“Sabemos que a proibição das drogas é o combustível da guerra do Estado contra pessoas negras, pobres e moradoras de quebradas. Guerra que promove violência contra a juventude e opressão contra mulheres e corpos divergentes.” Esse é o trecho que abre o Manifesto da 16ª edição da Marcha da Maconha, que aconteceu neste domingo (16), em São Paulo. O evento realizado na Avenida Paulista atraiu milhares de pessoas e, pela primeira vez, ocorreu em um domingo sem o fechamento habitual da via para veículos.
A manifestação teve como foco principal o debate sobre a injustiça social perpetuada pela guerra às drogas e destacou a PEC 45/2023, que criminaliza o porte ou posse de qualquer quantidade de drogas. A PEC, após ser aprovada no Senado, está em tramitação no Congresso Nacional.
A marcha também abordou o aumento de violência e abuso de poder pelas forças de segurança de São Paulo. Dados do Ministério Público (fornecidos pela organização do evento) revelam um aumento de 86% nas vítimas das polícias paulistas no primeiro trimestre de 2024, em comparação ao ano anterior, especialmente nas Operações Escudo e Verão na Baixada Santista.
Ala terapêutica na Marcha da Maconha de São Paulo
Maysa Diniz, mascote da Marcha, dá vida ao “Zé Ganjinha”, um projeto lúdico que faz referência ao “Zé Gotinha”, que levou o público infantil para as grandes campanhas de vacinação no final dos 1980, ajudando a implementar a imunização de rotina, e considerado como uma peça-chave na erradicação da poliomielite, destacou o potencial terapêutico da Cannabis:
“Represento a gota que trata e que salva. Uma planta que salva vidas todos os dias! A PEC 45 é completamente negacionista da ciência e do potencial da Cannabis, e só coloca o Brasil na vanguarda do atraso. Precisamos tratar o assunto com respaldo científico e olhar para uma política pública de qualidade”, disse.
Tradicionalmente na linha de frente da Marcha, o Bloco Terapêutico, formado por pacientes e familiares que fazem uso medicinal da Cannabis, fez uma homenagem a Samuel Ladário, que faleceu em fevereiro deste ano.
Samuel enfrentou um grave retrocesso em seu desenvolvimento, após uma série de tragédias familiares, incluindo o desaparecimento de sua mãe biológica. Diagnosticado com transtorno do espectro autista e encefalite viral, passou a usar fraldas, perdeu a fala e sofria convulsões frequentes. Sua avó, Cleusa Ladário descobriu o óleo de Cannabis como tratamento e, apesar de ser presa por cultivar a planta, continuou a buscar autorização judicial para o cultivo.
“Eu sei que a marcha já existe há muitos anos. Alguns anos atrás, eu não participava por ser uma das pessoas que discriminava, mas hoje, como eu precisei dessa planta para a vida do meu filho, sou uma ativista pela Cannabis, seja para uso medicinal, recreativo ou religioso”, diz Dona Cleusa.
Confira a live sobre a história de Samuel Ladário
Eduardo Suplicy, deputado estadual, marcou presença mais uma vez no ato. Na edição de 2023, ele também compôs a ala terapêutica. Na época, Suplicy também esteve no relançamento da Frente Parlamentar em Defesa da Cannabis Medicinal e do Cânhamo Industrial da Alesp.
Diagnóstico de Parkinson, o deputado compartilhou em suas redes sociais que tem se beneficiado enormemente com a Cannabis em seu tratamento. O parlamentar de 82 anos decidiu tornar o diagnóstico público com o objetivo de ampliar o debate sobre o uso da planta para essa e diversas condições de saúde.
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A 16ª Marcha da Maconha reafirma a importância de um debate justo e baseado em evidências científicas sobre a política de drogas, destacando o impacto positivo da Cannabis na vida de muitos e a necessidade de reformas para acabar com as disparidades sociais associadas à criminalização das drogas.