Moda sustentável a um passo de chegar às passarelas
Para aqueles que pensam que o tecido 100% cânhamo é muito rústico e pesado demais para vestuário de luxo, quanto engano! Focado numa moda mais sustentável e que gere menos resíduos e poluição, o estilista e arquiteto Leonardo Chiasso está desenvolvendo uma coleção com tecidos fabricados a partir da fibra da Cannabis, o chamado cânhamo industrial. “Lembro que quando estive em Nova Iorque muitos anos atrás, eu vi uma série de roupas feitas com hemp, sapatos, bolsas, tênis e camisetas… Mas sempre com uma pegada hippie. A ideia dessa coleção é mostrar que o hemp cai muito bem em roupas mais sofisticadas”, revela o Chiasso.
Muita gente não sabe, mas a indústria da moda – sozinha – é responsável pela emissão global de 8% de gás carbônico, de acordo com dados da Organização Mundial das Nações Unidas (ONU). O cânhamo é uma alternativa que ganha força frente à atual moda poluente por alguns motivos: primeiro, a planta é gás carbônico negativa, ou seja, sequestra mais CO2 do que devolve ao planeta. Segundo, porque a cultura do cânhamo exige três vezes menos água do que o plantio de algodão, por exemplo, e entrega o dobro de matéria seca. Para completar, a Cannabis ainda regenera solos degradados e não demanda agrotóxicos.
“Sou um eterno inconformado. Minha paixão é pelo novo. Também sempre estive conectado com a sustentabilidade e o natural. Fibras como a seda, o algodão orgânico e o linho sempre foram a minha paixão. Até pouco tempo atrás, nós aceitávamos o tecido como chegava até nós. Não havia uma preocupação como era produzido ou plantada aquela fibra. Hoje, o mercado começa a olhar tanto para questões sociais, como para os problemas ambientais. É preciso dar atenção ao processo de reversibilidade das roupas”, defende Chiasso.
Fibra termodinâmica
O estilista, que desde 1998 trabalha no mercado têxtil de vestuário e luxo, diz que escolheu o cânhamo para ser a estrela dessa coleção, não apenas por se tratar de uma fibra ecologicamente correta, mas também porque é um tecido atemporal. “Assim como a seda, que pega a temperatura do corpo, o cânhamo também tem esse o mesmo conceito. É termodinâmico, é um tecido fresco que respira, além de ser belíssimo – se assemelha ao linho. Nessa coleção, tudo é 100% cânhamo com estamparia botânica e tingimentos naturais. As tintureiras fazem o trabalho de forma artesanal. É maravilhoso”, detalha Leonardo.
Além da coleção própria, Leonardo ainda desenvolve projetos a pedido de outras marcas. Nesse plano de mentoria, o designer auxilia na elaboração do conceito da marca, escolha da palheta de cores, estamparia e tecidos, criação e desenvolvimento de croquis, modelagem e pilotagem do mostruário. “Já tem duas empresas que me contrataram para elaborar a coleção com tecidos de cânhamo. As empresas estão começando a focar nesse conceito de ‘vestuário consciente’. No início desse ano já terá um desfile. Essa coleção será exposta em um evento com showroom itinerante para que as pessoas possam tocar no tecido, conhecer de perto e entender o que é o cânhamo. Essa é uma área da moda que vem crescendo muito e vai ganhar um espaço importante nos próximos anos”, conclui.