Carla* foi diagnosticada com síndrome de borderline, caracterizada por mudanças bruscas de humor, ainda aos 14 anos. “Eu tinha perdido entes muito próximos em pouco espaço de tempo e aquilo serviu para que começasse as crises mais fortes.”
*Carla é um nome fictício pois a paciente preferiu não se identificar.
“Tinha quadros de automutilação. Tinha crises de tentar me matar. Minha mãe me encontrou caída no chão depois de ter tomado um monte de remédio. Estava a ponto de não aguentar mais.”
Deu início à busca por ajuda profissional e o tratamento com antidepressivo. “Cheguei em um psiquiatra que me trata até hoje. Os outros só falavam que é depressão. Ele foi o primeiro que quis saber mais sobre minha vida, o que eu sentia sobre várias questões. Foi quem mais me ajudou.”
“Com os remédios, eu consegui sair. Não tive mais crises a ponto de chegar em automutilação ou querer me matar. Estabilizou esses picos que eu tinha.”
Com o tempo, porém, a estabilidade começou a se perder. “Tomava medicamentos fortes e alguns deles já não faziam efeito. Começava tratando, ficava um ano bem, e depois já não fazia efeito.”
Do borderline à crise de pânico
“Comecei a ficar instável de novo. Com 18 anos, começou a ficar pior. Foi meu declínio, pois foi quando eu comecei a ter crises de pânico. Chegou em um momento que qualquer coisa nada a ver me dava gatilho.”
“A crise começa no peito. O batimento vai acelerando e no começo parece que é uma crise de ansiedade. Só que ela vai crescendo e tomando conta. Vai dando uma dor no peito, como se tivesse sendo empurrado para dentro. Uma sensação de angústia e eu começo a ficar nervosa.”
“Meu primeiro pensamento é que eu não posso ter uma crise. Eu tento segurar, mas parece que quanto mais eu tento, fica um sentimento no ombro como se estivesse prestes a explodir. Na hora que eu choro, já não tem mais como voltar.”
“É quando eu entro em crise mesmo. Parece que o tempo não passa. Eu estou com um sentimento que não vai passar e não tenho como fugir disso. É pânico. Entro em um estado de pânico, os segundos demoram uma eternidade, e não vejo solução para sair.”
“Eu preferia entrar na frente de um caminhão que ter que passar por aquela crise. Me fala, como uma pessoa nesse estado vai conseguir viver em sociedade? Tinha medo de sair na rua. Eu sou uma pessoa extrovertida, gosto de conversar, mas tinha medo das pessoas. Não era mais a Carla.”
“Meu dia era ficar na cama dormindo. Eu passava muito mal também. Fisicamente, eu ficava fraca, tinha muito vômito, diarreia. As crises me baqueavam muito e acabavam também baqueando as pessoas ao meu redor.”
Dependência
Trabalhando em um banco, deu início ao tratamento com clonazepam e cloridrato de sertralina para se manter funcional. “Com a sertralina, me sentia muito apática. Vi um meme que achei condizente que dizia que não dá para ter depressão se você não sente nada.”
“Com o clonazepam, eu ia trabalhar, e estava um zumbi na parte da manhã. Tinha que me esforçar dez mil vezes mais para conseguir fazer alguma coisa. Eu tinha que atingir metas, ter um bom desempenho, e era muito difícil para mim porque ficava bem lenta.”
A situação ficou insustentável e Carla teve que se afastar do trabalho. “Eu já não sabia mais o que fazer. Não aguentava mais o estado que eu tava vivendo. Em qualquer serviço, eu precisava ter uma qualidade de vida para exercer.”
Em mais uma tentativa de mudar a medicação, parou de tomar o clonazepam. “Não sei porque achei que meu médico falou para parar de tomar e eu não me toquei que poderia estar dependente.”
“Comecei a ter crises de labirintite muito fortes, dores de cabeça intensas que duravam dias. Tomava vários remédios e não passava. Eu não dormia porque comecei a ter tremores muito fortes.”
No hospital, o médico revelou que se tratava de uma crise de abstinência do clonazepam. “Eu parecia aquelas pessoas que usam crack que a gente vê na televisão. Minha mãe colocava comida na minha boca porque não conseguia acertar o garfo.”
Tratamento por conta
Precisava haver alguma alternativa. A esperança chegou pela história de um amigo. “Sua avó já não estava andando devido a dor crônica. Começou o tratamento com o óleo de Cannabis e teve bom resultado, para a dor e para ansiedade. Ela ficou mais tranquila.”
Só tinha um problema. Seu médico não demonstrou abertura para o tratamento com Cannabis e tampouco conhecia algum prescritor em sua região. Decidiu que seguiria seu tratamento por conta. “Comprei a flor da Cannabis, um bong e, segui na lógica de redução de danos.”
“Uma vez por dia, eu usava, colocava uma música e ia meditar. Nas primeiras semanas, a diferença foi notável. Na parte da manhã, eu não tava mais morrendo de sono. Conversei com o meu médico, e o conselho foi diminuir o clonazepam e utilizar mais a Cannabis.”
Por influência da paciente, seu médico começou a prescrever o óleo isolado de canabidiol. “Não vi o mesmo efeito que eu estava tendo utilizando a Cannabis in natura no vaporizador ou fumando.”
O tratamento com Cannabis para o borderline
Carla precisava de orientação médica. Juntou dinheiro e marcou uma consulta com a psiquiatra Eliane Nunes, diretora geral da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis.
“Valeu cada centavo. Ela me prescreveu o óleo com porcentagem de dois de CBD para um de THC. Uma coisa totalmente diferente do atendimento dela é a maneira que a gente foi ajustando as doses os honorários.”
“Deu certo. Desde que comecei o tratamento, nunca mais tive crises de pânico. Melhorou a ansiedade. Se acontece algum imprevisto, não tenho mais aquele desespero como primeira reação. Agora eu penso e vejo o que posso fazer. Agora eu fico mais consciente que dopada.”
Faz cerca de um ano que Carla, hoje com 26 anos, faz tratamento com a psiquiatra Eliane Nunes. “A vida é completamente outra depois do óleo. Hoje eu cuido sozinha de uma granja, são muitas coisas na minha cabeça e eu consigo lidar. Se fosse antes, eu jamais conseguiria.”
“O efeito entourage não foi só por dentro. Parece que por fora, a minha vida também foi melhorando. A relação com a minha mãe e as pessoas que ficavam mal quando eu ficava mal está melhorando. Está sendo uma cadeia de benefícios.”
“Estou em uma época muito feliz. Não sabia o que era a vida fora ficar dopada, com depressão, crise de ansiedade. A vida é maravilhosa sem ansiedade. A gente consegue contemplar. Essa batalha me forçou a crescer.”
“A Cannabis tem me dado resultados ótimos e me sinto genuinamente feliz todos os dias. Por mais que eu ainda tenha borderline, tenho dias bons e ruins como todo mundo. Ninguém tem uma vida maravilhosa, mas eu consigo tirar coisas boas, ser grata e aproveitar minha vida.”
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