O uso da cannabis envolve várias áreas de atuação acadêmicas e técnico-científicas. Nesse sentido, em qualquer universidade brasileira, que se abriu para esse “novo velho” mundo, a cadeia de produção da planta pode envolver várias áreas acadêmicas, como agronomia, tecnologia, farmacêutica, industrial, têxtil, etc.
Nesse contexto, visitamos o primeiro e único cultivo legal de cannabis em uma universidade federal (UFSC), para pesquisa e desenvolvimento de produtos veterinários e agrossustentável.
Conversei com o agrônomo Gustavo Rufatto Comin, chefe da divisão de atividades agropecuárias e responsável pelo manejo e desenvolvimento das plantas de Cannabis na UFSC, para entendermos melhor como funciona todo esse trabalho, até que a planta vire remédio.
O cultivo nesta universidade está em sua fase inicial, já que as primeiras sementes foram para terra em março deste ano
Gustavo Ruffato é mestre em produção vegetal na UFSC e pretende continuar seu Doutorado com o estudo da planta. Após a seleção do espaço necessário para realização do projeto com a cannabis, foi preparada uma estufa para receber o cultivo. A estufa é climatizada, mantida em 22 a 26 C°, tanto de dia quanto a noite, pois a temperatura também pode afetar a floração – no inverno mais rigoroso , as temperaturas podem baixar para menos de 12 graus.
A umidade ideal depende da idade da planta. Plantas mais novas, em estágio vegetativo, precisam de 60, 70% de umidade. Já para as plantas na fase de floração, a umidade deve ser mais baixa , entre 40 e 50%. Isso é para evitar o desenvolvimento de fungos nas plantas.
Em busca da mistura perfeita
O substrato utilizado no cultivo da UFSC é uma mistura, feita de um pouco de substrato de plantas, um pouco de vermiculita, na mesma proporção. Inclusive, foi utilizada areia e solo de uma área agroecológica, que tem na fazenda da própria universidade. Além disso, foi adicionada um pouco mais de substrato, pois a mistura estava pesada e é de extrema importância para a planta um substrato leve e aerado. Só assim temos um melhor desenvolvimento das raízes.
O aporte nutricional para a planta, ou seja, a adubação, é realizada em conjunto com a irrigação, não sendo necessário o preparo do substrato com adubo, nesse caso.
A estufa conta ainda com irrigação, tem o controle de temperatura – tanto para resfriar o ambiente, em caso de temperaturas muito altas, como para aquecer, em situações mais frias -, com um túnel levando todo ar quente ou frio para estufa, cobrindo todo espaço.
Esses sistemas todos são automatizados e quando chegam à umidade e temperatura ideais, o sistema se desliga.
Todos os recursos para o cultivo são provenientes de processos de licitação da própria UFSC e também da venda dos grãos produzidos na universidade, como milho e soja.
O dinheiro da venda da produção agrícola da UFSC volta para o Governo Federal e depois a própria UFSC o utiliza para manutenção e investimento. Esse valor é útil para compra de insumos para desenvolver diversos cultivos. Isso porque não há compra específica para um professor apenas, e sim, para toda cadeia agro da universidade.
Dessa forma, todas as pesquisas que se relacionam com plantas dentro da UFSc se beneficiam!
Ainda há muito o que fazer, afinal estamos apenas no começo
Mesmo assim, é um grande passo para pesquisa técnico-científica da Cannabis e também para sua regulamentação na medicina veterinária!
Agora, tudo avança ainda mais, com o PODICAN (anteriormente CEDICAN), Pólo de Desenvolvimento e Inovação em Cannabis da UFSC. Ele será um catalisador do ecossistema econômico-social-produtivo da Cannabis sativa no Brasil e é criação do Dr. Erik Amazonas.
Estamos imensamente felizes de fazer parte dessa mudança de paradigmas dentro da universidade!
Agradecimentos especiais ao Dr. Erik Amazonas, idealizador e responsável por todas essas mudanças dentro de uma universidade federal. Agradecemos também ao Gustavo Ruffato, a toda equipe da UFSC e a comunidade de Curitibanos SC, que torcem por essa mudança!