Celebra-se hoje no mundo o Dia da Mulher e das Meninas na Ciência. E para a data conversamos com a bióloga Janaína Rubio Gonçalves, que atualmente é pesquisadora da área de Endocanabinologia e atua no Centro de Convivência É de Lei.
Janaína é Mestre e Doutora em Saúde Coletiva (UNIFESP-EPM) com atuação junto ao Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID).
Dia da Mulher e das Meninas na Ciência
A data foi criada para reconhecer o trabalho que mulheres desenvolvem na ciência. Portanto a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o dia 11 de fevereiro como o Dia Internacional da Mulher e das Meninas na Ciência.
“Vale lembrar que essa é uma data que foi intitulada pela em 2015 justamente para alertar sobre a desigualdade de gênero na ciência e por que é necessário a igualdade de gênero e a contribuição feminina na ciência. Segundo a própria ONU a igualdade de gênero é um direito humano”, indicou Janaína.
Além de destacar o papel das mulher, o dia visa quebrar estereótipos e erradicar a discriminação contra mulheres e meninas no campo. Inclusive foi criado a ONU Mulheres, um braço das Nações Unidas dedicada a promover a igualdade de gênero e o empoderamento feminino.
Pesquisas científicas entre homens e mulheres
“Pesquisas vêm mostrando a desigualdade de gênero entre homens e mulheres. Ainda limitado a lógica binária homem e mulher cis. Algumas pesquisas apresentam essa desigualdade quando o assunto são publicações, citações, bolsas de estudos e colaborações.
Tem uma pesquisa realizada pela Organização dos Estados Ibero-americanos que mostra que a maior parte da produção científica brasileira é desenvolvida por mulheres. Mas elas ainda são minorias e têm menos chance de conseguir emprego. E quando elas conseguem, como a gente já sabe, recebem salários menores que de homens. E ainda que desenvolvendo as mesmas atividades. Outro exemplo é sobre citações de trabalhos científicos realizados por mulheres que sãi cotados com muito menos frequência do que os trabalhos publicados por homens, por exemplo”, explica Janaína.
Diversidade de gênero contribui para mais avanços para a sociedade
“O Ministério da Ciência Tecnologia Inovações por exemplo divulgou informações a respeito mencionando que a diversidade de gênero contribui para mais avanços para a sociedade. E houve um evento também que aconteceu em 2021 e apresentou dados que comprovam que quanto mais mulheres cientistas, mais qualidade nas pesquisas. E isso deve ser pensado para todas as mulheres: mulheres brancas, mulheres pretas, mulheres cis, trans e travestis. Como o machismo é estrutural, a ciência não escapou disto”, defendeu Janaína.
O fazer científico precisa ser tão diverso quanto a própria sociedade
“Podemos ver por exemplo o quanto a falta de diversidade afeta na ciência quando vemos poucas pesquisas que apresentam resultados quanto ao gênero. Ainda utilizamos uma lógica binária que considera apenas duas identidades de gênero, que são homens e mulheres e o que não corresponde com a realidade.
A ciência quando ela vem para contribuir para compreensão das dinâmicas sociais em várias áreas e auxiliar na elaboração de políticas públicas que sejam de fato para toda a sociedade é necessário que tenham todas as figuras sociais envolvidas construindo junto. E essa construção sem a participação dessas pessoas não será uma política, uma ciência ou o que seja para atender a demanda dessas figuras sociais. É necessário a diversidade de gênero e aí hoje nós estamos falando de gênero de mulheres, mas também de classe, raça, cor e etnia em posições de poder também para que sejam alcançadas a igualdade dessas populações e que elas estejam também produzindo ciência”, finalizou.
Ciência e Cannabis
“Minha trajetória na ciência começou justamente por vontade de trabalhar com a cannabis. Durante a minha graduação eu não pensava em fazer mestrado e doutorado. Mas eu sempre tive vontade de trabalhar com a planta, mesmo sendo um tabu. E falando sobre isso muito mais que hoje em 2007. E eu comecei a comentar sobre o meu interesse em estudar maconha com alguns professores. Alguns deles não concordavam com essa minha escolha em trabalhar nesse tema e a partir daí surge um preconceito e uma visão distorcida de mim e da minha capacidade profissional por parte desses professores. Acredito que todas as pessoas que trabalham nessa área já enfrentaram e ainda enfrentam diversas dificuldades nesse sentido.
Mas também tive professores que pautados na Ciência sem moralidade, mas por uma questão de ética cumpriram o seu papel de professor e vendo a necessidade de pesquisas nessa área me impulsionando como aluna buscar aquilo que eu tinha interesse em trabalhar e estudar também. Então esses professores me incentivaram a buscar esse caminho dentro da ciência. E foi aí então que eu comecei a fazer buscas sobre profissionais que trabalhavam na área. Havia um grupo muito pequeno, e foi aí que encontrei o professor Carlini. Quando relatei meu interesse, ele me indicou a Doutora Solange Nappo, pesquisadora e professora da UNIFESP, que foi minha orientadora no mestrado e doutorado na UNIFESP, que foram realizados juntos ao CEBRID”, relatou Janaína.
O que é o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, o CEBRID
O CEBRID é o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. É uma entidade sem fins lucrativos e existe exclusivamente para ser útil à população. Para cumprir esta função, o CEBRID organiza pesquisas e reuniões científicas em vínculo de atividades com a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) sobre o assunto drogas, publica livros e levantamentos estatísticos sobre o consumo de drogas entre estudantes, meninos de rua, etc. Também mantém um banco de trabalhos científicos brasileiros sobre o abuso de drogas e publica boletins informativos trimestralmente.