Após uma longa trajetória profissional como ortopedista e médico do esporte, o bem-estar (dos pacientes, mas também o próprio) conduziu o médico Marcos Pereira Dias ao universo da Cannabis medicinal. Sua história, no entanto, começa antes mesmo de ingressar em medicina.
Formado em educação física em 2003, acompanhava de perto a busca de seus alunos por saúde e qualidade de vida. “Eu era avaliador físico em uma academia, trabalhava na área fitness, e, no contato, comecei a me interessar pela área médica. Também percebi que a educação física era muito desvalorizada e fui fazer medicina.”
“Como eu já tinha esse background de educador físico, a área da medicina que me chamou atenção foi a ortopedia e traumatologia, porque tratava os atletas. Dentro da faculdade, já fui voltando a minha carreira para área esportiva. Depois que me formei, em 2008, fui fazer residência médica.”
Ortopedista do futebol
Ortopedista, trabalhava como cirurgião plantonista e no atendimento em ambulatório no SUS da cidade de Taubaté, até que a busca pelo bem-estar falou mais alto. “Para me aproximar do mar, vim para Florianópolis (SC). Fui contratado por um time de futebol, o Figueirense.”
“Na ocasião, o time jogava a Série A do Campeonato Brasileiro e fiz bastante jogos importantes, como contra o Palmeiras, meu time de coração. Fiquei seis anos no futebol, viajando o Brasil inteiro de ônibus, na concentração e dentro de campo. Conciliei as duas coisas que eu mais gostava junto aos atletas como médico do clube.”
Mas o Figueirense entrou em crise. Caiu para a Série C do Brasileirão e, com sérios problemas financeiros, promoveu uma demissão em massa. “Eles não tinham mais dinheiro para arcar com médico e voltei para a vida de plantão ortopédico.”
Da tristeza ao riso
Foi ao conquistar o bem-estar de uma paciente muito próxima que a Cannabis medicinal entrou em sua vida. “Foi de uma maneira triste. Minha mãe estava ficando confusa mentalmente e a conclusão foi o diagnóstico de Alzheimer.”
“Como médico, comecei a estudar tudo que tinha de Alzheimer e os relatos eram muito negativos em relação aos medicamentos tradicionais utilizados. Foi quando eu comecei a perceber que sempre que eu buscava na internet, tinha alguém falando de Cannabis, mesmo que discretamente.” ortopedista
Era 2017 e as discussões sobre a Cannabis medicinal ainda não tinham a abrangência da atualidade. No entanto, a necessidade serviu de motivação para Marcos. “A minha mãe não estava tendo melhora nenhuma e dei a ideia para o meu pai de entrar com esse medicamento alternativo.”
“Eu li que os efeitos adversos eram muito pequenos. Às vezes, uma medicação não tem um efeito benéfico comprovado cientificamente ainda, mas, em compensação, os efeitos adversos também são brandos. Você pode prescrever com uma certa segurança.”
Sua mãe deu início ao tratamento com Cannabis medicinal. “Deu muito certo na parte comportamental. Ela passou de uma mulher confusa mentalmente, triste, chorosa, isolada, acordando de madrugada gemendo, com quadros de irritabilidade, e passou a ser uma pessoa extremamente alegre, dócil, risonha e piadista.”
De ortopedista a generalista
“Eu percebi que isso era uma forma terapêutica interessante e comecei ler da minha área, como ortopedista e médico do esporte, no que a Cannabis poderia ajudar. Vi que para dor crônica era muito interessante, principalmente os derivados ricos em THC.”
Logo descobriu que a aplicação era bem ampla. “Comecei a prescrever no plantão da ortopedia para artrose, tendinopatia, bursite, hérnia de disco, dor nas costas em geral, dores musculares por trabalho de ficar muito tempo sentado ou de pé. Em relação aos atletas, para recuperação muscular pós-treino, melhora da vascularização periférica, da qualidade do sono, ansiedade.”
“De repente, de um paciente falando para o outro, começaram a aparecer pacientes em meu plantão diretamente interessados na Cannabis. Alguém experimentava, tinha uma resposta positiva, falava para a vizinha, que falava para outra, e iam me procurar.”
Conforme o interesse crescia, se dedicava mais e mais sobre os estudos acerca do potencial terapêutico dos fitocanabinoides e sua atuação junto ao sistema endocanabinoide. “Fui fazendo todos os cursos que encontrava. Vi muita masterclass, inclusive no portal Cannabis & Saúde.”
“Comecei a tratar distúrbios do sono, ansiedade, depressões mais leves. Foi aumentando, aumentando, e, de repente, virei um médico generalista.”
Empolga médico e paciente
O médico ainda concluiu mais duas pós-graduações, em medicina do esporte e endocrinologia, mas os fitocanabinoides dominaram sua atividade profissional. “A minha vida hoje é 100% Cannabis medicinal online. Faço a prescrição digital, ajudo na autorização da Anvisa, tiro dúvidas dos pacientes via WhatsApp.”
“Prescrevo todos os derivados da Cannabis, ao contrário de alguns médicos que ainda são caretas com as flores, os comestíveis ou com os produtos tópicos. Muitos têm medo de prescrever, mas eu acho válido prescrever flores para dores agudas, comestíveis para o sono. Uso bastante THC, algo que os médicos iniciantes também têm medo de manipular.”
“Você vê realmente a resposta do paciente. Ele está há anos tomando morfina, codeína, tramadol, pregabalina, e não sai do lugar. Não melhora. Quando começa com o uso da Cannabis e percebe que trouxe uma melhora efetiva, isso empolga médico e paciente. O feedback positivo dos pacientes é a primeira coisa que faz o médico abrir o olho.”
“A segunda coisa importante no mundo da Cannabis é o pouco efeito adverso que tem. Obviamente que tem efeito, mas é brando e suave para controlar. às vezes, dá um pouco de sonolência, tontura, desconforto gastrointestinal, e você simplesmente diminui a dose. É um óleo e não precisa nem cortar comprimido.”
“Outra coisa é que são produtos naturais. É basicamente o óleo de Cannabis com um óleo, na maioria das vezes de coco, ou algum azeite. Não tem sintéticos e a chance de ter um efeito adverso com algum corante ou algo assim.”
“Tem um lado negativo só que é o valor do medicamento. Ainda é um medicamento caro, principalmente se vem por via importada, porque paga-se o frete, mas tem a opção alternativa dos produtos nacionais feitos por associações de pacientes.”
O grande gerente
Segundo o médico, a Cannabis traz efeitos positivos e poucos adversos devido à sua forma de atuação no organismo. “Quando você começa a estudar e entender o sistema endocanabinoide, que ainda não está nos livros de medicina, percebe que a Cannabis nada mais é que um gerenciador do seu organismo.”
“Quando você começa a utilizar Cannabis, não está tomando mais um agente que vai ter uma função no organismo, como um analgésico ou um antidepressivo. Você está contratando um gerente. É como se você pegasse uma máquina mal gerenciada e ela passasse a ser administrada por esse grande gerente.”
“Tem uma função moduladora. Ela equilibra o organismo, que é a famosa homeostase. Ela não é analgésica, anti-inflamatória ou antidepressiva, mas um gerenciador que vai fazer com que essas funções aumentem quando estiverem com déficit e diminuam quando estão em excesso.”
“A Cannabis se liga ao receptor na membrana dos neurônios, por exemplo, e aumenta os níveis de serotonina se tá com excesso de glutamato. Se está com disparos de epilepsia, diminui a quantidade de glutamato.”
“Quando um médico fala na internet que serve para tudo, as pessoas ficam céticas porque não é que ela serve para tudo. Ela está olhando para tudo e gerenciando. Faz isso bioquimicamente de uma forma muito fácil. Mexe com os canais de sódio, cálcio e potássio nas células e só. Não tem nenhum grande milagre quando você entende a farmacocinética e a farmacodinâmica da Cannabis.”
Os passos do bem-estar
No entanto, o educador físico, ortopedista, médico do esporte e endocrinologista faz uma ressalva. “A qualidade de vida não depende só de um óleo de Cannabis ou só de um remédio. O paciente tem que mudar todos aqueles marcadores de saúde mais conhecidos.”
“Aumentar o nível de atividade física, fazer uma dieta equilibrada, ter um trabalho que ela esteja feliz, fazer mudanças sociais. O óleo é um grande administrador que vai ajudar nessa busca por bem-estar.”
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