Apesar da especialização em pediatria, o médico Marcelo Moren tinha uma paciente que destoava do perfil de idade dos demais: sua avó. Octogenária, ela já acumulava 25 anos de dor crônica, com um quadro agravado de escoliose e cifose.
“Já tentei diversas terapias, que amenizam, mas dificilmente ela fica sem dor. Essa dor contínua, causa uma paciente ansiosa, depressiva, porque não consegue andar direito, fazer suas atividades. Não conseguia ter prazer nas coisas básicas da vida, como passear.”
Até que um tio seu que trabalhava na indústria farmacêutica comentou sobre a possibilidade de tratamento com Cannabis medicinal.
Na época, 2016, pouco se falava das propriedades terapêuticas dos fitocanabinoides, a prescrição era restrita a algumas especialidades, mas, por intermédio de seu tio, foi convidado a participar de um congresso sobre o tema.
“Eu comecei a entender mais sobre o sistema endocanabinoide e das aplicações da Cannabis medicinal. Entendi que seria um cenário favorável para a utilização no quadro da minha avó.”
“Ela deu início ao tratamento em 2016 e mantém até hoje. Tivemos uma redução da dor de 40 a 50%, em média. Isso proporcionou uma qualidade de vida melhor. Hoje consegue fazer suas atividades diárias. Na época, estava fazendo a utilização de cadeira de roda, hoje ela já anda, obviamente com certa dificuldade.”
“Hoje ela tem um sono bom. É uma paciente que ainda mantém um perfil ansioso, até pela questão da idade, mas que melhorou cerca de 40 a 50% também desse quadro ansiogênico. A paciente mantém as melhoras obtidas e conseguimos fazer a desprescrição de algumas medicações.”
Pediatria, geriatria e Cannabis medicinal
O caminho, porém, não foi tão simples. “Como era ainda um tempo remoto dentro da prescrição, a gente ficava bastante inseguro. Ainda tinha uma restrição em relação à terapia, então foi bastante difícil conversar com o geriatra que acompanhava ela na época.”
Para que pudesse se sentir seguro para assumir de uma vez o tratamento da avó, decidiu se especializar em geriatria enquanto estudava mais sobre as propriedades terapêuticas da Cannabis.
“A partir daí, a gente rompeu essa barreira do medo e da ignorância e seguimos estudando. Até que consegui uma pós-graduação em Cannabis e parece que o mercado se abriu.”
“Hoje, além da pós-graduação, tenho quatro cursos de prescrição e sigo me atualizando. Mas, a partir de 2017, comecei a ter segurança para prescrever aos meus pacientes.”
O início pela pediatria
Na época, Moren trabalhava com pediatria em um centro especializado em recuperação onde atendia crianças com autismo severo. “Comecei a conversar com essas mães e informar elas dessa nova ferramenta terapêutica e algumas mães toparam.”
“Tive uma resposta terapêutica muito boa. Óbvio que nem todas as pessoas se beneficiam, mas uma média de 80% se beneficiou.”
Com o tempo, médicos passaram a ter mais segurança jurídica para a prescrição, assim como o acesso aos produtos foi facilitado.
“Assim, a gente começou a abrir o leque terapêutico. Depois que fiz geriatria, comecei a atender todas as patologias que permeiam a terceira idade e a ter segurança para prescrever a esses pacientes também.”
Corpo e mente
Com o retorno positivo dos pacientes, mais e mais pessoas passaram a procurá-lo em busca do tratamento com Cannabis medicinal. Até que, em 2020, decidiu criar a Soul Clínica Canábica, em Volta Redonda (RJ).
“Juntei a pediatria e a geriatria nesse consultório e coloquei diversos especialistas, como nutricionista, psicólogo, advogado, fisioterapeuta, para que a gente pudesse cuidar da saúde geral desse paciente.”
“De uma forma abrangente, cuidar do corpo e da mente desse paciente, combinando a medicina convencional com as práticas de medicinas complementares. A gente atende em torno de 30 patologias na clínica com um resultado muito satisfatório.
“Já atendemos 960 pessoas na clínica, grande parte com um tratamento continuado, e uma resposta terapêutica muito boa.”
Conceito humanista
De acordo com Moren, a Cannabis implica em uma mudança na forma de fazer medicina. “A gente está muito acostumado com a consistência. Com a receita de bolo.”
“Independente da compreensão física do paciente, do metabolismo, se faz atividade física ou não, se se alimenta bem ou não, a gente sempre dá aquele remedinho da prateleira.”
“Receita um comprimido de 8 em 8 horas, o paciente vai fazer seu tratamento e dificilmente volta. Não cria um vínculo com ele. Vai voltar dentro de cinco meses se não melhorou ou teve um efeito adverso.”
“A Cannabis traz um conceito completamente diferente. Um conceito mais humanista. A gente assume esse paciente e faz um acompanhamento continuado. A gente começa devagar, mantém devagar, e, assim, consegue entender fisiologicamente o organismo do paciente.”
Efetividade ampla
“Os canabinoides agem como se fosse uma caixa de ferramenta. Eles conseguem agir em diversas etapas da nossa fisiologia e, então, quando o paciente está com dor crônica, ele não vai tratar somente a dor crônica.”
“Lógico que o nosso intuito é amenizar aquela angústia, mas também vai trabalhar na melhora do sono, da compulsão, da ansiedade. Vai melhorar o balanço energético, as taxas de glicemia e o colesterol. Melhora o humor.”
“Acaba que uma única medicação segura, um fitoterápico, tem uma efetividade ampla. Uma única medicação consegue agir no organismo do paciente como um todo e melhorar a qualidade de vida. Se dorme melhor, o dia é mais tranquilo, a ansiedade diminui, a depressão diminui, vai melhorar o quadro do paciente como um todo.”
“A gente tem diversos pacientes com polifarmácia. Uma medicação traz um efeito adverso e prescreve outra para aquele efeito adverso. Os pacientes acabam se sentindo mal e não querem tomar tantos remédios. A Cannabis é uma forma de balancear isso.”
“Sem medo de errar, eu acredito que, em poucas décadas, a Cannabis será o medicamento mais utilizado do mundo. Vai substituir muitos opioides, ansiolíticos, antidepressivos, hipnóticos. Todas essas medicações em que a gente vê um quadro de deterioração da saúde do paciente a longo prazo.”
Agende sua consulta
O médico generalista com especialização em pediatria e geriatria Marcelo Moren está disponível para consultas pela plataforma de agendamento do portal Cannabis & Saúde.
O médico também atende pelo Núcleo de Desenvolvimento em Medicina Canabinoide e Integrativa (NDMCI).
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