o tratamento com esses canabinoides.
Assim, trouxeram tranquilidade para veterinários e tutores, que utilizam a planta para tratar seus pacientes e companheiros, respectivamente.
Efeitos da Cannabis medicinal em animais
Ou seja, já está comprovado que o Canabidiol, molécula da Cannabis conhecida como CBD, tem propriedades terapêuticas não intoxicantes e oferece alívio eficaz em várias condições, como dor crônica, inflamação, ansiedade, epilepsia e câncer.
Segundo a profissional veterinária, os mesmos benefícios do CBD na saúde humana também são observados em animais.
“Praticamente todas as patologias que são tratadascom uso da Cannabis em humanos, nós também tratamos nos animais: epilepsia, pacientes oncológicos, e pacientes com disfunção cognitiva canina, que a gente relaciona com o Alzheimer humano. Então, como os nossos animais estão tendo um tempo de vida muito maior do que antigamente, temos muitas outras doenças se desenvolvendo. Antigamente, um determinado cachorro poderia viver 12 anos. Hoje em dia, há cachorros que vivem até os 20 anos. E com isso a gente acaba tendo outras doenças que não víamos antigamente. Sou especialista em Endocrinologia, então atendo pacientes com obesidade, com diabetes. A diabetes é uma condição que se beneficia muito do uso da Cannabis, é a ação a nível metabólico. Ela é muito significativa”, pontuou.
Atuação do sistema endocanabinoide em animais
É essencial compreender que os animais de estimação, como cães e gatos, têm um sistema endocanabinoide semelhante ao dos humanos, o que os torna potencialmente receptivos aos efeitos terapêuticos dos fitocanabinoides, como o CBD e o THC.
O sistema endocanabinoide (SEC) é uma rede complexa de receptores e ligantes endógenos encontrados em mamíferos. Esse sistema desempenha um papel crucial na regulação de diversas funções fisiológicas e patológicas, como dor, inflamação, apetite e humor.
De acordo com a Dra. Maielle, o sistema endocanabinoide em mamíferos é muito parecido. O que varia seria a expressão de determinados receptores em cães e gatos
“Há uma leve diferença em relação à expressão de receptores CB1 do sistema nervoso central de cães e gatos e sistema nervoso periférico. Mas o funcionamento geral do sistema em si é praticamente igual ao de humanos. Então, até a produção dos endocanabinoides, como anandamida e 2-AG, acontece de forma muito parecida, em humanos, cães e gatos. Justamente por isso, a gente acaba trazendo muito dos estudos e dos trabalhos que existem na Medicina humana para a Medicina Veterinária”.
De acordo com dados da empresa Kaya Mind, a regulamentação do uso veterinário da Cannabis pode movimentar cerca de R$ 1,45 bilhão no Brasil até o quarto ano de aprovação da lei
Atualmente, o Brasil soma mais de 160 mil médicos veterinários. E muitos deles já prescrevem Cannabis, com foco na saúde animal. Dessa forma, estudos relevantes avançam em faculdades de Veterinária do Brasil, como é o caso da UFSC. No entanto, os profissionais ainda carecem de uma segurança jurídica.
Visando a mudar esta realidade, iniciativas como o Grupo de Trabalho de Apoio Técnico, que atua na proposta de regulamentação da planta no Conselho Federal de Medicina Veterinária, CFMV, tem realizado movimentações junto à Anvisa e ao Mapa.
Embora com limitações, existem brechas na regulamentação, que permitem aos veterinários prescreverem a planta para animais no Brasil. Segundo a Resolução nº, 1138, de 16 dezembro de 2016, aprovada pelo Código de Ética do Médico Veterinário, o profissional habilitado pelo CFMV pode “prescrever tratamento que considere mais indicado, bem como utilizar os recursos humanos e materiais que julgar necessários ao desempenho de suas atividades” e “prescrever medicamentos sem registro no órgão competente, salvo quando se tratar de manipulação”.
Afinal, a inclusão de produtos de Cannabis na terapia animal é uma demanda importante. Pois como falamos esses compostos têm o potencial de oferecer benefícios terapêuticos para condições diversas, como dores crônicas, doenças neurológicas, epilepsia, alguns tipos de câncer e inflamações em animais de estimação.
“A gente não consegue importar o óleo com uma receita veterinária. Isso porque a Anvisa só aceita receituário da Medicina humana. Então, por conta disso, a gente acaba não tendo a possibilidade de importação do produto. Mas recorremos às associações de Cannabis do país”, detalhou a Dra. Maielli.
Trabalhos em abrigos de animais em Porto Alegre
Há pouco tempo, Dra. Maielle estava entre as palestrantes do Medical Cannabis Fair, no módulo sobre Veterinária e Cannabis. Porém, sua ida foi cancelada, devido às enchentes do Rio Grande do Sul, que causaram impactos significativos para a sociedade gaúcha. Especificamente em Porto Alegre, a capital, as consequências foram vastas e abrangentes, afetando diversos setores da economia e a vida dos cidadãos.
E em resposta, diversas iniciativas foram criadas. Como, por exemplo, o Instituto Colo de Mãe, que criou e abasteceu financeiramente abrigos especialmente destinados às famílias atípicas afetadas pelas enchentes. E também o SOS Saúde Rio Grande do Sul, onde médicos e psicólogos se uniram voluntariamente para ajudar vítimas das enchentes.
Em relação aos animais, voluntários e agentes das forças de segurança realizaram o resgate de mais de 11 mil animais. E centenas de veterinários voluntários têm prestado atendimento aos animais resgatados.
Atualmente, Dra. Maielle trabalha voluntariamente em três abrigos de pets na capital:
Organizações não governamentais e voluntários vêm desempenhando um papel fundamental nesse processo de resgate e cuidado dos animais afetados pelas enchentes.
“No início era um cenário de catástrofe. Os animais em cima de árvores. Algo que nunca imaginei que fosse ver na minha vida”. Embora a situação já esteja se aproximando da normalidade, ainda há muito trabalho a ser feito.
“Atualmente, há em torno de 115 cães em um dos abrigos que estou. Mas já tivemos semanas com 250 cães. Basicamente, é um trabalho de fazer divulgação dos animais, vacinação e castração. Porém, o problema maior é que existe uma superlotação de todos os animais. Precisamos achar casas para eles”, finalizou a veterinária.
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