Viraliza nas redes sociais vídeo da PRF com apreensão de jujubas – em formato de ursinho – contendo THC, molécula psicoativa da Cannabis
Tem circulado nas redes sociais um vídeo gravado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em que o agente aparece mostrando uma apreensão de drogas, entre elas 20 pacotes de uma bala canadense que contém Tetrahidrocanabinol (THC).
A embalagem cor de rosa contendo a gelatina no sabor de morango – em formato de ursinho – chamou a atenção dos policiais que viralizaram nas redes com o vídeo gravado pela equipe.
Veja o vídeo:
Alerta
A apreensão serve de alerta. Em países onde o uso recreativo da maconha já está legalizado é crescente o número de crianças intoxicadas pelo consumo acidental desse tipo de balinha ou salgadinhos que contém a molécula psicoativa da planta.
Apesar de na parte traseira da embalagem ter escrito em inglês, de forma destacada, para ‘manter longe das crianças’ e que o produto é indicado apenas para ‘maiores de 21 anos’, o pacote de visual infantilizado é um atrativo para os pequenos.
Efeitos adversos graves
De acordo com o Dr. Ricardo Ferreira, especialista em dor, a intoxicação aguda por uma grande quantidade de THC em uma criança, ou até em adultos, pode levar a efeitos adversos graves com severa confusão mental e comportamentos bizarros.
“Sintomas como náuseas, vômitos, ansiedade e taquicardia. Crianças com predisposição a convulsões e/ou diagnóstico de epilepsia podem apresentar episódios mesmo com tratamento medicamentoso em dia’, alerta o médico.
Não deixa sequelas
Apesar de cenas potencialmente dramáticas, e até mesmo emocionalmente traumáticas, é muito difícil que estas experiências negativas deixem sequelas físicas a médio e longo prazo, explica o Dr. Ferreira.
Na história da medicina não há registros de overdose pelo consumo de THC. “Mas certamente podem aumentar ainda mais o estigma sobre o uso da Cannabis”, lamenta o médico que é um estudioso da planta.
Sem prescrição médica?
Apesar de na embalagem conter a descrição de que o produto é para uso medicinal, os policiais não encontraram prescrição médica para embasar essa teoria.
Juntamente com os 20 sacos de bala, a PRF ainda achou porções de haxixe e skunk, um tipo de maconha com THC mais concentrado.
Apreensão na estrada
A apreensão ocorreu no final do ano passado na estrada Fernão Dias, próximo a Atibaia (SP), no trecho que liga São Paulo a Belo Horizonte.
A pessoa que levava a mercadoria afirmou que receberia R$ 1.200 para fazer o transporte da mochila e alegou não saber do que se tratava a carga.
Lacre de segurança
O uso medicinal da Cannabis, em formato de jujubas, pode ser prescrito desde que haja indicação médica. Mas a embalagem deve conter lacre de segurança e não ostentar formatos que possam atrair o desejo das crianças e adolescentes, explica a neurologista e pediatra, Dra. Vanessa Matalobos.
“Se é medicinal e não para uso pediátrico não precisa desse apelo. Inclusive se conter só THC, a criança provavelmente não vai se beneficiar de uma goma como essa. Isso vai distanciando os médicos e pacientes de um possível tratamento com Cannabis de forma séria”, observa a médica.
Intoxicação aumenta entre crianças
No Canadá, onde o uso recreativo da planta já é legal, a intoxicação com Cannabis entre crianças aumentou, desde que comestíveis com THC passaram a ser vendidos naquele país.
Entre janeiro de 2015 e setembro de 2021 foram registrados 581 casos de intoxicação em crianças abaixo de 9 anos só em 4 províncias do Canadá: Ontário, Alberta, Colúmbia Britânica e Quebec.
Nos EUA os casos cresceram 15 vezes em 4 anos
Nos EUA, um outro levantamento mostrou que o número de ocorrências por intoxicação com THC, registradas entre crianças com menos de 6 anos, aumentou 15 vezes em 4 anos.
Enquanto em 2017 foram registrados 207 casos, em 2021 o número saltou para 3.054 ocorrências.
FDA emitiu alerta
Em junho de 2022, o órgão Food, Drug and Administration (FDA), semelhante a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, emitiu um alerta sobre os riscos do consumo acidental de alimentos com THC por crianças.
Especialmente, porque algumas empresas têm copiado o layout das embalagens tradicionais de alimentos já consumidos pela população – sem Cannabis – na tentativa de vender mais.
Essa estratégia de venda, induz os consumidores, e principalmente, as crianças ao erro, afirma o FDA.
No Canadá já se discute restringir
No Canadá, pesquisadores publicaram um artigo alertando sobre a importância de restringir a venda de produtos com Cannabis que tenham um apelo visual atrativo para as crianças.
“É uma estratégia essencial para prevenir essas intoxicações acidentais”, dizem os estudiosos e especialistas.
Riscos desnecessários
A Federal Trade Commission (FTC) dos Estados Unidos também emitiu nota alertando sobre as práticas que apresentam riscos desnecessários para a saúde dos norte-americanos.
“As crianças correm um risco particular de ingerir erroneamente produtos comestíveis de THC que imitam alimentos tradicionais, porque são mais propensas a concentrar-se nas semelhanças de aparência e embalagem do produto e menos propensas a notar ou a compreender o texto do rótulo”, disse o documento.
O organismo ainda citou a Lei da Comissão Federal de Comércio e a Lei Federal de Alimentos, Medicamentos e Cosméticos daquele país.
Marketing enganoso
“O seu setor de produtos pode ser novo, mas você deve conduzir seus negócios dentro das leis estabelecidas, destinadas a proteger o público de práticas de marketing enganosas e alimentos adulterado”, orientou o FTC.
De acordo com o órgão, dado o número significativo de eventos adversos relatados a partir da ingestão de produtos comestíveis contendo THC, anunciar e embalar o produto de uma maneira que provavelmente seja particularmente atraente para crianças pequenas pode representar um risco injustificado para a segurança dos pequenos.
Lamentável
Para a pediatra Dra. Vanessa Matalobos é lamentável ver esse tipo de notícia viralizando nas redes sociais.
De acordo com a estudiosa, é preciso ficar atento com o que está disponível no mercado e sempre buscar orientação de um médico antes de dar início ao tratamento.
Resguardar a segurança das crianças
“O acompanhamento médico tem que existir para garantir a segurança do paciente. Sempre prescrevo medicamentos com lacre ou trava de segurança. Criança é um ser curioso, elas pegam até produtos de limpeza embaixo do tanque, então a gente tem que se resguardar ao máximo”, ensina.
Para a médica é triste ver o que a ganancia do homem é capaz. “Isso pode trazer retrocesso para o tratamento à base de canabinoides no Brasil. Daqui a pouco vai Anvisa restringir produtos, o governo pode limitar, e com isso a gente vai dificultando a acessibilidade da terapêutica a todos”, alerta a Dra.Vanessa Matalobos.
O que diz a Anvisa?
Em nota, a Anvisa diz que com relação à importação de produtos por pessoa física, amparada pela RDC 660/2023, o procedimento é excepcional e realizado mediante prescrição e responsabilidade exclusivas do médico.
Nesse sentido, “cumpre salientar que a compreensão técnica da Anvisa sobre esse tema está integralmente contida na RDC n.º 327/2019, que é o regulamento que trata da regularização desses produtos para sua utilização no país”, afirma a Agência.
Esta normativa estabelece no Art. 10, § 5° que “não são considerados produtos de Cannabis para fins medicinais os cosméticos, produtos fumígenos, produtos para a saúde ou alimentos à base de Cannabis spp. e seus derivados”, conclui a nota.
O uso medicinal da Cannabis já é legal no Brasil
O uso medicinal da Cannabis no Brasil já tem regulação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio das RDC 660 e RDC 327. No entanto, para isso, é preciso prescrição médica.
Por isso, na nossa plataforma de agendamentos, você pode marcar uma consulta com um médico ou cirurgião-dentista que tem experiência na prescrição dos canabinoides. Mais de 30 patologias podem se beneficiar com as moléculas medicinais da planta.
Acesse já! São mais de 250 especialidades.
Nós podemos te ajudar!
Instituto de Terapias Integradas (ITI) : Cannabis & Saúde: o maior portal sobre a Cannabis Medicinal do Brasil (cannabisesaude.com.br)