Certo dia, o médico Felipe Neris Nora descobriu que sua avó estava tratando dor crônica com Cannabis medicinal.

Na época, com quatro anos de formado, tinha pouca informação sobre as propriedades terapêuticas dos canabinoides, mas perceber que estava trazendo benefícios para um familiar lhe chamou atenção.

Logo, pacientes que o procuravam na Unidade Básica de Saúde de Joinville (SC), começaram a questioná-lo sobre essa opção de tratamento. “Para o paciente chegar na rede pública para falar com o médico sobre a Cannabis, é porque o número de pacientes buscando é dez vezes maior.”

“Às vezes, as pessoas têm medo de falar, têm vergonha, e isso me fez querer estudar. Eu comecei a perceber que se multiplicavam os pacientes que começaram a pedir, principalmente para dor crônica.”

A própria escoliose

Iniciou um curso na Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis (SBEC) e decidiu que iria testar a eficácia. “Agora sou eu o paciente. Eu tenho escoliose com dupla curvatura e é um problema que eu descobri faz uns 10 anos.”

“Comecei a ter dores nas costas devido à escoliose e fiz muita fisioterapia, pilates, mas não conseguia melhorar tanto. Estava tomando venlafaxina, pregabalina e bupropiona. Foi começar a tomar o CBD e não tive mais dor.”

“Eu tive uma mudança muito grande, porque a dor crônica causa depressão e acaba afetando as pessoas ao seu redor. Eu era uma pessoa que trabalhava, chegava em casa e, devido á escoliose, tinha que deitar. Não conseguia ficar em pé. Tenho uma filha de seis anos e não conseguia carregar ela no colo.”

Pela família e ciências

Com sua melhora, decidiu que estava pronto para começar a atender aos seus pacientes. Há 8 meses prescrevendo Cannabis medicinal, trata principalmente casos de dor crônica e ansiedade.

“Hoje, na minha família, tenho 15 pessoas fazendo o uso já. Meu pai, minha mãe, esposa, duas tias. É uma experiência sensacional. Não existe outra medicação que tenha demonstrado tamanha eficácia.”

Diante das evidências, agora Nora busca contribuir também com a ciência. Quando ainda estava iniciando os estudos sobre a Cannabis, passou a se aproximar de médicos e pesquisadores.

“Existe todo um ecossistema relacionado ao tema. Descobri que o grupo que mais pesquisa Cannabis no mundo é a USP de Ribeirão Preto. “Mandei um e-mail para o professor Zuardi  e ele me mandou um translacional com um resumo de praticamente tudo que o grupo estudou.”

“Um dos caras mais citados no mundo tirou tempo para falar comigo e foi quando eu decidi que era isso que iria fazer.”

Estudo de caso

Com um pouco mais de experiência, busca retribuir com a publicação de um estudo de caso sobre uma paciente fumante, com asma, ansiedade e uso crônico de Cannabis.

“Ela tem 23 anos e desde os 13 ela faz uso. Assim como uma pessoa pode se viciar em baralho, ela se viciou em Cannabis e estava fazendo tanto uso que não estava mais conseguindo ter vida social.”

“Eu vou tratar essa dependência química no que eu vou chamar agora de maconha e vou tratar com o CBD. Trabalhando a dependência e a ansiedade com o CBD, vai resolver quase tudo. A enxaqueca, a asma, a dermatite tópica, que a pessoa ansiosa começa a coçar e piora.”

“Eu vou contribuir cientificamente. Vou publicar esse e vai ajudar em estudos maiores. Assim, quando alguém chegar e falar que não tem evidência, vou poder dizer, como não tem? Eu já publiquei.”

“Quer que eu prescreva?” escoliose

Seu objetivo é ajudar na aceitação pelos médicos mais resistentes, sem a necessidade de argumentar tanto. “Eu estou buscando evoluir a ponto de não discutir mais com as pessoas.”

“Para quem ainda é contra, eu só falo para experimentar. Começa a tomar porque é mais fácil que eu lançar uma argumentação. Quer que eu prescreva para ti?”

“A Cannabis medicinal não causa danos, então dá para experimentar e assim o médico vai entender. Tenho certeza que vai passar a dormir melhor, não vai ter mais ataques de agressividade e a qualidade de vida vai mudar muito, não tenho dúvidas.”

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