Para o Portal Cannabis & Saúde, palestrantes defenderam a Cannabis como redutora de danos e lembraram do uso ancestral da planta por benzedeiros no Nordeste do país
Durante dois dias, a sede da FioCruz em Brasília, reuniu dezenas de pessoas para Conferência Livre Nacional de Educação Popular em Saúde.
O evento promovido pela Abrasco, Rede Unida, além de diversas entidades e movimentos sociais, propõe estratégias de atuação para o fortalecimento da Política Nacional de Educação Popular em Saúde (Pneps).
Neste ano, o colegiado estabeleceu quatro eixos de discussão: gestão participativa, formação, cuidado, participação e controle social. O objetivo é tornar o Sistema Único de Saúde (SUS) uma rede acessível, universal e com a participação da sociedade organizada.
A Cannabis na educação popular em saúde
Para além das macropolíticas que possam fortificar o SUS, as ervas medicinais também entraram no debate. A benzedeira Francisca Ferreira da Silva, mais conhecida como dona Xica, contou que há anos a Cannabis é usada no sertão nordestino no chamado ‘banho de toco’.
O que é banho de toco?
De acordo com a líder do Movimento Popular de Saúde do Sergipe, a Cannabis era cozida numa panela com água, e o enfermo fazia a inalação daquele vapor embaixo de um lençol.
“A gente não tinha médico. E naquela época, a gente tinha remédio para tudo, mas estavam nas ervas. Banho de toco é , uma espécie de infusão da Cannabis. Faz o cozimento da erva, você cobre com o lençol e a criança fica naquele vapor que toma conta do corpo”, ensina.
A benzedeira explica que naquele tempo a Cannabis era usada para dar banho de toco nas crianças que nasciam com “lesão na cabeça”, termo usado por dona Xica. Simultaneamente, a inalação dos vapores da erva também era utilizada para tratar dor de cabeça e cólica menstrual também.
Como resultado, a melhora geral do estado físico da pessoa. “A pessoa ficava boa! A gente só não dava (a água com Cannabis) a pessoa para tomar, porque a gente não tinha o conhecimento. A Cannabis em forma de incenso também é muito boa”, conclui a líder comunitária.
Cannabis como redução de danos
Outro ponto relevante destacado pela professora de Saúde Mental da Universidade do Pará, Aline Macedo, durante o evento, é a possibilidade de usar a Cannabis, de forma terapêutica, no tratamento de dependência química.
“Dentro dos movimentos que compõe a roda de educação popular, um deles é de luta antimanicomial que defende a política de redução de danos. E nesse sentido, a Cannabis é um bom elemento para a gente discutir redução de danos de usuários que fazem uso de drogas com efeito mais nocivo para o corpo”, avalia a docente.
Como relatado pela própria sabedoria popular da dona Xica, Macedo enfatiza que o uso medicinal da Cannabis já está comprovado com diversas produções científicas, para além do conhecimento ancestral.
“Dentro das drogas que atuam no nosso Sistema Nervoso Central, a Cannabis não causa tolerância. O que é isso? Toda vez que eu faço uso de determinada droga, meu organismo sente um pouco mais de necessidade de aumentar a dose. A Cannabis, é a única que não causa essa dependência”, afirma a pesquisadora.