Os resultados insuficientes no tratamento de saúde mental e dor crônica sempre incomodaram a médica Juliana Paiva, especialista em medicina do trabalho. “São coisas que não se resolvem. Você trata de vários jeitos, acompanha com psiquiatra, e a pessoa não melhora. Fui querendo alternativas.”
Para que pudesse ajudar melhor seus pacientes, cursou psicanálise. “Queria entender melhor essa parte de saúde mental, que é muito relevante na minha vida até hoje, mas também não resolveu.”
Com a chegada da pandemia de Covid-19, a médica do trabalho se viu com tempo livre, já que os trabalhadores estavam em casa, e se dedicou a estudar. “Achei uma pós em Cannabis medicinal. Falei ‘gente isso existe?’ Achei muito interessante e comecei a estudar sem grandes expectativas profissionais.”
Uma alternativa na saúde mental
Mas, conforme se aprofundou no funcionamento do sistema endocanabinoide, tudo foi ficando mais sério. “Achei fantástico. Vi muita coisa que não tinha aprendido na faculdade. No meio da pós, que era mais teórica, fiz um curso rápido de prescrição.’
“O que me fez querer prescrever foi a parte das patologias mentais e da dor crônica. A possibilidade de tratar idoso já demenciado, coisa que na medicina convencional não dá bom resultado.”
Há cerca de três anos, Paiva é prescritora de Cannabis medicinal. “Depois que eu comecei, fui vendo na prática que tem melhora de fato. Dá um impacto na vida da pessoa, muda a qualidade de vida, muda a convivência com as outras pessoas ao redor. Foi então que eu percebi que realmente ia fazer a diferença na minha prática clínica.”
“O que achei interessante é que não é um tratamento pontual para uma coisa. Os outros medicamentos alopáticos são muito específicos em sua ação. A Cannabis é um regulador do organismo e promove vários benefícios. Uma pessoa com dor crônica, melhora da dor, mas também, do humor, por exemplo, com o mesmo tratamento.”
Resultados promissores na saúde mental
Desde então, a médica acumula histórias de sucesso com seus pacientes. “Uma paciente com depressão já há muitos anos, fez vários tratamento, e outro dia falou que voltou a ser feliz. É maravilhoso a gente escutar que o paciente recuperou a alegria de viver.”
“Uma paciente de esclerose múltipla melhorou bastante dos sintomas, começou a andar melhor, ter mais disposição, e conseguiu voltar a trabalhar. Tenho paciente com ansiedade que não conseguia sair de casa, mas depois da melhora com a Cannabis, agora consegue.”
“Uma paciente idosa, que continua demenciada, mas conseguiu restabelecer funções. Ela só ficava deitada, não fazia grandes coisas, mas melhorou com o tempo e voltou a tocar piano. São casos bem marcantes.”
De acordo com Paiva, a desistência do tratamento é menor com a Cannabis. “Tenho visto menos efeitos negativos e menos queixas. Percebo que eles têm mais qualidade de vida e, por isso, em geral têm mais aderência ao tratamento. As pessoas abandonam o tratamento por conta das partes negativas.”
Cabeça aberta
Diante dos benefícios observados com o tratamento de Cannabis, Paiva acabou transformando toda sua atuação na medicina. Deixou a medicina do trabalho para trás e hoje se dedica integralmente ao atendimento em seu consultório.
“O acompanhamento próximo é exigente para o profissional, mas eu acho que vale a pena. O resultado é gratificante.”
Não que seja um caminho livre de obstáculos. “Tem médico que é totalmente contrário. Tive paciente que se desentendeu com o médico porque ele foi grosseiro dizendo que era só uma droga. Ele chegou em mim depois de ter passado por diversas especialidades, eu prescrevi Cannabis, e teve melhora.”
“Tanto pacientes quanto os médicos precisam abrir a cabeça. Pensar na Cannabis como uma alternativa terapêutica que pode ser muito benéfica, seja na prática clínica, seja para o tratamento daquele paciente em específico. É ver como essa planta tão rica em possibilidades pode ajudar.”
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