Um jeito útil de pensar na molécula é pensando no CBG como um canabinoide que reside farmacologicamente entre o CBD e o Delta-9-THC. Isso já nos dá uma perspectiva de quando e como usar a medicação. De maneira particular, vou exemplificar como tenho usado essa substância promissora na minha prática clínica.
Gosto de iniciar a prescrição com o canabinoide mais embasado cientificamente, o Canabidiol (CBD). Mesmo com um número crescente de estudos, cabe ressaltar que a maioria das evidências robustas falam sobre CBD isolado. Por isso, eu parto (sempre que possível) da prescrição de CBD full spectrum (FS) e tenho notado, empiricamente, a eficácia maior dessa apresentação, frente ao produto isolado.
Iniciando com óleo de CBD FS, ao sétimo dia do início do tratamento, miro a dose de 25 mg diários. A última vez que revisitei o assunto, vi que o aumento recomendado pela meia-vida do CBD seria de 5 mg a cada 3 dias, mas do sétimo dia do início do uso em diante, aumento a dose de maneira gradual e individualizada, até cerca de 100 mg de CBD/dia. Sugiro que não subam a dose de 25 para 100 mg diários em menos de 1 mês. Falando de maneira simplista e pragmática é: só após atingir os 100 mg/dia de CBD que começo a pensar em usar o CBG.
Quando pensamos em iniciar o CBG acredito que o principal ponto que devemos pensar é a possibilidade de aumento do apetite (hiperfagia) no paciente
A hiperfagia é um sintoma dose-dependente, ou seja: nem sempre ocorrerá. Tal fato se dará somente se o paciente usar doses mais altas.
Lembrando que, como farmacologicamente na intersecção entre CBD e D-9-THC, eu associo, via de regra, o uso para analgesia, mas é pertinente pensar em CBG para aumento do foco, diminuição da ansiedade, diminuição da dor muscular tardia (DOMS), hiporexia e enxaqueca.
O próximo passo é pensar no tipo de apresentação a introduzir. A mais comum no mercado é uma concentração de CBD 2: 1 CBG. No entanto, recentemente, temos novas apresentações que prometem ser mais biodisponíveis, por utilizarem a nanotecnologia como ferramenta diferencial.
De maneira a formar um raciocínio científico e crítico, acho útil pensar na regra dos 4. Teoricamente, o óleo FS tem uma eficácia 4x maior que o isolado e o canabinoide que usa de nanotecnologia tem eficácia 4x maior que o óleo FS. Simples. Será?
Convido quem estiver lendo essa coluna a me procurar quando tiver um “n” grande de pacientes (ao menos mais de 50), para comparar as apresentações.
Ainda sobre os diferenciais do CBG não posso concluir sem dizer que existe uma sinergia entre CBG e CBD que também se faz útil
O CBG possui atividade agonista no receptor alfa-2 adrenérgico, que, teoricamente, surtiria algum efeito positivo na liberação de neurotransmissores, como epinefrina e dopamina, além de no sistema cardiovascular.
Ainda falando em termos científicos, sugiro que deem uma olhada no estudo CAMTREA, que avalia uma proporção CBD 2:1 CBG, no tratamento de enxaqueca crônica
Voltando à prática, tomo a liberdade de sugerir algum protocolo laboratorial, antes e de seguimento ao paciente em uso de canabinoides, em especial aqui, o CBG.
Antes de iniciar o tratamento, deve-se solicitar os exames de função hepática. Da mesma forma, após o início da medicação, sugiro que também solicitem TSH, T4L, glicemia e HBA1C, pensando na ação dos canabinoides em receptores CB2 e na possibilidade de interação medicamentosa com levotiroxina, comumente usada por esses pacientes.
Se houver alteração de função hepática é possível ponderar o uso de apresentações com nanotecnologia. Além disso, é vale solicitar exames de imagem, para elucidação diagnóstica.
Até aqui espero ter sido útil em elucidar o enorme potencial do CBG. Entretanto, devo terminar com uma provocação ao raciocínio do leitor: qual será a eficácia do CBG se associado ao Canabinol (CBN)? E ainda: como funcionará a nova combinação utilizada para transtornos ansiosos, depressivos e de dor crônica?
Falaremos sobre mais adiante, até!
*Delayed Onset Muscle Soreness